A prudência

António Estanqueiro, Professor e Formador

Agência Ecclesia/MC

Na sociedade atual, em que a pressa e a impaciência nos roubam tempo para refletir e tomar decisões ponderadas, torna-se indispensável cultivar a virtude da prudência. Ela é sabedoria prática que nos permite distinguir o bem do mal e escolher os meios adequados para agir corretamente.

Valorizada por grandes filósofos, por diferentes culturas e, em especial, pela tradição cristã, a prudência funciona como guia das outras virtudes humanas. Indica o bem a fazer e o mal a evitar em cada situação concreta.

Exige-se prudência aos líderes políticos, cuja responsabilidade é  colocar o bem comum acima dos interesses particulares. Mas esta virtude faz falta a todas as pessoas que desejam viver de forma equilibrada na relação com os outros e com a natureza.

 

Refletir antes de decidir

O primeiro passo para cultivar a prudência é refletir sobre as diversas situações da vida pessoal e social que exigem de nós uma tomada de decisão. Refletir antes de decidir, eis o segredo!

Uma boa reflexão pressupõe o conhecimento profundo da realidade. E pede a análise cuidadosa das experiências vividas no passado. Umas trazem satisfação e confirmam que agimos bem; outras são avisos para não repetirmos os mesmos erros.

Também é sensato pensar no futuro, embora não seja possível prever todas as consequências do agir humano. Muito do que acontece é imprevisível e incontrolável, não depende da nossa vontade. Mas o que aconteceu no passado provavelmente acontecerá no futuro, se fizermos as mesmas coisas, do mesmo modo, em situações semelhantes.

Como seres racionais e livres, devemos ponderar ganhos e perdas, benefícios e riscos das nossas decisões, considerando as circunstâncias. Somos líderes de nós mesmos, protagonistas do nosso destino, responsáveis pelas nossas escolhas. Refletindo com base em princípios e valores, aprendemos a orientar a nossa vida.

Em situações difíceis ou complexas, não basta a reflexão individual para tomar uma decisão com lucidez e bom senso. Há aspetos da realidade que não conhecemos. Nesses casos, o caminho certo é pedir conselhos a pessoas próximas (familiares, amigos, educadores ou líderes) que saibam e possam ajudar-nos a fazer escolhas acertadas. Aprendemos uns com os outros. Juntos, vemos melhor.

Sinal de maturidade humana, a verdadeira prudência conquista-se com humildade. Sendo humildes, reconhecemos as nossas capacidades e limitações e valorizamos o saber e a experiência dos outros.

Quando, por excesso de orgulho, nos julgamos superiores e não aceitamos conselhos ou sugestões de pessoas experientes e sensatas, corremos o risco de agir com imprudência e cometer erros evitáveis, de que nos arrependeremos no futuro.

 

Tomar a decisão certa

Depois da reflexão e dos eventuais conselhos recebidos, chega o momento de tomar decisões, de acordo com aquilo que a nossa consciência moral julga mais correto. Há um tempo para ponderar e um tempo para decidir. A virtude da prudência é a arte de tomar a decisão certa, na hora certa, visando uma digna e feliz.

Para prevenir decisões precipitadas, precisamos de fazer uma gestão racional do tempo, dando prioridade ao que é mais importante. Não faz sentido deixar-se dominar pelo ritmo desenfreado da vida e tratar tudo como se fosse urgente. Com calma e silêncio, libertos dos ecrãs, decidimos melhor.

Contra a precipitação, precisamos também de saber gerir as emoções negativas, dando particular atenção ao medo e à raiva. É necessário autocontrolo, capacidade de temperar as emoções com a razão. As decisões certas não são baseadas na impulsividade, mas na ponderação.

O que aconteceria se alguém decidisse fazer ou dizer tudo o que lhe apetece, sem pensar nas possíveis consequências para si mesmo e para os outros? Esta pergunta serve para a reflexão individual. Serve igualmente para o diálogo entre pais e filhos ou entre professores e alunos. Quando um jovem aprende a fazer escolhas pensadas, torna-se mais capaz de adiar a satisfação imediata dos impulsos, o que traz benefícios para toda a sua vida.

É um erro cair na precipitação. O erro contrário está na indecisão, por cautela excessiva ou medo de arriscar. Nas encruzilhadas da vida, são humanas as dúvidas e hesitações. Mas as pessoas prudentes, sabendo o que é correto, tomam decisões com coragem e com sentido de responsabilidade.

António Estanqueiro
Professor e Formador

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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