O Programa “A Fé dos Homens” completa 10 anos de emissão na televisão em Portugal. Foi “para o ar” a 15 de Setembro de 1997. Depois de décadas de estudo, pedidos, debates e de a própria Igreja Católica querer marcar presença evangelizadora nos meios de comunicação social, a legislação ditou, a abertura da televisão à emissão de um “Tempo de emissão para confissões religiosas” no canal 2 da RTP. É o que determina o artº 25º da Lei nº. 58/90, de 7 de Setembro, repetidamente afirmado por posteriores quadros legislativos (nomeadamente os que regulam a concessão do serviço público de televisão à RTP), e recentemente a Lei de Liberdade Religiosa. O nº 1 do artº 25 afirma claramente que “nos serviços públicos de televisão e de radiodifusão é garantido às igrejas e demais comunidades religiosas inscritas, por si, através da respectiva organização representativa, ou conjuntamente, quando preferirem participar como se fossem uma única confissão, um tempo de emissão, fixado globalmente para todas, para prossecução dos seus fins religiosos”. Esta lei determina que o tempo (actualmente de 30 minutos) seja distribuído “tendo em conta a representatividade das confissões religiosas e o princípio da tolerância”. O tempo de diálogo entre as confissões religiosas e a proximidade que o Programa “A Fé dos Homens” proporcionou faz com tenha na sua história uma marca determinante: a ecuménica. Ela oferece originalidade a esta iniciativa mediática, repetidamente afirmada por líderes religiosos, responsáveis pelos meios de comunicação social, colunistas e políticos. Ela foi também um trunfo quando o projecto foi colocado em causa. Este é um percurso que resulta “do esforço dos leigos de ver a Igreja presente na televisão”, aponta à Agência ECCLESIA o Pe. António Rego, director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja. Treze confissões religiosas em Portugal chegaram a um consenso para estarem presentes de acordo com uma “proporcionalidade aproximada à realidade portuguesa” e a título pessoal o Pe. António Rego sublinha o diálogo que este espaço proporciona, com judeus, ortodoxos, com a aliança evangélica, Bahá’í, o Conselho Português de Igrejas Cristãs – Copic, hindus, islâmicos, “onde para além das doutrinas se conhecem as caras”. “Evoluiu-se muito”, sublinha. A Igreja católica, “com alguma experiência na matéria, foi apoiando outras confissões na construção televisiva”, num conjunto onde “se cumpre a missão”. Uma missão que não cessa pois “há muito por onde evoluir”, aponta. A adequação das linguagens religiosas na televisão, “a aproximação a uma linguagem adequada aos formatos televisivos, mais ágil e com uma presença mais viva”. A era do digital é outro desafio. “Os grafismos e animações são um campo onde se pode «ir mais longe»”. A riqueza religiosa que existe deve ser “transmitida nestes programas para que não sejam de conteúdo institucional mas onde o povo crente se faz presente”, finaliza. O desafio da Rádio Mário Mota Marques, sublinha o esforço para desenvolver o espírito “de abertura, de informação e a ajuda aos valores éticos e espirituais de quem nos ouve”. O secretário da Comissão do Tempo de Emissão das Confissões Religiosas (CTECR) e Bahá’í, refere que o conteúdo dos programas “reflecte a diversidade de confissões religiosas em Portugal, como também procura transmitir valores para os telespectadores”. Mas há o desafio constante de melhorar. A própria RTP “fez um esforço para melhorar o visual do programa e as confissões têm de corresponder a essa melhoria técnica com maior cuidado”. Outro desafio emergente relaciona-se com a lei da liberdade religiosa que prevê a extensão do programa de televisão para a Rádio Difusão Portuguesa. “Estamos em contactos com a RDP para que o mesmo espírito do programa «Fé dos Homens» e «Ecclesia» seja extensível à rádio difusão”. Reforçar a actualidade “É muito importante que a Igreja Católica disponha deste espaço”, aponta Manuela Silva, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, e sublinha o carácter ecuménico do programa. “É um contributo para um desenvolvimento de uma consciência mais plural e aberta para um diálogo inter religioso”. O Programa Ecclesia é “variado, vê-se com interesse”, aponta Manuela Silva, acrescentando que tem o mérito de “trazer à opinião pública temáticas importantes”. No entanto, nos seus conteúdos informativos, a Presidente da CNJP gostaria de ver reforçada a actualidade, nomeadamente “perceber a presença da Igreja nas grandes questões que se debatem no país e no mundo”. Este será um desafio a ser encarado no futuro, “para que a Igreja esteja ao serviço da sociedade com uma evangelização nos meios onde as pessoas se inserem”. A tendência “perniciosa e nefasta dos media de acentuar os aspectos negativos” poderia ser contrariada pelo Programa Ecclesia, “fazendo eco de acções positivas e sendo um sinal de esperança e optimismo próprio do anúncio do Evangelho”. Mais debates É no âmbito de um acordo entre instituições que Eduardo Contra Torres enquadra o programa Ecclesia. “Um serviço aos espectadores uma vez que a Igreja tem uma implantação nacional muito grande”, aponta, “razão suficiente para um interesse mediático na vida da Igreja”. O crítico de televisão refere que a Igreja tem um peso grande no país, “não apenas enquanto confissão mas também enquanto instituição, pelo valor que tem na sociedade e pelo seu valor patrimonial”, sendo estas razões suficientes para justificar a sua atenção. Eduardo Cintra Torres acompanha o programa de “forma irregular” e é nesse sentido que sublinha o perfil “correcto enquanto programa informativo”. Não escondendo a sua ligação confessional “ganha corpo pelas entrevistas muitas em estúdio e reportagens”. Por isso “é útil aos espectadores”, sublinhando, no entanto, “uma maior presença de debates”. Crescente profissionalismo Apesar de transmitido em horário incompatível com o horário laboral, o Cónego João Aguiar, Director da Rádio Renascença, aponta que, particularmente, lhe agrada o formato “à Sextas feira, uma vez que, para quem quiser viver o Domingo com mais profundidade, antecipa e reflecte a palavra de Deus, com diferentes perspectivas e enriquecimento”. “É uma justa presença na televisão pública. A religião faz parte do viver humano e uma televisão que queira servir os seus diversos públicos, não pode estar alheia a uma dimensão essencial que é a religião”, afirma. Segundo o director da RR a longa duração do programa e o diálogo inteligente deve-se ao “crescente profissionalismo das pessoas que dão voz, realização e planeamento aos programas”. O Secretariado Nacional das Comunicações Socais da Igreja Católica “tem feito um trabalho que os católicos devem agradecer com sinceridade e profundidade”.