Rui Faia vai ser ordenado padre com 49 anos na arquidiocese de Évora. Chega a esta etapa da sua vida sem «utopias ou ilusões», fruto de um caminho de amadurecimento onde afirma que mesmo nos tempos de afastamento das práticas sacramentais, sentiu sempre a presença de Deus.
De uma catequese «inquieta» à participação nas JMJ de Paris, em 1997, e em Roma, em 2000, o questionamento interior que sentiu, levou-o a entrar no Seminário. Foi uma curta experiência, que só anos mais tarde conseguiu ler e perceber a fundo as motivações para entrar e o porquê da saída.
Muito sereno perante a pergunta «Só agora?», Rui Faia está certo que a Igreja deveria olhar com mais atenção para as vocações tardias e acompanhar «tantos corações inquietos» que se questionam.
«Chego com o coração apaziguado. Há um caminho que eu percorri, que percorro, porque não termina – os desafios superados até aqui ganham na próxima etapa novos caminhos e dores. Há uma confiança, uma maturidade, não há ilusões ou utopias. Só temos uma vida e é importante no tempo que temos descobrir o seu sentido. É uma pena se chegarmos ao final da vida e olharmos para trás sem ter tido a coragem para fazer diferente»
«O tempo não é nosso é de Deus, nunca é tarde. Estamos a assistir hoje a várias realidades que mostram recomeços, não só na Igreja, e eu não os diria tardios. A vocação tardia acontece pela nossa distração e porque Deus não se impõe. Cada vez mais temos de parar, escutar e perceber que a pergunta que nos é colocada. A Igreja deveria atender aos corações irrequietos. Deveríamos olhar para as pessoas mais velhas que se interrogam, e não apenas sobre a vida religiosa. Sinto que há uma procura incessante, sem esquecer que há um caminho longo a fazer e requer paciência».
«O meu regresso à Igreja acontece quando na minha paróquia chega um padre novo e que começa a dinamizar a paróquia, um pouco antes d e1997. Este fulgor novo que atraiu muitos jovens fez com que muitos de nós nos aproximássemos. Uma da primeira atividades foi o desafio de participar na JMJ, em Paris em 1997. A vivência de uma igreja mais ampla fez-me sair do espaço paroquial, que em si era já uma redescoberta, que trouxe muitos à igreja, mas o ir a paris, ver jovens de todo o mundo, estar perto de São João Paulo II, fez-me vir com o coração cheio.»
«Os verdadeiros momentos em que pude escutar Deus, foi quando tinha de ir trabalhar para Lisboa; chegava muito cedo, e enquanto esperava o autocarro, ficava dentro da igreja de Moscavide. Eram 20 minutos em que ali estava, numa experiência de silêncio, e entrava num diálogo mais íntimo. Esses momentos começaram a mexer comigo, percebendo que Deus me questionava».