Luís Serpa, Diocese de Lisboa
A Páscoa está à porta! «Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo» (Ap 3,20). Como diz S. Paulo: «Purificai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós» (1Cor 5,7). É em Cristo onde podemos experimentar a passagem da escravidão dos nossos pecados à gloriosa liberdade dos Filhos de Deus.
Cristo, nossa Páscoa, está à porta e bate, e não vai entrar sem o nosso consentimento. Em que porta está a bater? Cristo bate na porta do nosso pecado e do nosso sofrimento, é por essa porta que deseja entrar. Foi para isto que se deixou crucificar e ressuscitou. «Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade, anulando em seu corpo a Lei dos mandamentos expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos dois, um novo homem, fazendo a paz» (Ef 2,14-15), não quer dizer também «Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, pois que Ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injusto» (Mt 5, 43-45)? Não é pelo esforço humano que os frutos da ressurreição se manifestam e se realizam, mas é abrindo a porta. Abrir a porta significa deixar que Jesus, que é a nossa Páscoa, transforme-nos à sua imagem e semelhança. Neste tempo que se aproxima e perante tantos desafios e adversidades é necessário anunciar que Cristo ressuscitado encontra-se à porta da nossa vida, esperando que nós abramos e que possamos cear com Ele, isto é, fazer Eucaristia, dar graças, bendizer a Deus por toda a história que tem feito connosco e por fim a vida eterna.
Contudo, deixar a Páscoa entrar tem outro ponto fundamental, refiro-me à morte, Cristo salvou-nos da nossa morte, que morte? «Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado está na Lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo» (1Cor 15, 55-57). Portanto, a morte é o que advém do pecado, a morte é o que nos faz separar do outro, a morte é o que nos faz viver para nós mesmos. É por isto que Jesus deixou-se crucificar e morrer, para nos livrar da morte, para nos livrar da consequência profunda do pecado. A Páscoa está à porta! E bate!
(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)