Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal
Estamos sem vocações dizia-vos eu no mês passado. Não, fiquem descansados que não vou voltar a bater no ceguinho, que é como quem diz voltar a falar da falta de sacerdotes, apesar de esta ser a Semana de Oração Pelos Seminários.
Vou antes falar dos que existem espalhados por esse mundo fora e dizer-vos que ser sacerdote nos dias que correm, em certas partes do mundo, é uma “profissão” de risco. Veja-se que profissão está entre aspas, para não haver equívocos.
Aliás, é ser sacerdote e ser cristão. A coisa, como diz o outro, não está fácil. Escrito assim, com a ligeireza das frases feitas, até parece que o problema se resolve de uma hora para outra. Mas, infelizmente, não é verdade!
A mim já me custa ver e ouvir noticiários. Custa-me ouvir dizer que há pessoas que em pleno século XXI perdem a vida por causa da sua religião, por estarem a celebrar uma Eucaristia, ou simplesmente a ajudar os que mais precisam e aqueles a quem a sociedade, se pudesse, descartava de uma vez e ponha uma pedra sobre o assunto.
Custa-me ouvir que uma bomba caiu e matou não sei quantos civis não sei onde, que famílias inteiras ficaram desfeitas ou reduzidas, a um ou dois membros que sobreviveram a um ataque. Se é que isso é sobreviver, porque a partir dessa data nada mais será igual e as lágrimas e a revolta vão sempre fazer parte da vida desses seres humanos. Custa-me!!!
E é aqui que desta vez quero centrar a minha reflexão: na liberdade religiosa. Aquela liberdade que, ligada a uma série de princípios que englobam os direitos humanos, pura e simplesmente não existe, em vários pontos do planeta.
A prática religiosa carrega em si uma expressão cultural, em que a sua livre manifestação garante o respeito à dignidade humana, à diversidade e à igualdade, princípios norteadores dos direitos humanos. Devia ser assim! Devia, mas lamento informar que o que se passa é exatamente o oposto.
Ao redor do mundo, muitas pessoas ainda morrem, sofrem violência, são presas e perseguidas por conta de suas convicções religiosas. Sendo uma clara violação aos direitos humanos, o desrespeito à liberdade religiosa fere os princípios da igualdade e da dignidade humana e favorece a opressão e a exclusão social. É triste, mas é verdade.
E há números que o mostram. Segundo o relatório de 2021 da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (Aid to the Church in Need – ACN), a liberdade religiosa é violada em 31,6% dos países do mundo. Ou seja, aproximadamente um em cada três países do planeta desrespeita a livre manifestação da fé.
O relatório também indica que em 42 países, renunciar ou mudar de religião podem resultar em consequências legais, como prisão e pena de morte, e/ou consequências sociais, como marginalização e segregação.
O dito documento refere ainda que além da crescente perseguição religiosa violenta em países da África, Médio Oriente e Ásia, houve um aumento da “perseguição educada”, termo empregue pelo Papa Francisco para descrever como novas normas e valores culturais entram em profundo conflito com os direitos individuais à liberdade de consciência, e consignam a religião “aos distritos fechados de igrejas, sinagogas ou mesquitas”.
Como se acaba com tudo isto? Sinceramente não sei. Se alguém tiver alguma ideia peço encarecidamente que a partilhe comigo…