António Estanqueiro, Professor e Formador
Vivemos tempos de grande incerteza. Precisamos de cultivar a esperança, um sentimento positivo que nos faz acreditar no futuro e nos motiva para agir com persistência na realização dos nossos projetos, enfrentando as inevitáveis adversidades.
A esperança no futuro dá sentido à existência e torna mais suportável o sofrimento. É uma força interior com impacto na proteção da saúde física e mental, na conquista do sucesso, no aperfeiçoamento das relações interpessoais e na construção de um mundo mais humano.
Como cultivar a esperança?
Ser realista
Vitamina da alma, a esperança está ligada ao otimismo realista e consciente. Com esperança ativa, fazemos o que está ao nosso alcance. Esperamos o melhor, preparados para o pior. Se as coisas correm bem, celebramos o sucesso. Se correm mal, não inventamos justificações nem atribuímos culpas aos outros. Assumimos a responsabilidade pela nossa vida pessoal e social, aprendemos com os erros e aceitamos com serenidade os acontecimentos que não podemos controlar (por exemplo, doenças, acidentes e perdas).
É um erro confundir a esperança com o otimismo excessivo e ingénuo de quem vê apenas os aspetos positivos da realidade e fica à espera do futuro, passivamente, de braços cruzados: “Vai correr tudo bem.” Quando alguém confia demasiado na sorte e não faz esforço para que o melhor aconteça, deixa de ser protagonista do seu destino. Vive numa ilusão!
Pior é o pessimismo radical. Com esta atitude negativa sobre a vida, algumas pessoas acreditam que o futuro está fora do seu controlo e antecipam desgraças: “Vai correr tudo mal.” “Não vale a pena o esforço.” Assim, alimentam o círculo vicioso da desesperança: quanto menos esperam, menos esforço fazem; quanto menos esforço fazem, menos esperam. A tendência é desanimar e desistir.
Há, de facto, situações difíceis, que geram tristeza, ansiedade, angústia e medo do futuro. Em casos extremos, sobretudo entre os jovens que sofrem sem sentido, a desesperança pode conduzir à depressão e ao suicídio. Quando se perde a esperança, a vida torna-se um inferno!
Com realismo, mesmo em circunstâncias adversas, é possível cultivar a esperança ativa, verdadeiro antídoto contra o medo. O futuro constrói-se no presente, sem esquecer as lições do passado.
Aprender com o passado
Todos temos uma história pessoal, fruto das raízes familiares e das experiências vividas nas interações sociais. Conhecer o nosso passado ajuda a compreender o que somos no presente e o que projetamos para o futuro.
Faz-nos bem revisitar o passado, o caminho percorrido, desde que não nos tornemos prisioneiros de lembranças tristes, que nos roubam a paz interior e a esperança.
Se trazemos na memória uma bagagem emocional pesada, sentimentos de culpa e vergonha pelos erros que cometemos ou sentimentos de ódio e desejo de vingança pelas ofensas que sofremos, precisamos de libertar-nos das amarras do passado. Umas vezes, serve um sincero pedido de desculpas a quem prejudicámos; outras vezes, exige-se a capacidade de perdoar a quem nos ofendeu.
Não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos mudar a nossa perspetiva sobre o que aconteceu. O passado interessa pelo que nos ensina. Quando refletimos criticamente sobre as experiências negativas, devemos focar-nos nas lições que aprendemos, para não repetirmos os erros do passado.
Mais saudável é recordar as experiências positivas. Valorizar as boas memórias, dando mais atenção aos ganhos do que às perdas, aumenta a nossa alegria e fortalece a nossa esperança.
Viver o presente
A vida de cada um de nós é uma dádiva, um milagre. Nesta vida breve, onde nada está garantido, o passado já não volta e o futuro é imprevisível. Apenas temos o presente para viver. É no presente que a vida acontece e cultivamos a esperança no futuro.
Horácio (65 a. C – 8 a. C.), poeta e filósofo da Roma Antiga, deixou-nos um conselho sábio: “carpe diem.” Esta expressão latina, que significa “aproveita o dia”, convida-nos a viver o presente com intensidade. De corpo e alma. Sem pressa.
Aproveitar bem o dia não significa o mesmo para todos. Somos pessoas únicas e vivemos em contextos diferentes. Mas, no essencial, é dar prioridade ao que realmente importa, não apenas ao mais apetecível. E sentir gratidão pelas bênçãos que recebemos gratuitamente, em especial os gestos de amor incondicional da família e dos amigos.
O nosso futuro depende muito do que fazemos no presente. Neste sentido, o futuro começa agora. Como seres livres e responsáveis, devemos fazer escolhas conscientes, o que implica, algumas vezes, a necessidade de renunciar aos prazeres imediatos e adiar gratificações. Temos de agir bem hoje para que amanhã seja melhor. E saber esperar com paciência os frutos dos nossos atos.
É sensato agir com visão de futuro. Mas é um erro desperdiçar o tempo presente, prometendo a nós mesmos viver intensamente mais tarde: “Quando eu acabar o curso…” “Quando eu encontrar um bom trabalho…” “Quando eu tiver férias…” “Quando eu tiver a minha casa…” “Quando eu me casar…” “Quando eu tiver filhos…” “Quando os filhos crescerem…” “Quando eu me reformar…”
O melhor momento para procurar o sentido da vida e ser feliz é hoje. Se não for hoje, quando será?
Cuidar do futuro
Não sabendo o dia de amanhã, temos a responsabilidade de cultivar a esperança. Muitas vezes alicerçada na fé, a esperança é uma força espiritual, uma virtude poderosa para o futuro de cada um de nós e para o futuro da humanidade. Quanto mais autêntica a fé, mais profunda a esperança.
Foi com esperança que grandes líderes como Mahatma Gandhi (1869-1948), Martin Luther King (1929-1968), Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) e Nelson Mandela (1918-2013) deram a vida em defesa dos direitos humanos. É verdade que não conseguiram tudo o que sonhavam. Mas, se eles não tivessem lutado com coragem pelos valores éticos e religiosos em que acreditavam, certamente a humanidade estaria pior.
Na atualidade, vemos ameaças graves à vida futura: as alterações climáticas, as injustiças, a pobreza, a corrupção, a discriminação, o ódio, a violência e as guerras. Felizmente, não faltam pessoas, comunidades e organizações que combatem a ignorância e a maldade, respeitando a dignidade humana. São sinais de esperança!
Em tempos de incerteza e desorientação moral, todos somos desafiados a semear a esperança no coração das pessoas com quem interagimos, ajudando-as a encontrar razões de viver e oferecendo-lhes gestos de empatia, compaixão e solidariedade. Devemos cuidar de nós mesmos e do próximo. Ninguém sobrevive sozinho.
Quem tem mais poder, tem mais responsabilidade na construção dos caminhos para o futuro. Aos líderes políticos e religiosos exige-se que usem o diálogo sem preconceitos e unam esforços na proteção do planeta e na promoção de uma cultura de justiça, fraternidade e paz. Aos educadores, pais e professores, pede-se que sejam modelos de esperança ativa para as novas gerações. Cultivar a esperança é cuidar do futuro.
António Estanqueiro, Professor e Formador