Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos
Foi realizado há dias em Sacavém um Concerto de Solidariedade com as trabalhadoras da ex-Triumph, onde participou uma forte onda de artistas individuais e grupos, mais e menos conhecidos. Por compromissos já assumidos não nos foi possível participar nesse Concerto, no entanto, pudemos observar diretamente no local, à porta da fábrica, o quanto foi dura a luta destas mulheres, em cada dia, em cada noite fria de janeiro, uma luta que foi dura e longa. Também no mês de fevereiro, repetiu-se a mesma cena em Famalicão com a fábrica da Ricon que viram a sua fábrica fechar as portas de um dia para o outro, assim, apenas nestes dois meses, são já cerca de 1500 trabalhadores maioritariamente mulheres afetadas pelo desemprego, situação que deixa as suas vidas desfeitas.
Para além dos baixos salários, as mulheres são mais sacrificadas nas tarefas domésticas, na conciliação da vida profissional e familiar, na gestão da organização doméstica e educação dos filhos. No acesso ao trabalho ou mesmo prosseguir na carreira, constata-se com frequência mulheres penalizadas pela maternidade; se está grávida ou pensa vir a engravidar é uma condicionante da admissão no emprego ou de prosseguir na carreira profissional. A acrescentar, o aproveitamento que se faz, cada vez mais artimanhoso e sofisticado, das mulheres vítimas do tráfico humano, da violência doméstica, maus tratos, assédio moral e pressão psicológica.
Segundo um inquérito feito pela UMAR a mais de 4000 jovens na média de idades dos 15 anos, a agressão no namoro, está a aumentar nas camadas jovens, sendo preocupante a violência sexual mais acentuada nos rapazes. Este comportamento é deveras inquietante e mostra-nos a permanência da cultura patriarcal, machista/sexista, presente na sociedade.
Dá para questionar, qual tem sido o lugar que tem tido a educação para a cidadania nas nossas escolas e nas nossas famílias. Se as crianças não crescem com valores, noções de respeito e de igualdade, crescem na violência e vinga a lei do mais forte. Que bom seria que se valorizasse a aprendizagem no seu todo, valorizar-se e atribuir-se a mesma importância a aprender matemática, como aprender a educação para a cidadania, viver e construir-se em sociedade.
É de considerar que as famílias têm sofrido perdas importantes, com a nova organização do trabalho, omnipresente, a invadir o tempo de descanso. Hoje parece que a pessoa vive só para o trabalho e em função do trabalho. Os espaços das famílias precisam de ser mais valorizados e protegidos pois é nos tempos em família que se conversa, convive, que se fomenta a confiança e que se aprendem os valores básicos para se viver em harmonia. A família é pois o lugar privilegiado para a vivência da comunhão e a entreajuda.
Por outro lado, tem vindo a público, que o nível de formação académica nas mulheres aumentou. A percentagem de mulheres com formação superior, equiparada com a dos homens, tem vindo a apresentar-se mais elevada, mesmo assim, o número de mulheres a ocupar cargos na politica, posições de chefias nas empresas e bancos, são ainda em minoria.
Sem ignorar os avanços de desenvolvimento e criação da riqueza que por todo o mundo se tem verificado no decorrer da história, mas por tudo o que ainda falta melhorar, faz todo o sentido continuar a celebrar o dia internacional das mulheres, pois há ainda conquistas a fazer, situações a melhorar.
Na visita ao Perú, o Papa Francisco recordou e elogiou as mães e avós, chamando-as “verdadeira força motriz da vida das famílias” e convidou todos os fiéis a lutar contra a praga do “feminicídio”, o homicídio de mulheres, no país. E ainda recentemente, sobre as mulheres, o Papa afirmava, “a mulher traz a harmonia ao mundo, ensina-nos a amar com ternura.”
Por tudo o que ainda é preciso melhorar, continuemos a celebrar o dia 8 de março, o dia internacional das mulheres.