Teresa Silva, Diocese de Bragança-Miranda
Frequentemente, ouve-se dizer que é necessário dar um lugar na Igreja às pessoas com deficiência. Na verdade, não se trata de dar um lugar, mas de remover os obstáculos que impedem a sua participação plena. Cristo ensina-nos nos evangelhos a devolver às pessoas o lugar que Deus lhes deu. Essa seria a verdadeira inclusão.
Trata-se, antes de tudo, de justiça: reconhecer em cada ser humano o lugar que Deus lhe deu e que lhe é retirado pelos obstáculos físicos das barreiras e mentais do preconceito. Não há amor sem justiça. Na encíclica “Caritas in Veritate”, o Papa Bento XVI afirma: “A caridade supera a justiça, porque amar é dar, oferecer ao outro do que é ‘meu’; mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro o que é ‘dele’, o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir. Não posso ‘dar’ ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça” (Bento XVI, Caritas in Veritate, n. 6).
Vemos, na caridade, um estender de mão ao mais frágil, mas o que é a justiça, no contexto da Igreja, para as pessoas com deficiência? Qual o lugar que Deus lhes deu e que o preconceito lhes negou?
Sobre o conceito e vocação do leigo na Igreja, a constituição dogmática “Lumen Gentium” afirma que todos os fiéis pertencem ao Povo de Deus e “que, incorporados em Cristo pelo Batismo, […] e tornados participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte que lhes toca, a missão de todo o Povo cristão na Igreja e no mundo. […] Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e actividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência. […]São chamados por Deus para que […] concorram para a santificação do mundo […] e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade” (LG 31).
Esta visão de inclusão deve encontrar a sua aplicação na pastoral das pessoas com deficiência, mas também em todos os setores e serviços da Igreja. A Igreja é chamada a ser um reflexo do Amor e da justiça de Deus, garantindo que todos, independentemente de suas capacidades físicas ou mentais — mas, pelo contrário, fortes das suas idiossincrasias — possam participar plenamente na vida e na missão da comunidade cristã.
Teresa Silva
Diretora do Serviço da Pastoral a Pessoas com deficiência da Diocese de Bragança-Miranda
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