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Falar de Psicologia Positiva em Portugal é falar sobre Helena Marujo e perceber como esta área que investiga desde o final dos anos 90, juntamente com o seu então colega e marido Luís Miguel Neto, é seguida e comprovada pessoalmente como benéfica e construtora de «felicidade pública».
Nesta conversa ficamos a conhecer como a fé, inicialmente entregue como herança familiar, se tornou na companheira de reflexão, de “perguntas e questões”, que levam Helena Marujo a ler a realidade e a procurar a justiça, igualdade e novos modelos económicos e de olhar para “os que não se veem, não têm voz, e vivem as maiores dores”.
Se a pandemia da Covid-19 permitiu uma das maiores vitórias sociais – a capacidade de o ser humano se afirmar vulnerável e entender que o seu semelhante pode partilhar as mesmas dores – deu a Helena Marujo a maior dor: a perda do marido em tempo de pandemia, que a conduziu a uma «aprendizagem brutal», para «reencontrar sentido», redescobrir forças, sentir ao seu lado uma «rede extraordinária, absolutamente divina» de pessoas e a possibilidade de celebrar a capacidade de perceber o que é realmente importante e faz feliz o ser humano.
«Participei na Juventude Universitária Católica, onde a presença de Deus era constantemente proposta como um compromisso social, politico, económico, nas escolhas de vida e o processo de evangelização, como uma maneira de viver Deus. Tive o privilégio de ter muita gente que em ajudou nesse caminho, a refletir criticamente – para mim é uma palavra muito importante – e isso aplica-se a todas as dimensões da minha vida, incluindo este caminho de espiritualidade, ligado a uma crença em algo de tão intangível e tão presente. Não vejo outra forma de concretizar o amor se ele não for a partir desta maneira de viver que também nos desinstala por causa de todos os que não são vistos. Para mim a proposta que vem desta fé católica, tem mesmo de ser vivida verdadeiramente com coerência, no que é amar sobretudo aqueles que não se veem, que não têm voz, que vivem as maiores dores, independentemente da sua posição social».
«Como é que mantemos e vivemos a alegria sem a perder depois da maior perda da minha existência e onde estava o novo caminho que necessitava fazer. Foi um período muito difícil e exigente mas também de redescoberta de forças, não apenas a nível individual, mas sobretudo da rede extraordinária, absolutamente divina de pessoas que têm estado ao meu lado. Chorámos e rimos em conjunto, reencontramos o propósito e também, por isso, celebrei o facto de termos sido capazes de nos perguntar, como humanidade, o que seria realmente importante, onde estava a essência, o que estaríamos a viver que não nos tornava coerentes, mas desalinhados com uma vida vivida com sentido. Esses passos foram transformadores, celebrativos, juntamente com uma dor de profundo desânimo, mas foi feito num diálogo porque estávamos uns com os outros».
«Quanto mais usarmos palavras de desânimo, de descrença, desconfiança, o nosso discurso individual e até o coletivo, cresce. Somos pessoas basicamente boas. Estamos num momento da história em que isso é cada vez mais visível – estamos mesmo a fazer uma trajetória de reconhecimento que queremos viver vidas que valham a pena, não apenas para nós, mas saber qual o nosso lugar no mundo. É a dimensão da felicidade pública. Faz sentido eu ser virtuoso se isso for contributivo para uma sociedade que precisa das minhas virtudes, de mim quanto mais iluminado possível. Importa perceber como é que eu estou a ajudar que o mundo seja o lugar que eu desejo».