A nova cruz alta de Fátima

Decido falar da nova cruz alta do Santuário de Fátima… Já a podemos admirar ao lado da igreja da Santíssima Trindade. A que lá estava desde 1951 foi oferecida, e bem, para o Santuário de Cristo Rei. Não se trata, pois, de regresso da mesma cruz. Mas é o mesmo sinal, agora com a figura do Redentor, que o artista Robert Schad esboçou e os artistas da minha terra natal esculpiram. Esta cruz não ficou “fora de portas” (cf. Hb. 13,12). É a chave que abre a entrada nova Jerusalém. É a árvore que comunica vida às azinheiras e aos arbustos. É o ponto de referência para rodas as celebrações no altar do mundo. O Santuário de Fátima forma um conjunto harmonioso de elementos novos e de sempre. Como é para todas as gentes, qualquer que seja a sua cultura ou sensibilidade, aposta mais no tradicional, em boa conjugação com a actualidade e a inspiração criativa. Haverá leituras desiguais, pois que os olhos de cada um são janelas de moradias próprias. Todas as visões e interpretações são legítimas. E confirma-se que o vulgo se conforma ou habitua e apreende melhor o significado, como aconteceu com o presépio e as imagens dos pastorinhos. Ouvi comentários desfavoráveis à nova cruz, com a figura de Cristo. Escrevi, de propósito (Síntese 187), uma reflexão sobre as sete maravilhas de Fátima e não deixei de inserir na lista a cruz alta. Todo o Santuário de Fátima (com os dois pólos da Cova da Iria e dos Valinhos) é rico em sinais, que expressam a Mensagem e falam mais alto que os discursos. Sinais de todos os tempos. Do passado histórico, como o “bailado do sol”, do presente contínuo, como o tramo do muro de Berlim, e da simbologia da vida humana, como é o sinal da cruz… Não se trata de um símbolo exclusivo do cristianismo. Os cristãos benzem-se, organizam procissões com a cruz alçada, recebem os sacramentos em forma de cruz… e até na 6ªfeira Santa”adoram” Aquele que foi pregado na Cruz e ressuscitou. Não é nosso monopólio a cruz. Todas as civilizações descobriram e vivem a simbologia geométrica de duas linhas que se cruzam e apontam quatro partes que formam a totalidade do espaço geográfico e as estações lunares. É óbvio que para os cristãos a cruz (esteja ou não na casa ou na escola) tem um significado especial. S. Cirilo de Jerusalém dizia: “Deus abriu as suas mãos sobre a cruz para abraçar todo o mundo”. “Tomar a sua cruz” (Mt 10,38) é assumir a vida na sua integridade. Pode parecer “loucura para os gentios” (cf. 1 Cor. 18,23) mas é sabedoria de libertação salvadora. Com ou sem a figura de Cristo (em forma anatómica de sofrimento ou de ressurreição), a cruz do cristianismo é farol (como a serpente do deserto) que chama e guia todos os peregrinos da vida. Assim prometeu Cristo: “Quando for atraído da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). E a Mãe do Salvador prometeu “Por fim o meu coração imaculado triunfará”. É toda esta riqueza simbólica que se ergue no recinto da Cova da Iria. Os peregrinos habituaram-se a convergir para a cruz alta e daí irradiar com mais convicção e força para toda a parte, com o sinal mais, na linha de Deus. E a mesma cruz é também um grande sinal de mais Fátima para todo o mundo e todos os escaninhos de Vida. D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo emérito de Leiria-Fátima Foto: Santuário de Fátima

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