D. António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu
A sociedade em que vivemos é marcada por um grande desenvolvimento humano, económico, científico, tecnológico e informático. Contudo, a fome, a pobreza e a guerra continuam a existir e nem com a inteligência artificial foi possível colocar-lhes um fim.
Os contrastes marcantes entre o mundo dos ricos e dos pobres tornam-se cada vez mais acentuados, de forma desproporcional, criando imensas desigualdades visíveis, a olho nu, em bairros sociais e outros espaços, onde a insegurança, a fome e a pobreza levam à marginalização das pessoas.
Precisamos de prestar atenção às pessoas, onde quer que elas habitem, através de programas de formação e de integração social com políticas de respeito, humanizadas e democráticas, promovendo os valores da liberdade.
Os recentes acontecimentos, ocorridos em bairros do nosso país, devem preocupar-nos a todos e levar-nos a um diálogo sadio com as pessoas, sem esquecer o respeito pelas autoridades e pelas forças de segurança.
Quando se afirma que Portugal é um país seguro para viver e todos esperamos que sim, também devemos refletir juntos sobre o aumento da da pobreza e da violência que existe e tende a aumentar.
A Doutrina Social da Igreja convida-nos, a todos, a uma distribuição mais justa da riqueza e dos bens para com as pessoas e os povos mais pobres, com programas estruturais de desenvolvimento, que diminuam as desigualdades sociais.
As nações mais ricas do mundo, em conjunto com as suas instituições, devem tomar medidas mais ousadas e criar respostas sociais mais céleres que cheguem a todos.
Quando se fala de fome, de pobreza, de falta de trabalho, de ajuda económica e de cuidados de saúde primários a quem mais precisa, todos ficamos preocupados e apreensivos.
O nosso mundo precisa de encontrar o equilíbrio e a paz e estabelecer a ordem social que promova o desenvolvimento, a habitação digna e o trabalho remunerado sem exploração de ninguém.
É forte a palavra do Papa Francisco na Bula para o Ano Santo Jubilar da Esperança, quando nos apela a interpretar “os sinais dos tempos” à luz do Evangelho, para que assim possa responder, em cada geração, às perguntas que dão sentido à vida presente e futura. Precisamos de transformar os sinais dos tempos em sinais de esperança durante o Ano Jubilar: ou seja a construção da paz duradoura e o fim da guerra; a abertura à vida e a promoção da natalidade; ajudar os que vivem em dificuldades e ter um cuidado especial aos presos; ter atenção aos doentes, que se encontram em casa ou no hospital; acolher os jovens; ajudar aos migrantes e os exilados, deslocados e refugiados; cuidar dos idosos com dignidade e ajudar os pobres do mundo (cf. Bula nº 7-15). “Não esqueçamos: os pobres são quase sempre vítimas, não culpados” (Papa Francisco, Bula nº 15).
Cuidemos dos nossos pobres, matemos a fome aos famintos e que com a ajuda das instituições da Igreja e das estatais, do empenho das nações e organizações internacionais consigamos diminuir a pobreza no mundo, criando projetos para acabar com a fome e ajudar milhões de seres humanos, que já pouco têm ou nada possuem para sobreviver com dignidade.
Devemos falar de sinais de esperança e semeá-los no coração das pessoas. Para isso, é preciso mais diálogo sobre partilha, ajuda, pão, saúde, paz, amor, fraternidade e solidariedade e não acentuar tanto os flagelos negativos, causadores de destruição e de morte.
Cuidar dos pobres, fazer chegar alimentos a lugares de guerra e de conflitos, através de corredores de paz, de solidariedade e de esperança é um dos maiores desafios dos nossos dias. Como na recente mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco ajudava-nos a refletir a partir da seguinte expressão bíblica: “A oração do pobre eleva-se até Deus” (cf. Sir 21,5).
Nestes dias, a Cimeira do Clima, realizada no Azerbaijão, trouxe um sinal de esperança para o mundo, embora os responsáveis tenham dificuldade em chegar a acordo sobre as alterações climáticas. Elas são responsáveis por fenómenos de destruição e morte. Diante de tantas catástrofes, como a recente tempestade que se abateu sobre a região de Valência e sul de Espanha, é preciso tomar medidas, pois elas são um sinal de alerta preocupante para a civilização atual.
O grito das pessoas que perderam tudo, o choro e saudade dos que morreram, a destruição massiva de casas, bens essenciais, o amontoado de automóveis e outras estruturas são imagens difíceis de esquecer. Como cuidar a nível psicológico e pastoral desta gente?
A Cimeira do G20 no Brasil, com líderes empenhados em erradicar a fome no mundo, enfrenta ainda muitas dificuldades. Muitas teorias e princípios, que deviam passar depressa à prática, pois há muita gente a morrer de fome, por falta de pão, de medicamentos, de água potável, de cuidados de saúde e habitação condigna.
Podemos perguntar, para onde caminha o nosso mundo? Que soluções existem perante as dificuldades e tragédias do mundo? Há dificuldade no diálogo e entendimento entre os responsáveis das nações e os políticos.
Chega de mortes provocadas pela fome, guerra e por tantos crimes cometidos no mundo que ofendem o Criador, destroem a dignidade da pessoa humana e aniquilam o equilíbrio da ecologia.
É preciso passarmos uma mensagem humanista e cristã de respeito pelo outro e pela natureza. Comecemos pelas famílias, aldeias, vilas e cidades e cuidemos dos nossos pobres e do nosso planeta. Não deixemos que os interesses económicos prevaleçam.
São precisos gritos de alerta em todo mundo e em todas as circunstâncias. Façamos uma verdadeira conversão interior diante do fenómeno da fome, da pobreza e da guerra e trabalhemos todos para que a fraternidade e a solidariedade sejam mais efetivas e produtivas.
Peçamos ao Senhor da Vida a graça de termos um: “Amor preferencial pelos pobres!”.
+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu