A matriz latina da Europa cristã

Sob este título, o Arcebispo emérito de Braga proferiu, na Universidade de Coimbra, na tarde de ontem, a conferência conclusiva do Colóquio internacional “LATINEUROPA – latim e cultura neolatina no processo de construção da identidade europeia”. Levou-o a efeito o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras. Entre a apresentação justificativa e a conclusão, D. Eurico Nogueira percorreu sucessivamente os seguintes aspectos: a Europa da antiguidade até ao presente, a Igreja Católica perante a União Europeia, necessidade do latim para aprofundamento das línguas e cultura, afirmação europeia e contra- senso do panorama português na actualidade. Logo no início, ao referir os cabouqueiros da nova Europa, afirmou: «Aqueles insignes homens de Estado foram Monnet, Schuman, de Gasperi, Adenauer, a que se juntaram posteriormente Spaak, Bidault, de Gaulle, Delors e outros; alguns têm processos de canonização em andamento. Quando comparamos a profunda vivência religiosa, porque sincera, dos fundadores da nova Europa — que para esta se inspiraram no Evangelho — com a atitude generalizada dos actuais dirigentes europeus, rejeitando uma simples alusão às raízes cristãs daquela no preâmbulo do projecto da União Europeia, temos de lamentar tamanha cegueira ou acinte, voltando as costas à indiscutível verdade histórica ». A meio, a propósito da importância do latim, observou: «Se Fernando Pessoa pôde afirmar que a língua portuguesa era a nossa Pátria, com igual ou maior razão, diremos que a cultura é a base da Europa: define-a, alicerça-a e sustenta-a, não só a antiga e clássica, mas também a moderna, nossa contemporanea. Ora a genuína cultura europeia exprimiu- se e desenvolveu-se, de maneira profunda e significativa, durante muitos séculos – praticamente até ao XIX – na língua latina (…). Era património cultural, fıxador de memória e veículo de comunicação do pensamento e saber». E acrescentou: «O latim, tanto clássico como de expressão popular, foi o veículo que ajudou a promover a comunidade europeia – a respublica christiana – conservou e transmitiu a cultura e facilitou a evangelização, tornando-se língua litúrgica até aos nossos dias». Mais adiante comentou: «Esta identidade básica (da Europa) não exclui as diversidades específicas de cada Nação ou Estado componente; ou seja, a sua idiossincrasia própria. Também um Estado unitário é compatível com Regiões diversificadas pela língua, religião, costumes e mesmo normas jurídicas, porquanto o Texto constitucional fixa o modo de coexistência destas com aquele. O mesmo sucederá naturalmente na futura Constituição europeia (com este ou outro nome), consagrando a unidade na diversidade. Para isso, importa que cada País saiba descobrir e balizar a sua própria identidade. Assim tem de suceder com o nosso Portugal. Ora, é fora de dúvida que o Povo português, no seu conjunto, está marcado pela língua latina – usada antes de existir como Estado, dela proveio a nova, formada desde que este se constituiu – bem como pelo cristianismo, na sua vertente católica, aqui implantado antes da independência da Nação». Depois de escalpelizar a situação portuguesa, neste aspecto, concluiu: «Formulamos votos por que quantos se sentem em causa e detêm algum poder intelectual ou político prestem a devida atenção à grave e delicada problemática do latim em Portugal, tirando daí as devidas consequências. Oxalá! Estão em jogo a pureza e aprendizagem do idioma português – a língua pátria».

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top