A modernidade reclama e a imaginação desafia

Manuel de Lemos, Presidente da União das Misericórdias Portuguesas

Sou dos que acreditam que a confiança é fundamental para o progresso e desenvolvimento das nações e das instituições, desde logo porque corresponde a um sentimento profundo de duplo sentido; quer dos que confiam, quer dos que são objeto dessa confiança.

Vivemos dias difíceis, em que os valores que dominaram e foram o motor do desenvolvimento da Europa ao longo dos séculos estão postergados e submersos numa cascata confusa de interesses e de poderes, que utilizam os recursos financeiros como arma e alavanca.

Não sei, não posso saber, durante quanto tempo e para onde nos conduzirá este percurso; mas é inquestionável que Portugal, mais opção, menos opção, será sempre um elemento frágil deste puzzle.

De facto, não havendo recursos e proliferando as necessidades, teremos todos não só que ser realistas, como também eficazes e imaginativos. Porque todos sabemos já que se não existisse setor solidário em Portugal, o problema do Governo não seria o de reduzir a despesa pública em 4,5 mil milhões de euros, mas sim certamente em mais alguns milhares de milhões de euros.

É evidente que a principal função do Estado Social, no futuro próximo, será o de garantir um conjunto de respostas que a dignidade humana exige, a modernidade reclama e a imaginação desafia, e que para nós, católicos, se pode designar de uma forma soberba na expressão de João Paulo II: “A nova fantasia da caridade!”

A devolução dos hospitais às Misericórdias, as experiências-piloto na área do Alzheimer ou do acolhimento de idosos, a rede de cantinas sociais, os cuidados continuados para crianças, o esforço no sentido da abertura de todas as unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados em fase de conclusão ou já prontas, a continuação da proteção à deficiência e às crianças em risco, a integração das amas nas instituições, são algumas das manifestações dessa imaginação, em que todos temos de dar as mãos, em nome dessa “fantasia” e da nossa missão em cooperar com o Estado, em nome e por causa das pessoas.

Chamo a atenção para a circunstância de ter utilizado a palavra “garantir” e não a palavra “prestar”. O Estado Social do futuro próximo pode e deve ser um Estado que garanta as respostas às necessidades dos cidadãos, como regulador para todos, como pagador em nome da solidariedade e da coesão social para os que precisem e só, residualmente, como prestador.

Parece-me evidente que um novo olhar sobre o Estado Social implica um novo olhar sobre o fenómeno social do envelhecimento. Basta olhar para a inquestionável verdade da demografia, associando-lhe as doenças crónicas (70% do orçamento do Ministério da Saúde), as demências (153 mil pessoas em 2010), a solidão, a contínua desestruturação das famílias até, imagine-se, invocando a competitividade, o aumento da incidência da pobreza sobre os mais velhos e dependentes (cerca de 65% dos nossos pobres são idosos), para percebermos que, mais dia, menos dia, o problema vai assumir uma dimensão que pode ser incontrolável do ponto de vista da dignidade humana.

Só uma política humanista de verdadeiro cuidado com os nossos idosos (que podem ser fator de despesa, mas são os nossos pais, os nossos avós, os nossos amigos e um dia nós próprios) evitará que os hospitais públicos, os lares, as unidades de cuidados continuados ou os centros de dia possam correr o risco de se transformarem de lugares em “deslugares”, para utilizar a pertinente expressão do padre José Nuno Silva.

É por isso que a reflexão sobre o Estado Social do futuro será pois, também, necessariamente uma reflexão sobre a nossa sustentabilidade, a nossa missão e o próprio projeto europeu.

É evidente que não tenho ilusões que, pelas mais variadas razões, muitos vão tentar tirar ou colocar este debate da ordem do dia, mas nós – Misericórdias e setor solidário – é que não podemos ir ao sabor desses interesses e marés, porque o que está verdadeiramente em causa é a nossa sustentabilidade e a nossa missão de ajudar os que mais precisam!

Se querem esse debate, se querem assumir a responsabilidade de reformar o Estado (por mim acho muito bem!) então vamos lá, mas até ao fim, seriamente, para que Portugal seja finalmente aquele País onde valha a pena viver e onde, como disse, Sá Carneiro “os velhos tenham presente e os jovens futuro”.

Manuel de Lemos,
Presidente da União das Misericórdias Portuguesas

Sou dos que acreditam que a confiança é fundamental para o progresso e desenvolvimento das nações e das instituições, desde logo porque corresponde a um sentimento profundo de duplo sentido; quer dos que confiam, quer dos que são objeto dessa confiança.
Vivemos dias difíceis, em que os valores que dominaram e foram o motor do desenvolvimento da Europa ao longo dos séculos estão postergados e submersos numa cascata confusa de interesses e de poderes, que utilizam os recursos financeiros como arma e alavanca.
Não sei, não posso saber, durante quanto tempo e para onde nos conduzirá este percurso; mas é inquestionável que Portugal, mais opção, menos opção, será sempre um elemento frágil deste puzzle.     
De facto, não havendo recursos e proliferando as necessidades, teremos todos não só que ser realistas, como também eficazes e imaginativos. Porque todos sabemos já que se não existisse setor solidário em Portugal, o problema do Governo não seria o de reduzir a despesa pública em 4,5 mil milhões de euros, mas sim certamente em mais alguns milhares de milhões de euros.
É evidente que a principal função do Estado Social, no futuro próximo, será o de garantir um conjunto de respostas que a dignidade humana exige, a modernidade reclama e a imaginação desafia, e que para nós, católicos, se pode designar de uma forma soberba na expressão de João Paulo II: “A nova fantasia da caridade!”
A devolução dos hospitais às Misericórdias, as experiências-piloto na área do Alzheimer ou do acolhimento de idosos, a rede de cantinas sociais, os cuidados continuados para crianças, o esforço no sentido da abertura de todas as unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integral em fase de conclusão ou já prontas, a continuação da proteção à deficiência e às crianças em risco, a integração das amas nas instituições, são algumas das manifestações dessa imaginação, em que todos temos de dar as mãos, em nome dessa “fantasia” e da nossa missão em cooperar com o Estado, em nome e por causa das pessoas.
Chamo a atenção para a circunstância de ter utilizado a palavra “garantir” e não a palavra “prestar”. O Estado Social do futuro próximo pode e deve ser um Estado que garanta as respostas às necessidades dos cidadãos, como regulador para todos, como pagador em nome da solidariedade e da coesão social para os que precisem e só, residualmente, como prestador.
Parece-me evidente que um novo olhar sobre o Estado Social implica um novo olhar sobre o fenómeno social do envelhecimento. Basta olhar para a inquestionável verdade da demografia, associando-lhe as doenças crónicas (70% do orçamento do Ministério da Saúde), as demências (153 mil pessoas em 2010), a solidão, a contínua desestruturação das famílias até, imagine-se, invocando a competitividade, o aumento da incidência da pobreza sobre os mais velhos e dependentes (cerca de 65% dos nossos pobres são idosos), para percebermos que, mais dia, menos dia, o problema vai assumir uma dimensão que pode ser incontrolável do ponto de vista da dignidade humana.  
Só uma política humanista de verdadeiro cuidado com os nossos idosos (que podem ser fator de despesa, mas são os nossos pais, os nossos avós, os nossos amigos e um dia nós próprios) evitará que os hospitais públicos, os lares, as unidades de cuidados continuados ou os centros de dia possam correr o risco de se transformarem de lugares em “deslugares”, para utilizar a pertinente expressão do padre José Nuno Silva.
É por isso que a reflexão sobre o Estado Social do futuro será pois, também, necessariamente uma reflexão sobre a nossa sustentabilidade, a nossa missão e o próprio projeto europeu.
É evidente que não tenho ilusões que, pelas mais variadas razões, muitos vão tentar tirar ou colocar este debate da ordem do dia, mas nós – Misericórdias e setor solidário – é que não podemos ir ao sabor desses interesses e marés, porque o que está verdadeiramente em causa é a nossa sustentabilidade e a nossa missão de ajudar os que mais precisam!
Se querem esse debate, se querem assumir a responsabilidade de reformar o Estado (por mim acho muito bem!) então vamos lá, mas até ao fim, seriamente, para que Portugal seja finalmente aquele País onde valha a pena viver e onde, como disse, Sá Carneiro “os velhos tenham presente e os jovens futuro”.

Manuel de Lemos,
Presidente da União
das Misericórdias Portuguesas

Sou dos que acreditam que a confiança é fundamental para o progresso e desenvolvimento das nações e das instituições, desde logo porque corresponde a um sentimento profundo de duplo sentido; quer dos que confiam, quer dos que são objeto dessa confiança.

Vivemos dias difíceis, em que os valores que dominaram e foram o motor do desenvolvimento da Europa ao longo dos séculos estão postergados e submersos numa cascata confusa de interesses e de poderes, que utilizam os recursos financeiros como arma e alavanca.

Não sei, não posso saber, durante quanto tempo e para onde nos conduzirá este percurso; mas é inquestionável que Portugal, mais opção, menos opção, será sempre um elemento frágil deste puzzle.

De facto, não havendo recursos e proliferando as necessidades, teremos todos não só que ser realistas, como também eficazes e imaginativos. Porque todos sabemos já que se não existisse setor solidário em Portugal, o problema do Governo não seria o de reduzir a despesa pública em 4,5 mil milhões de euros, mas sim certamente em mais alguns milhares de milhões de euros.

É evidente que a principal função do Estado Social, no futuro próximo, será o de garantir um conjunto de respostas que a dignidade humana exige, a modernidade reclama e a imaginação desafia, e que para nós, católicos, se pode designar de uma forma soberba na expressão de João Paulo II: “A nova fantasia da caridade!”

A devolução dos hospitais às Misericórdias, as experiências-piloto na área do Alzheimer ou do acolhimento de idosos, a rede de cantinas sociais, os cuidados continuados para crianças, o esforço no sentido da abertura de todas as unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integral em fase de conclusão ou já prontas, a continuação da proteção à deficiência e às crianças em risco, a integração das amas nas instituições, são algumas das manifestações dessa imaginação, em que todos temos de dar as mãos, em nome dessa “fantasia” e da nossa missão em cooperar com o Estado, em nome e por causa das pessoas.

Chamo a atenção para a circunstância de ter utilizado a palavra “garantir” e não a palavra “prestar”. O Estado Social do futuro próximo pode e deve ser um Estado que garanta as respostas às necessidades dos cidadãos, como regulador para todos, como pagador em nome da solidariedade e da coesão social para os que precisem e só, residualmente, como prestador.

Parece-me evidente que um novo olhar sobre o Estado Social implica um novo olhar sobre o fenómeno social do envelhecimento. Basta olhar para a inquestionável verdade da demografia, associando-lhe as doenças crónicas (70% do orçamento do Ministério da Saúde), as demências (153 mil pessoas em 2010), a solidão, a contínua desestruturação das famílias até, imagine-se, invocando a competitividade, o aumento da incidência da pobreza sobre os mais velhos e dependentes (cerca de 65% dos nossos pobres são idosos), para percebermos que, mais dia, menos dia, o problema vai assumir uma dimensão que pode ser incontrolável do ponto de vista da dignidade humana.

Só uma política humanista de verdadeiro cuidado com os nossos idosos (que podem ser fator de despesa, mas são os nossos pais, os nossos avós, os nossos amigos e um dia nós próprios) evitará que os hospitais públicos, os lares, as unidades de cuidados continuados ou os centros de dia possam correr o risco de se transformarem de lugares em “deslugares”, para utilizar a pertinente expressão do padre José Nuno Silva.

É por isso que a reflexão sobre o Estado Social do futuro será pois, também, necessariamente uma reflexão sobre a nossa sustentabilidade, a nossa missão e o próprio projeto europeu.

É evidente que não tenho ilusões que, pelas mais variadas razões, muitos vão tentar tirar ou colocar este debate da ordem do dia, mas nós – Misericórdias e setor solidário – é que não podemos ir ao sabor desses interesses e marés, porque o que está verdadeiramente em causa é a nossa sustentabilidade e a nossa missão de ajudar os que mais precisam!

Se querem esse debate, se querem assumir a responsabilidade de reformar o Estado (por mim acho muito bem!) então vamos lá, mas até ao fim, seriamente, para que Portugal seja finalmente aquele País onde valha a pena viver e onde, como disse, Sá Carneiro “os velhos tenham presente e os jovens futuro”.

 

Manuel de Lemos,

Presidente da União

das Misericórdias Portuguesas

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Agência ECCLESIA

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