A juventude do Papa e o Papa da juventude, onde há lugar para todos

Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal

Confesso! Confesso e peço desculpa! E são duas as situações pelas quais faço esta reflexão. A primeira foi duvidar que o Papa viesse ao meu país. É verdade, duvidei!!

Depois dos internamentos e da fragilidade do homem, que já tem 86 anos, fiquei sempre na expectativa até ao último instante. O mesmo é dizer até o ver sair do avião. Só aí, qual Tomé, disse a mim mesma, com grande alívio: já cá está!

A outra situação tem a ver com o facto de ter achado – e não deixa de ser verdade – que quando este texto fosse publicado, já tudo teria sido dito e escrito sobre as JMJ e as mensagens deixadas.

Por essa razão, tinha escrito sobre outro tema. Mas como o mesmo, infelizmente, não perde actualidade, decidi guardá-lo para uma outra ocasião. Esperando que, até lá, os homens tenham ouvido os “recados” que o Santo Padre enviou ao mundo, a partir de Portugal.

A verdade é que houve, durante esta visita, vários momentos que me impeliram a escrever estas linhas. O primeiro e mais recorrente, foi ver a forma como o Papa parecia rejuvenescer sempre que estava mais próximo dos jovens.

A expressão de Francisco muda radicalmente. O sorriso toma conta daquele rosto cansado, como que a dizer: não se preocupem, ao vosso pé sinto-me bem, sinto uma alegria imensa.

E essa alegria foi sempre visível durante os encontros com aqueles que foram a razão de ser da sua vinda a Portugal, bem como o seu à-vontade, fosse qual fosse o “palco”, especialmente quando ponha de lado os papéis, para falar com o coração, sem “maquilhagem”.

Penso que não restam dúvidas de que, se há algo que ele sabe fazer como ninguém é colocar-se na pele dos jovens, de lhes reconhecer a importância e sobretudo a grande responsabilidade de construir o hoje, mas particularmente o amanhã.

E os jovens precisam disso, como do ar que respiram. Precisam de quem lhes diga que não devem ter medo de se “sentir inquietos”, mas sim da “ilusão do conforto; quando substituímos os rostos pelos ecrãs, o real pelo virtual; quando, em vez das perguntas lacerantes, preferimos as respostas fáceis que anestesiam”, precisam de quem os incentive ao “Procurai e arriscai.”

Depois do “Temos Mãe”, e de tantas outras frases inspiradoras e de encontros relevantes, como o que teve com as vítimas de abusos, as pessoas portadoras de deficiência, reclusos e pessoas de outras religiões, desta vez fica o “todos, todos, todos” de Francisco, quando quis vincar que “Na barca da Igreja, deve haver lugar para todos”. E caso não haja temos forçosamente de o arranjar.

De resto, “A Igreja não tem portas para que todos possam entrar. E aqui, também, podemos insistir que todos podem entrar, porque esta é a casa da Mãe, disse Francisco em Fátima, referindo que “uma Mãe tem sempre o coração aberto, para todos os filhos, todos, todos, todos, sem exceção”.

Por fim, fica o sentido “Obrigado a ti, Lisboa, que ficarás na memória destes jovens como casa de fraternidade e cidade de sonhos” e o “Obrigado às nossas raízes, aos nossos avós, que nos transmitiram a fé, o horizonte de uma vida. São as nossas raízes”.

Lisboa sublinhou ainda Francisco, «não pode ser reduzida» a um momento, mas «faz parte duma história que a precede e a segue». Esperemos que assim seja. Que as suas palavras não caiam, como se diz em saco roto e que, de facto, os jovens comecem a fazer mais e também a exigir, sem medo, mais de quem tem responsabilidades.

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Agência ECCLESIA

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