Numa alusão à devoção pela imagem do Santo Cristo dos Milagres, D. Serafim Ferreira e Silva, bispo de Leiria-Fátima, confessou-se “impressionado com a religiosidade sincera” dos açorianos. Este ano, o prelado de Leiria-Fátima presidiu às festas que mobilizam os açorianos dos quatro cantos do mundo. Na homilia da missa das Festas do Santo Cristo, no Convento da Esperança, em Ponta Delgada, D. Serafim Ferreira e Silva disse “agradecer” ao povo dos Açores “a força da fé” que permite “fazer ainda mais sacerdócio”. O Santo Cristo, realçou, ajuda a enfrentar todas as barreiras, dificuldades e tentações. Uma festa que teve o seu início a 30 de Abril e prolongou-se até 2 de Maio. Para além daqueles que vivem na Ilha, a “grande festa dos açorianos” acolheu também “muitos milhares de açorianos a viver noutros pontos do planeta” – disse à Agência ECCLESIA o Pe. João Maria Brum, Ouvidor de Ponta Delgada. Com a presença do prelado de Leiria fez-se a “ligação profunda e prolongada” de dois locais que João Paulo II visitou em Portugal, os santuário de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres – sublinha Mons. Agostinho Tavares, reitor do santuário da Esperança. João Paulo II, falecido dia 2 de Abril, foi o único Papa a visitar os Açores, em Maio de 1991. Esteve na Ilhas Terceira e S. Miguel e rezou junto da imagem de Santo Cristo na cidade de Ponta Delgada. No Convento da Caloura, em Água de Pau, começa a história do culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em S. Miguel. Reza a tradição que foi neste lugar que se erigiu o primeiro Convento de Religiosas nesta Ilha. Com o passar dos anos, nota-se cada “vez mais gente na Festa do Senhor Santo Cristo”. Um acontecimento de “extrema importância” para os açorianos onde – realça o Pe. João Maria Brum – as pessoas marcam “as suas férias de acordo com a data da festa do Senhor Santo Cristo”. Férias que se prolongam e “abrangem também as festas do Espírito Santo (15 dias depois da Festa de Santo Cristo)”. As festas do Santo Cristo foram introduzidas por madre Teresa d’ Anunciada e têm por referência a imagem do “Ecce Homo”, oferecida às freiras clarissas pelo papa Paulo III. À imagem são atribuídos poderes milagrosos e a procissão, que percorreu as ruas da cidade, dia 1 de Maio, desde 1700, constituiu um dos pontos altos das festividades. No dia anterior à procissão, centenas de devotos do Santo Cristo dos Milagres percorreram de joelhos o empedrado do campo de S. Francisco para pagar as suas promessas. Apesar do tempo instável, com vento e chuva, entre algumas abertas, os milhares de devotos seguiram, com olhares emocionados, o busto do “Ecce Homo”, muitos com molhos de velas grandes (círios) às costas e alguns com crianças, em “promessa” por graças recebidas ou em prece para situações difíceis. Transportada num andor decorado com flores, a imagem do Santo Cristo foi saudada por uma guarda de honra do Exército e com salvas de tiros de um navio da Armada atracado no porto local, sendo ainda sobrevoada por um avião da Força Aérea. Também um grupo de dez romeiros “prestou homenagem” ao Santo Cristo, trajados de acordo com o que se verifica nas romarias quaresmais, com lenços, bordões e xailes, com os quais cobriram o chão para a passagem da imagem. A Imagem do Santo Cristo permanece no Convento durante todo o ano, só sai à rua no quinto fim de semana após a Páscoa.