Mensagem do Bispo de Santarém para o Dia Mundial da Paz 2007 Ao começar um novo ano desejo enviar a todos os diocesanos os meus votos sinceros de paz e de felicidade. Nesta quadra do Natal e do Ano Novo, a esperança e o sonho de um futuro melhor tornam-se mais conscientes e manifestam-se com mais força. O sonho comanda a vida, canta um poeta e sentimos todos nós. Quando sonhamos temos projectos e estímulos para viver com gosto e empenho. Se deixarmos de sonhar vegetamos, arrastamo-nos pela passagem do tempo e perdemos o encanto pela vida e as forças para lutar por melhores condições. Nesta mensagem do Ano Novo desejava partilhar a convicção de que, se todos nos esforçarmos por tornar realidade os sonhos que expressamos no Ano Novo, o mundo avança certamente na paz e na fraternidade, na justiça e na liberdade. Ou seja: devemos associar aos votos o empenho em contribuir para a sua realização. Entre os votos que exprimem o sonho do Ano Novo sobressai a preocupação pela paz. A paz que todos desejamos é entendida num sentido rico: Não é apenas a paz enquanto rejeição da guerra mas numa perspectiva positiva e ampla de construção da família universal dos povos, assente no conhecimento e no diálogo mútuos, no cordial relacionamento das pessoas, na tolerância e na ajuda recíprocas. Que este desejo nos incentive ao acolhimento mais aberto e à relação mais afável com todos os que nos rodeiam. Outra expressão característica da passagem de ano é a festa como manifestação da alegria por mais um ano vivido e expectativa de viver outro. A vida merece ser celebrada com festas. É o maior dom que nos é dado, é o mistério que sempre nos maravilha. As festas deveriam traduzir o convívio feliz e o relacionamento amigo entre as pessoas. A celebração da vida abre-nos à beleza e à grandeza da pessoa humana, à responsabilidade da existência, à necessidade de sentido que proporcione rumo e valores. Se a vida é preenchida por banalidades e construída sobre a preocupação superficial pela fachada exterior de cada um (o que veste, o que compra, o que mostra), como se observa frequentemente, então há muito pouco para celebrar. Constitui também uma preocupação típica do começo do novo ano o balanço do ano que findou e as previsões para o futuro. Podemos encontrar aqui outra característica da pessoa humana: o desejo e a necessidade de aprender com a vida, de fazer mais e melhor cada ano que passa. Que a divisa de São Francisco Xavier “mais, mais, mais” seja para nós um convite a progredirmos cada ano que passa. Este ano o Papa Bento XVI lembra-nos uma condição muito actual e oportuna para alcançar a paz: “o respeito da vida e da liberdade religiosa de cada um. O respeito do direito à vida em todas as suas fases estabelece um ponto firme de importância decisiva: a vida é um dom de que o sujeito não tem completa disponibilidade. Igualmente, a afirmação do direito à liberdade religiosa põe o ser humano em relação com um Princípio transcendente que o furta ao arbítrio do homem. O direito à vida e à livre expressão da própria fé em Deus não está nas mãos do homem (Mensagem de Ano Novo 2007, 4). Para nós portugueses vem muito a propósito a consideração destes pilares da paz: o respeito pela vida e pela liberdade religiosa. Que o debate público sobre a vida das crianças geradas no seio materno, que entre nós agora se realiza, nos esclareça sobre o encanto do dom da vida que todos devemos acolher, proteger e criar condições para que possa nascer e crescer feliz. A vida e a liberdade religiosa têm uma dimensão sagrada que todos devemos defender com empenho. Feliz Ano Novo 2007. Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém