A minha vida em Tuas mãos entrego, na Esperança que Tu a possas moldar

Está guardado algures no tempo, um momento que marcou o início da minha caminhada, da minha jornada rumo a Sydney… foi um momento vivido à pressa, com as ideias e as sensações todas a estalarem à minha volta. Passavam poucos minutos do meio-dia. Passavam poucos instantes de uma mini-partilha com o grupo de jovens com quem vivi a XV Jornada Mundial da Juventude, o grupo de Magos que, em lágrimas, encontraram um sentido para uma viagem longínqua mas também interior. O grupo do qual fui um dos animadores, que me proporcionou a vivência mais plena que tive até hoje de uma aventura verdadeiramente divina. Passavam breves segundos de ouvir a voz do Santo Padre a falar na minha língua, a passar a mensagem de modo tão claro… Ali, no Campo de Maria, repeti uma ousadia que tinha convictamente gritado dois anos antes: eu vou! Desse instante até aqui, parece que tudo foi um flash, e no entanto, tanto se passou. A minha vida virou-se de pernas para o ar, as minhas expectativas sobre quase tudo tombaram, a minha vivência da fé conheceu proximidades e afastamentos, a minha esperança pareceu-me, por vezes, vã. Na sede de chegar a um objectivo, mantive firme a minha promessa de ir a Sydney. Eu vou! Se calhar, passei por dificuldades que me teriam feito desistir, se fosse fácil desistir… mas eu vou! Vou, em conjunto com tantos outros jovens da diocese, com quem aprendo tanto do que é ser de Deus. Vou, levando comigo a representação de tantos jovens que, como eu, queriam ir, mas todas as dificuldades que o mundo levanta falaram mais alto. Vou, partilhando com Companheiros de Jornada, de outras jornadas, com quem faz tanto sentido caminhar em Cristo. Vou, não com a presunção de estar imbuído do Espírito Santo, mas na esperança que Ele me renove, nesta peregrinação e em tantas outras que me fazem desejar ardentemente ser Sua imagem… e só Ele sabe o quão longo é o caminho que tenho a trilhar. A partida antevê-se estranha, para mim. Não tive grande disponibilidade para os encontros de preparação, e conheço pouco o grupo com quem embarco. No entanto, desse pouco que pude “ler”, ver e aprender, somos muito mais que um conjunto de pessoas com algo em comum. Temos uma ligação sempre mais forte e concreta – sinto-o – que é a certeza da comunhão em Cristo; que é a certeza do ideal que nos une, com uma força e uma felicidade imensas, fora de nós; que é a certeza de tudo isto, de toda a novidade, de toda a ansiedade, fazerem sentido porque o fazemos por Ele, para Ele; que é a certeza de termos Deus vivo e presente no centro das nossas vidas. Neste intervalo entre os dois instantes – o da decisão de participar e o da partida – tive na minha história pessoal alguns acontecimentos que me marcaram e me moldaram para encarar a partida para a Austrália. Um deles foi a participação numa caminhada a Fátima: têm em comum a quase-ignorância com que mergulho nestes acontecimentos da minha vida. A menos de quinze dias da partida, permaneço quieto, sem ânsias, sem nervosismos. Não tenho a mala pronta, não tenho a lista das coisas para levar elaborada, não tenho ainda o dinheiro cambiado, e mesmo entre as burocracias obrigatórias, foi preciso um grande empurrão da organização para eu tratar do visto ou do pagamento do bilhete. Vou tentar partir vazio, pois aprendi já que a bagagem que se traz de volta é imensa, transbordante. Não quero ir com desejos a realizar, ainda que muito possa surgir quando se tem uma oportunidade de estar no outro lado do mundo. Não quero ir a pensar nas experiências anteriores, as melhores e as piores. Não quero fazer planos. Desejo, do fundo do coração, que Deus escreva esta jornada como deve ser escrita, tocando-me com a Sua voz e ensinando-me a ser discípulo do Mestre de Nazaré. Quero ir, simplesmente, entregue e confiado. «És a força que me transforma, és o vento que sopra! És a força que me transforma, és o fogo que arde! Há em mim uma nova Vida!» Paulo Almeida

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