A religiosidade popular na Quaresma lisboeta

Tradições quaresmais a preservar “As procissões são a forma mais evidente da religiosidade popular” vivida na cidade de Lisboa. Tradições que a capital guardou mas que “vai sendo enriquecidas com as experiências vindas de outras localidades” – disse à Agência ECCLESIA Jorge Teles, professor de História de Arte, que proferiu uma conferência no Círculo de Espiritualidade e Cultura (CEC) sobre “Religiosidade popular na Quaresma Lisboeta”. Com o tempo, as alterações são frequentes devido às migrações internas e também porque “não há nada que permaneça estático”. Tudo o que o Homem faz é “sujeito a uma aculturação permanente” – sublinhou. Para além das procissões, Jorge Teles acentuou que em Lisboa “há devoções tipicamente populares” mas o sentido de Quaresma “aligeirou-se”. Este tempo litúrgico tornou-se “mais discreto” e, actualmente, “fala-se mais em Tríduo Pascal do que Semana Santa”. Depois de fazer um levantamento histórico e investigar sobre a religiosidade popular vivida em Lisboa, Jorge Teles publicou um livro, “A Paixão de Cristo na devoção popular lisboeta”, onde concluiu que “há muitas tradições” apesar “de não haver a continuidade e dinâmica desejável”. Para este docente de História de Arte, cada paróquia “vive muito fechada e não tem consciência do global”. E adianta: “não há a noção da Lisboa plural em que cada cristão gostaria de partilhar as manifestações das outras freguesias”. Umas procissões recebem influência das “irmandades históricas” e outras têm uma “estrutura eminentemente paroquial” por isso “não podemos dizer que existem procissões mais imponentes” – avançou Jorge Teles. Entre aquelas de influência de irmandades histórica “temos a Procissão dos Passos, na Graça”. “Incontestavelmente a mais famosa”. Para este ano, Jorge Teles disse que a paróquia de Santa Cruz do Castelo está a preparar com muito empenho “a procissão do Senhor da Boa Morte (Sexta-feira Santa)”. Uma manifestação religiosa onde se mostra o “Auto da Paixão” e revive-se o “teatro sagrado medieval”. As procissões da Quaresma aparecem numa época histórica específica com uma “espiritualidade muito singular”. Nessa medida, estes actos foram “moldados ao sabor” de diversas ordens religiosas. Foram elas que “deram o corpo a estas manifestações religiosas”. Actualmente – acentua Jorge Teles – “não há o perigo delas desaparecerem com o tempo” mas depende “muitos dos padres”. Esta vivência religiosa deve “ter uma estética específica até em termos musicais” e hoje em dia são acompanhadas por “cânticos à Senhora de Fátima”. Algo que “não deve acontecer” mas as pessoas “não podem dar aquilo que não sabem” – salienta. Em relação ao futuro, Jorge Teles refere que as procissões seriam “valorizadas” se fossem realizadas à noite. Como actos “não festivos” mas que projectam a pessoa para “uma reflexão”, o lado nocturno “ajuda à interioridade” – finaliza.

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