Bispos de Beja e do Algarve apelam à solidariedade O inferno dos incêndios atingiu duramente o sul do país, nos últimos dias, e a Igreja Católica está no terreno para prestar ajuda de emergência às vítimas mais desprotegidas. D. António Vitalino, Bispo de Beja, esteve no concelho de Almodôvar, um dos mais afectados pelos incêndios, acompanhado pelo Bispo emérito D. Manuel Falcão, e pela presidente da Cáritas Diocesana, que já está a distribuir alimentos e bens de primeira necessidade. “Posso dizer que é quase um milagre que as casas das pessoas não tenham ficado queimadas: São Barnabé fica num vale e o fogo passou por cima do centro da freguesia, com as pessoas a defenderem-se como podiam”, relata o prelado. Tudo em volta, porém, está pintado de negro. “As pessoas estão felizes porque as suas casas e as suas vidas foram poupadas, mas é evidente que o desânimo é grande, porque a sua subsistência ficou comprometida”, acrescenta D. Vitalino. Desapareceram os montados, os sobreiros e os medronheiros, bem como várias colmeias de apicultores e algum gado. “O montado já não é na vida destas pessoas que irá recompor, porque são quase todas idosas e os jovens já cá não estão”, vinca o líder da diocese alentejana. O pároco local, Pe. Agostinho Oliveira, revela que o núcleo de acção socio-caritativa tem estado a prestar apoio a todos os que sofreram com os incêndios e, também, aos que se dedicam ao combate dos mesmos. “Andámos de monte em monte, levando água, leite, etc.”, assinala o sacerdote. “Foi um inferno, um inferno”, lembra, visivelmente comovido. “Criaram-se vazios muito grandes: as pessoas dependiam da cortiça e não têm nada”, alerta o Pe. Agostinho Oliveira. O Bispo de Beja explica que a Igreja local irá proceder a um levantamento dos danos causados pelo fogo. “Temos de ser solidários, para tentar ver o que podemos fazer unidos, porque cada um sozinho não vai conseguir”, aponta. Nesta hora de dificuldade, o prelado assinala que é preciso retira lições de futuro, “para estarmos unidos na prevenção”. “Tem de haver uma vontade comum e, na parte que me toca, vou lembrar que nunca se deve perder a esperança no dia de amanhã, que ele pode ser melhor se a gente se abrir à entreajuda e a novas soluções”, conclui. Esperanças para o Algarve Se as condições se mantiverem, o fogo no Algarve poderá ficar controlado. A calma parece estar a voltar do concelho de S. Brás de Alportel, onde ontem evacuadas três aldeias por causa da frente de incêndio que veio de Loulé e à noite descia de forma incontrolável em direcção a Tavira. Há notícia de várias casas ardidas e várias famílias desalojadas. Durante a noite, a situação mais preocupante viveu-se em Alportel, com casas ameaçadas pelo fogo obrigando à evacuação da população. Alguns habitantes passaram a noite na Santa Casa da Misericórdia, como confirma à Agência ECCLESIA o vigário Paroquial de São Brás de Alportel, Pe. Afonso da Cunha Duarte. “A população esteve recolhida na Misericórdia, sobretudo os mais idosos, e todas as autoridades têm colaborado para que nada falte”, indica. O sacerdote aponta que as pessoas perderam uma riqueza fundamental, a cortiça, e recorda o “colosso” das chamas, atiçado pelo vento. “O cenário é desolador, mesmo a quilómetros de distância tudo está coberto de fagulhas e ramos”, constata. D. Manuel Neto Quintas, Bispo do Algarve, lemrbou no início desta semana à Agência ECCLESIA que a Diocese do Algarve se movimentou de forma notável, em 2003, para dar auxílio aos que tinham perdido o que possuíam na vaga de incêndios. A mobilização deverá voltar a acontecer este ano, de acordo com o seu Bispo, que assegura que agora “é tempo de deixar uma palavra de esperança, de solidariedade, porque ninguém fica indiferente ao ver as imagens que nos entram porta adentro”. “Resta-nos dar as mãos, em sinal de solidariedade, e ir ao encontro dos mais necessitados”, concluiu. Cáritas entregou casas na Guarda Hoje foram entregues, na Guarda, mais quatro casas recuperadas no âmbito da campanha “Renascença/Cáritas – Ajuda Portugal”. Em resposta aos trágicos incêndios do Verão de 2003, esta operação já aplicou 2.811.619,66 Euros, num total de 29 casas construídas de raiz, 10 sujeitas a pequenas intervenções, equipamentos sociais e reconversão de postos de trabalho. “Com mais este acto, a Cáritas cumpre a sua vocação de solidariedade e de ajuda aos mais desfavorecidos”, esclarece um comunicado oficial da organização. Gesto semelhante deveria ter acontecido esta segunda-feira em Monchique, mas o regresso do fogo ao Algarve adiou a cerimónia. A Cáritas local está atenta às novas necessidades surgidas e deve partir rapidamente em apoio das populações afectadas pelos recentes incêndios. A Cáritas Portuguesa recolheu 3,1 milhões de Euros, na campanha de solidariedade para apoiar a recuperação das zonas atingidas pelos incêndios florestais de 2003. A Campanha de Apoio às Vítimas dos Incêndios (CAVI) serviu, num primeiro momento, para prestar apoio de emergência a 559 pessoas (216 famílias): 35 famílias foram realojadas, em casas construídas de raiz ou recuperadas com a utilização das verbas recolhidas pela campanha.
