Mais de cinquenta mortos foram votados ao mais completo esquecimento durante este verão em França. Um sinal dos tempos… As 57 vítimas da vaga de calor em França que não foram reclamadas, apesar dos apelos das autoridades para que as famílias se apresentassem, foram ontem enterradas na Secção dos Indigentes de um grande cemitério da região parisiense. A cerimónia, simples e laica (não eram conhecidas as confissões religiosas dos mortos) contou com a presença do Presidente da República, Jacques Chirac, e do presidente da Câmara de Paris, Bertrand Delanoë. Representantes de quatro grandes confissões – católica, protestante, muçulmana e judaica – estavam presentes, a título individual. Cerca de duas centenas de anónimos deslocaram-se também ao cemitério de Thiais. A respeito deste caso o arcebispo de Paris, Cardeal Jean-Marie Lustiger, escreveu que “a opinião pública descobriu, chocada, a solidão dos que morreram sem nenhuma ligação a ninguém.” As paroquias da Diocese celebrarão uma missa por intenção daqueles que desejariam ter tido um funeral católico, anunciou D. Lustiger. Como consequência desta chamada de atenção, o arcebispo de Paris pede aos cristãos “um renovado compromisso a favor dos idosos, dessas pessoas abandonadas a uma enorme solidão. Os dispositivos de solidariedade e assistência nunca poderão substituir a iniciativa pessoal de verdadeira fraternidade, amor e atenção ao próximo”.
