José Luís Nunes Martins
A minha vida depende muito mais do meu modo de ser do que das coisas que possuo.
A nossa liberdade possibilita-nos que escolhamos, não a nossa alma, mas a forma como a expressamos, como realizamos aquilo que nos é possível. Somos inteiros, mas cada um de nós é tão rico a vários níveis que a nossa identidade a cada momento pode ser diferente, sem que deixemos de ser quem somos!
A cada dia, eu escolho de que forma ser eu. Mais ou menos simpático, de entre aquilo que consigo; mais egoísta ou mais generoso, de entre aquilo que me é possível ser; confiar ou desconfiar dos outros, dentro dos limites do que não deixarei de ser eu próprio.
Na maior parte do tempo, acreditamos que a nossa alegria depende do que se passa à nossa volta, como se fossemos espelhos que apenas devolvem o que lhes aparece diante. Ora, nós temos a capacidade de ser fontes de bem (e de mal) para nós mesmos, como se fossemos fogo, capaz de iluminar os nossos caminhos e os dos outros, aquecer, orientar e até queimar o mal (ou o bem) que escolhemos.
Dois de nós, nas mesmas circunstâncias, escolhem ser de forma diferente. Há fracassos que a alguns destroçam e a outros lhes dão mais ânimo. A maneira como lidamos com o futuro, depositando mais ou menos confiança, é também uma escolha muito determinante para o nosso bem-estar. Centro-me no que de mau poderá acontecer e decido começar desde já a preparar-me? Ou foco-me no que de bom pode acontecer à minha volta, e sou feliz desde já só porque acredito no que está por vir?
Por maior que seja a desgraça que tivermos sido condenados a viver, ainda nos cabe, quer o queiramos quer não, escolher se isso é razão suficiente para desistirmos ou se ainda queremos lutar, apesar de tudo. Porque, afinal, somos tão cobardes quanto heróis. Cabe a cada um decidir-se.