Jornalistas e responsáveis eclesiásticos discutiram polémicas em torno da actualidade religiosa
Para o bem e para o mal, “o jornalismo é uma escolha selectiva de milhares de informações” – afirmou Adelino Gomes, Provedor do ouvinte da RDP, no colóquio «Igreja no palco mediático. Das conferências do Casino ao avião para os Camarões» promovido pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da Igreja Católica em Portugal.
Realizado dia 21 de Maio na Universidade Católica Portuguesa, este debate contou com a presença de Adelino Gomes, Graça Franco e o Pe. Manuel Morujão. O Patriarca de Lisboa surgiu “inesperado e surpreendentemente a fazer uma afirmação polémica” no Casino da Figueira da Foz – disse Adelino Gomes.
Em relação à conferência de D. José Policarpo no Casino da Figueira da Foz, o Provedor do ouvinte da RDP sublinhou que jornalistas “pegam numa afirmação, viram-na, reviram-na e fixam-se nela”. Na agenda jornalística existem dias ricos e dias pobres nas notícias. “Esse dia [casino] não coincidiu com nenhum mega-acontecimento” – salientou Adelino Gomes. “Se falasse na Sé de Lisboa, o impacto seria totalmente diferente” – frisou Graça Franco.
A directora de informação da Rádio Renascença falou ainda no efeito “nefasto do arquivo para a Igreja”. E adianta: “Quando não se sabe vai-se ao arquivo”.
Qualquer notícia é uma enfatização da enfatização do que aconteceu. “Muitas vezes, seis palavras resumem três horas de acontecimento” porque “todas as notícias são simplificadas”. O perigo existe quando os jornalistas descontextualizam a temática e acabam por “deturpar a notícia” – referiu Adelino Gomes.
Há um mundo novo que influencia a realidade da Igreja porque a teoria do espelho – onde os jornalistas eram observadores neutros – “está a cair”. Actualmente, os “jornalistas não são espelhos neutros nem conspiradores” – disse Graça Franco. E completa: “Não basta mudar os jornalistas para mudar as notícias. Elas têm uma vida própria”.
Um discurso habitual não é notícia, todavia “há não notícias que são candidatas a serem manchetes (caso do preservativo, sexo antes do casamento)” – lamenta a Directora de Informação da RR. O mundo da blogsfera “pressiona e obriga a outro tipo de notícia” – completa o provedor.
Por sua vez, o Pe. Manuel Morujão disse aos presentes que faz parte da missão da Igreja “estar nos palcos mediáticos” porque “quem não comunica não tem pensamento”. E adianta: “A Evangelização passa pela comunicação”.
Um jornalista pode ser agnóstico ou ateu, mas a “verdade nua e crua vale mais do que a mentira vestida de seda”. E explica o Porta-Voz da CP: ” Existem armadilhas ou erros a evitar porque a comunicação não dorme”, mas os jornalistas devem “evitar a tentação do sensacionalismo bombástico”.
Em relação à visita de Bento XVI aos Camarões, Angola e Terra Santa, Adelino Gomes afirmou que o Papa “não foi suficientemente claro nos Camarões para não deixar dúvidas”. E completa Adelino Gomes: “A maneira como ele falou permitiu confusões”. A imprudência inicial veio “inquinar o resto da viagem”.
Na viagem que o Papa alemão fez à Terra Santa, o provedor do ouvinte da RDP pensou que este iria falhar na questão do Holocausto e na Questão da Palestina. “A mensagem foi clara sobre a condenação do Holocausto e sobre os direitos do povo palestiniano”.