Padre Sobrinho Alves, Diocese de Bragança-Miranda
Armando Matteo,
professor de teologia
na Pontifícia Universidade Urbaniana (Roma)
chamou à geração da década de oitenta (1980)
a primeira geração incrédula,
em livro traduzido agora em língua portuguesa. Como assim (?!)
uma geração tão perto do Concílio Vaticano II, onde se abriu o diálogo
com a modernidade, se esqueceram os anátemas do Vaticano I (1870),
se deu um “tu-a-tu” entre a razão e a fé,
se deixaram os dogmatismos cegos e sem alma, e se começou a usar
uma gramática cristã da existência!
Não parece um tanto ou quanto paradoxal?
Matteo põe o problema na ordem cultural
e que seria o resultado da profunda mutação do Ocidente
iniciada na segunda metade de 1800 com Marx, Freud e Nietzsche.
É a celebre questão
da “eternidade” e da “finitude”
que culmina na “autonomia do sujeito”
segundo as profecias de Nietzsche (1968).
Assim, a fé não será mais uma “opção hereditária”
mas uma decisão preparada e promovida.
Mas a cultura do bem-estar dessa época
fez brilhar apenas o sucesso, a qualquer preço.
Ficaram assim para trás os “sem condições”,
a palavra de Deus ficou congelada nos meandros das lutas de poder, a igreja continuou
a querer alcançar resultados novos mas sempre com os mesmos métodos.
Alguém chamou a isto de loucura pastoral. Que é:
Andarmos sempre à procura de novas fórmulas
esquecendo o testemunho de vida. Não foi entendido o “aggiornamento” do Concílio Vaticano II.
Ficou-se apenas na superfície, na mediocridade dos conceitos. Passou-se o tempo a “discutir” em vez de “construir”.
E ainda hoje se continua a gastar tempo se a missa pode ser em latim
ou em dialecto amazónico. Que pobreza de mentalidade!
Houve tantas propostas e versões planificadoras,
mas quase sempre desenraizadas
do “quotidiano” das pessoas.
Sempre à espreita da “novidade”, do “diferente”
acabaram por perder a raiz e a consistência. Melhor:
a coerência.
Se o Cristianismo
não conduz os homens à felicidade para que serve?
Esta geração chamada “incrédula”
não se coloca contra Deus nem contra a Igreja
mas é uma geração que está a aprender a viver sem Deus, sem Igreja,
sublinha Armando Matteo.
Conseguirá?
Duvido muito.
A cultura europeia
demonstra sinais de grande indiferença com o Cristianismo;
bem ao contrário,
outros continentes (África, Asia, América Latina) traduzem uma frescura evangelizadora
que dá sentido à vida e felicidade à existência.
Não serão eles e elas
os “novos colonizadores da fé”,
agora sem outras ambições que não sejam levar o Evangelho a toda a criatura?
Sem bolsa nem alforge, sem sandálias,
apenas com a força do espírito que gera amor? Entre nós fez-se (1974) a descolonização, quando a Igreja aconselhava à transcolonização. São coisas diferentes e que teriam poupado tanto sangue, tanto ódio e tanta morte.
Resta agora,
que essas novas comunidades cristãs e católicas, transponham para a Europa “cansada” e “moribunda”, a chama apaixonante de Cristo
Vivo e Ressuscitado… Precisam de ser acolhidas, não apenas para o trabalho,
(às vezes ingrato e despersonalizante), mas para a Missão.
A diocese e a cidade de Bragança, são já,
neste momento,
um exemplo promissor.
Este não é o tempo de nos preocuparmos
com o futuro da Igreja,
mas sim de o construirmos….