A Igreja não é uma sociedade anónima

Viseu recebe o novo pastor no próximo dia 20 de Junho. Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. António Marto fala dos “dois amores” anteriores e promete “escutar e ouvir” no principio para depois “estabelecer prioridades”. Agência ECCLESIA (AE) – Que expectativas para a diocese que o irá acolher e D. António Marto irá trabalhar? D. António Marto (AM) – São sentimentos de alegria de quem vai, finalmente, conhecer os rostos pessoais de quem o Senhor me confiou. Tenho também um sentido de responsabilidade de quem vai receber o cuidado da Pastoral de uma Igreja que vem de longe, desde o século VI. A Igreja diocesana para onde vou tem uma fisionomia espiritual e cultural própria. Um bispo não parte do zero. Recebe uma Igreja com História. AE – Mas nos últimos dois anos a Igreja de Viseu sentiu a falta do pastor? AM – O Espirito Santo trabalha sempre na Igreja. O bispo não é tudo embora seja uma figura importante. AE – É um condutor… AM – É verdade mas não significa que seja ele que leva a barca sozinho. A Igreja tem as suas estruturas e mesmo neste interregno – a morte de D. António Monteiro e a entrada de outro – o administrador diocesano conduziu a vida da Igreja. Não foi um tempo vazio. Entro com confiança nas várias estruturas, no clero e no povo. AE – Que lema presidirá no seu trabalho? AM – Quando escrevi a saudação à diocese referi que quero ser servidor da vossa alegria. Redescobrir a alegria do evangelho porque o cristianismo é alegria. Os cristãos precisam de redescobrir esta força porque na nossa sociedade sentimos este déficit de alegria. AE – Esteve no Porto, depois em Braga e agora uma diocese do interior. Uma Igreja diferente? AM – Diferente mas a Igreja não é uma sociedade anónima sem rosto. É o rosto concreto das pessoas e dos lugares onde elas vivem. Qualquer Igreja particular não é uma ilha porque faz parte da grande Igreja Universal. Embora o meu primeiro trabalho seja conhecer a diocese. A primeira tarefa exigida pelo realismo. AE – Ainda não entrou em Viseu mas já tem muitas actividades pastorais marcadas. AM – É verdade. Tenho algum trabalho marcado até ao fim de Julho. AE – Escutar e Ouvir são os primeiros propósitos. AM – O primeiro ano é para escutar e olhar. Falar o menos possível. Depois de conhecer irei estabelecer prioridades. Qualquer diocese sofre deste novo contexto multicultural e multireligioso. Hoje, a televisão chega à aldeia mais recôndita e, por conseguinte, as pessoas bebem toda esta cultura transmitida pelos meios de comunicação social. Não estão imunizadas disso. Actualmente, estamos a assistir ao fim de um mundo e ao parto de outro mundo. Uma viragem epocal muito grande. AE – Está ansioso? AM – Não mas estou com grande vontade de chegar lá. AE – Depois do ciclo do Porto e de Braga aparece Viseu. Já tem saudades? AM – De Braga, o contacto com as pessoas e os lugares onde passei. Do Porto, a vida académica. AE – Tem saudades dessa vida académica. AM – Quantas… Ainda ontem (17 de Junho) foi o jantar de despedida da UCP. Eu costumava dizer que tinha dois amores: o seminário e a Universidade Católica. AE – As lágrimas vieram aos olhos? AM – Sim. AE – Viseu tem um polo da UCP. Irá leccionar lá? AM – A vida académica acabou. Agora tenho outras tarefas e responsabilidades. Também tenho cargos na Conferência Episcopal Portuguesa. AE – Em relação ao outro amor, o seminário, o de Viseu está a ficar com um rosto novo? AM – Está com grandes obras. Os seminaristas irão ter boas condições para poderem viver e trabalhar. AE – É o primeiro passo para o aumento de vocações? AM – Não é pelas obras que vêm as vocações. As vocações vêm das comunidades vivas e pelo testemunho. AE – Teve duas experiências. No Porto um trabalho mais de gabinete e em Braga mais de contacto com as pessoas. Qual a preferida? AM – Um bispo tem de conjugar as duas dimensões. Deverá ter os seus momentos de reflexão e estudo para não se tornar repetitivo e saber interpretar os acontecimentos. Por outro lado tem de prestar atenção ao contacto com as pessoas. A relação humana é muito importante. Notícias relacionadas •Saudação de D. António Marto à Diocese de Viseu

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