A minha experiência de pastoral bíblica diz-me que muita gente se interroga acerca desta questão, perguntando frequentemente: “Qual é a melhor Bíblia?” E, perante a variedade de Bíblias apresentadas, perguntam também: “Então, a Bíblia não é a mesma? Não há apenas uma Bíblia? ” Como coordenador-geral da chamada Bíblia da Difusora ou Bíblia dos Franciscanos Capuchinhos, vou responder à pergunta, começando por dizer que a Bíblia, nos seus textos originais, é fundamentalmente, a mesma. O que são diferentes são as traduções dos originais hebraico, aramaico e grego. E estas são diferentes por vários motivos: 1º) Diferentes, por serem traduções: Não há nenhuma tradução igual. Ora, aqui temos também um pressuposto necessário para responder à questão: supomos que se fez uma tradução directamente dos originais e não de qualquer língua moderna ou do latim (tal Bíblia não seria correcta). 2º) Diferente ainda devido ao público a quem se destina. Na reunião de tradutores desta Bíblia, a primeira pergunta colocada sobre a mesa foi: “Para quem se destina a Bíblia? Para que tipo de pessoas vamos traduzir?” Como não havia muitas Bíblias traduzidas dos originais para português, em Portugal, a resposta foi: “Traduzir para um leque de população o mais abrangente possível”, isto é, para a generalidade do povo português, para o português de cultura média. Isto é um ponto de partida importante, em ordem ao emprego de termos, expressões, idiotismos hebraicos ou gregos, etc. Neste sentido, podemos dizer que a Bíblia que eu represento se situa entre uma Bíblia com uma tradução mais ou menos literal (“Cantera-Iglesias”, espanhola, e uma TOB francesa, pois desconheço a proveniência do texto português da tradução desta Bíblia feita no Brasil, assim como o da Bíblia de Jerusalém) e uma traduzida em português moderno como a da Sociedade Bíblica, também editada pela DB. Esta Bíblia da DB situa-se ao nível da Bíblia de Jerusalém francesa, quanto ao tipo de texto e de notas. Não optámos por notas demasiado técnicas, como são da TOB francesa. A Bíblia da DB é uma Bíblia de carácter pastoral, devido às introduções (geral, de cada conjunto e de cada livro) Índices e Suplementos, mas também às notas abundantes, que situam o texto no seu contexto histórico e no seu contexto actual. Este carácter pastoral é também reforçado pelas mais de 300 imagens e extra-textos, que resumem e visualizam, de algum modo, a mensagem de cada livro. É inegável o interesse desta Bíblia – ou deste tipo de Bíblia – para quem queira ler um texto em bom português (de Portugal e não do Brasil, como há vários no nosso mercado: Bíblia de Cucujães ou Avé-Maria; a Bíblia da Editora Paulus; a de Matos Soares, traduzida da Vulgata e ainda editada pelas Edições Paulinas do Brasil (?); a TEB e Bíblia de Jerusalém editadas no Brasil…). Este interesse aparece na Introdução Geral (p.8-14); Introdução ao Antigo Testamento (p.15-18); ao Pentateuco (p.19-20); ao Génesis e a cada um dos livros, entre uma a três páginas… Deste modo, o total de Introduções, Índices e Suplementos (Leccionário Dominical, Pesos, Moedas e Medidas, Tempo, Calendário, Cronologia Geral, Formação do AT e NT, Mapas) daria um livro de umas 200 páginas, sobre os mais variados assuntos bíblicos, o que não é nada desprezível dentro de uma Bíblia. Especial valor têm os lugares paralelos, colocados nos títulos e subtítulos das perícopas, assim como nas notas, ligando toda a Bíblia do AT para o NT e do NT para o AT, provocando uma interessante e necessária “Leitura circular da Bíblia”. Isto faz da Bíblia da Difusora Bíblica uma autêntica Bíblia de Estudo. Daqui se pode inferir que a Bíblia com menos páginas não é necessariamente a melhor. Esta poderá servir para estudar determinados textos, em casa ou em grupo. E reafirmo isto, na medida em que (infelizmente) na Igreja Católica não existe uma instituição permanente de formação bíblica do povo de Deus. Portanto, nesta questão, há Bíblias para todos os gostos e todas são “boas”: 1. Bíblias populares, feitas para o grande público e para serem distribuídas em grandes quantidades; normalmente têm poucas notas ou nenhumas (como são em geral as Bíblias protestantes), a fim de se tornarem economicamente mais acessíveis. Estas Bíblias caracterizam-se também por uma linguagem acessível. 2. Bíblias em linguagem corrente (como é a Bíblia em português moderno). Este tipo de Bíblias tem de positivo o facto de fazerem uma tradução dos termos e conceitos das línguas originais, não tendo muito em conta a tradução directa dos termos e idiotismos, que evita o mais possível. 3. Bíblias de carácter científico, que se preocupam por traduzir mais os termos que os conceitos; por isso, são muito literalistas (TOB). São fiéis ao original, mas menos fiéis às línguas modernas. 4. Bíblias de carácter pastoral, como é a Bíblia dos Capuchinhos. Para terminar: Qual é a melhor de todas as Bíblias? A única resposta a dar a esta pergunta, e supondo que se fez uma tradução séria dos textos originais (e nunca de outras línguas modernas, o que parece que tem acontecido no Brasil), a única resposta a dar é que todas são boas e nenhuma é a melhor para todas as necessidades e para todas as pessoas. Se tivesse de escolher alguma, tentaria evitar dois extremos: a) Bíblia em linguagem corrente. De facto, com esta Bíblia (apesar da sua utilidade e necessidade acima referida), perde-se o “gosto” das línguas originais, ao fazer-se uma tradução demasiado livre, embora diga o mesmo mas com circunló-quios. Procura ser fiel à língua vernácula, mas não é muito “fiel” ao original. b) Bíblia de tradução literal. Esta procura ser fiel ao original, mas não é fiel à língua moderna para a qual traduz Por uma Bíblia que tenha em vista duas fidelidades: a fidelidade ao texto original e a fidelidade à língua moderna para a qual se traduz. Para mim, este tipo de Bíblia em língua portuguesa (traduzida em Portugal) é a Bíblia da Difusora Bíblica. Esta foi, desde o início a intenção dos representantes da Difusora, levada a cabo pelos tradutores, revisores e coordenadores. frei Herculano Alves, OFMCap.