A importância da reabilitação aquática nas IPSS: promover saúde, bem-estar e qualidade de vida

Sérgio Conde Afonso, Diocese de Bragança-Miranda

Nas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), é cada vez mais reconhecida a importância de proporcionar aos utentes um estilo de vida ativo e saudável. A manutenção da mobilidade, da flexibilidade e da amplitude muscular e articular torna-se essencial para atenuar os efeitos naturais do envelhecimento e prevenir complicações associadas à inatividade física (Gomes & Marques, 2018). Neste contexto, a reabilitação aquática surge como uma resposta eficaz e diferenciadora, permitindo conciliar atividade física, prazer e recuperação funcional (Becker, 2009).

As atividades aquáticas apresentam benefícios únicos, sustentados nas propriedades físicas da água, como a flutuação, a pressão hidrostática e a resistência natural. A flutuação, ao reduzir o impacto do peso corporal, possibilita movimentos que seriam difíceis ou dolorosos em ambiente terrestre, facilitando o trabalho articular e muscular. Já a pressão hidrostática favorece a circulação sanguínea e linfática, enquanto a resistência oferecida pela água contribui para o fortalecimento muscular de forma progressiva e segura (Silva & Pereira, 2019).

A utilização da água aquecida, por sua vez, amplifica os efeitos terapêuticos. O calor promove o relaxamento muscular, diminui a rigidez articular, reduz a dor crónica e cria um ambiente propício à realização de exercícios de forma mais confortável e eficaz (Torres-Ronda & Del Alcázar, 2014).

Entre as técnicas de maior relevância em reabilitação aquática, destacam-se a Hidroterapia Watsu e o método Halliwick. O Watsu, baseado em movimentos suaves, alongamentos e mobilizações realizadas na água, é especialmente benéfico no alívio da dor, na redução do stress e na melhoria da amplitude articular (Dull, 2008). Já o método Halliwick, centrado na adaptação ao meio aquático e no desenvolvimento do controlo postural e da mobilidade, revela-se determinante para a promoção da autonomia e da reabilitação motora em diferentes populações (Thorpe & Daly, 1991).

Neste sentido, é fundamental reforçar a importância de dotar as IPSS de condições e infraestruturas adequadas para a prática destas terapias. O papel do poder local torna-se decisivo na criação de espaços aquáticos acessíveis e devidamente equipados, assim como na sensibilização do Instituto da Segurança Social para a relevância da introdução de técnicos credenciados, especializados em hidroterapia, capazes de orientar estas dinâmicas com qualidade e segurança (Carvalho, 2020).

Em suma, a reabilitação aquática constitui uma ferramenta valiosa na promoção da saúde e do bem-estar das populações especiais das IPSS, aliando os benefícios únicos das propriedades da água às técnicas específicas da hidroterapia, como o Watsu e o método Halliwick. Ao proporcionar ganhos físicos, psicológicos e sociais, esta prática contribui para uma maior autonomia, qualidade de vida e dignidade dos utentes. Assim, torna-se imperativo que as instituições, em articulação com o poder local e o Instituto da Segurança Social, se mobilizem para criar condições, infraestruturas e recursos humanos adequados, garantindo que todos possam usufruir dos benefícios desta abordagem terapêutica. Investir na reabilitação aquática é investir num futuro mais saudável, inclusivo e humano para os utentes das nossas instituições.

 

Sérgio Conde Afonso, Técnico Superior de Educação Especial e Reabilitação

Referências bibliográficas

Becker, B. E. (2009). Aquatic therapy: scientific foundations and clinical rehabilitation applications. PM&R, 1(9), 859-872.

Carvalho, A. (2020). Hidroterapia em contextos geriátricos: benefícios e desafios. Lisboa: Lidel.

Dull, H. (2008). Watsu: Freeing the Body in Water. Harbin Hot Springs Press.

Gomes, F., & Marques, A. (2018). Exercício físico e envelhecimento: benefícios na saúde funcional. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 18(2), 45-56.

Silva, R., & Pereira, J. (2019). Efeitos da hidroterapia na mobilidade funcional de idosos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 22(4), e190123.

Thorpe, W., & Daly, D. (1991). The Halliwick Concept. International Journal of Aquatic Research and Education, 3(2), 123-135.

Torres-Ronda, L., & Del Alcázar, X. S. (2014). The properties of water and their applications for training. Journal of Human Kinetics, 44, 237-248.

 

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

Partilhar:
Scroll to Top