José Ribeiro e Castro, Deputado
Os tempos não vão famosos, nem sorridentes. Para muita coisa; e para a família também. Nos últimos 50 anos, muito mudou, na Europa, no Ocidente, em Portugal também. A crise é ampla e geral. Mas olhemos só ao nosso país.
O número de casamentos por ano, em Portugal, caiu para metade: de 69.457 em 1960 para 35.711 em 2011. Dentro desta quebra global, subiram os casamentos civis (de 6.422 para 21.481) e caíram vertiginosamente os católicos (de 63.035 para 14.121, ou seja, para um quarto do que eram), tendo surgido alguns casamentos por outros ritos (109, em 2011). O número de divórcios anual explodiu: de 749 em 1960 para 27.556 em 2010. Só nos últimos 30 anos, perdemos mais de 55.000 nascimentos por ano: em 1981, houve 152.071 nascimentos ; em 2011, apenas 96.856, o mais baixo número de que há memória nas últimas décadas. O índice de fertilidade tombou para 1,31, bem abaixo do número que assegura a mera substituição natural das gerações (2,1). O número de lares monoparentais aumentou exponencialmente, assim como o número de filhos nascidos fora do casamento. Os filhos únicos aumentaram e caiu o número de irmãos. O envelhecimento da sociedade é cada vez mais notório, pelas boas e pelas más razões: por um lado, porque vivemos mais anos; por outro lado, porque há cada vez menos crianças e jovens. Assiste-se ao agravamento significativo dos indicadores sociais de dependência, pondo em crise todos os sistemas sociais. Fecham escolas, faltam lares de terceira idade.
As Nações Unidas apresentaram, há um ano, a previsão de que, até ao fim deste século, Portugal perderá 4 milhões de habitantes, o que significa o equivalente a vermos desaparecer uma cidade como o Porto a cada cinco anos. E a média etária do país sobe continuamente. Somos cada vez menos, cada vez mais velhos, cada vez mais sós.
Como quadro de fundo, temos a crise financeira, que gerou a crise económica e uma crise social. E, por debaixo de tudo, temos aquela outra crise social revelada pelos indicadores da família e da população, que é por si só capaz de induzir a completa rutura financeira dos sistemas sociais, em virtude da insuficiência de ativos face ao número de dependentes. São cada vez mais aqueles que repetem, como ciência certa, que creem que já não irão ter pensão de reforma, apesar de descontarem para ela. O endividamento acumulado pesa brutalmente sobre o presente e o futuro próximo. Os impostos asfixiam. Reduzem-se salários e pensões. A recessão anda aí. O desemprego galopa. Apesar de a inflação ser baixa, a pressão do aumento dos preços sente-se muito. A incerteza é imensa. Os tempos não vão famosos, nem sorridentes.
No sábado passado, fui a um casamento. Católico. Os noivos irradiavam felicidade. Dava gosto vê-los. Na cerimónia, cá fora, durante a boda e a festa. Estiveram horas seguidas a sorrir. Não se viu sombra de apreensão. Não eram ricos, antes gente comum. E, além deles, havia outros casais novos seus amigos. Alguns bebés, em idade de serem amamentados, atrelados necessários das suas jovens mães. Também nesses amigos, se respirava alegria e confiança: a que partilhavam com os noivos e a que viviam eles próprios. Era felicidade em estado puro. E foi, sem ninguém ter o dizer, um cristalino espetáculo de Esperança. Ali, terra a terra.
Foi um oásis no meio da crise. Um oásis precioso. Um elixir revigorante.
A família também é isso: esse oásis e esse elixir. A família baseada no casamento, construída no amor do homem e da mulher, ordenada aos filhos e à reprodução das gerações, é uma fonte de justificação da vida e dos seus trabalhos, um espaço de identidade, um lugar de paz, um abraço de pertença, a contínua renovação de missão, traço direto e escola permanente de solidariedade, um lugar de começo e um lugar de destino.
As famílias sofrem, como todos, os tempos duros e difíceis. Mas atravessam-nos melhor. E podem sair do lado de lá mais fortes.
Por outro lado, também estes tempos duros e difíceis, se olharem como eu olhei para casamentos como o do meu sábado passado, produzirão tempos de renascimento, tempos de renascimento da família e da esperança. Só assim, aliás, conseguiremos apagar do nosso horizonte coletivo os piores de todos os indicadores: os indicadores da solidão, do envelhecimento, da decadência.
A família é vigor. A família é esperança. A família é vida. A família é confiança. A família é união. Como sairemos nós da crise sem vigor, sem esperança, sem vida, sem confiança, sem união? E como viveríamos nós sem ser em crise, destruindo o vigor, a esperança, a vida, a confiança, a união?
Seguirei, por isso, com muita atenção e curiosidade, as palavras que o Santo Padre Bento XVI tiver a deixar-nos no próximo VII Encontro Mundial das Famílias, em Milão, no final deste mês, sob o lema “A família: o trabalho e a festa”. Aí juntaremos a inspiração do verbo e a inspiração do exemplo. Com a palavra do Papa, a vibração de milhões de famílias, reunidas no local e pela televisão, será um poderoso alimento de ânimo na travessia tão dura que estamos a fazer.
Se a família fosse só esperança, já seria muito. Mas a família é mais do que esperança no futuro – é a confiança de construir o futuro. É essa a sua força. É essa a nossa força.
José Ribeiro e Castro
Deputado
O número de casamentos por ano, em Portugal, caiu para metade: de 69.457 em 1960 para 35.711 em 2011. Dentro desta quebra global, subiram os casamentos civis (de 6.422 para 21.481) e caíram vertiginosamente os católicos (de 63.035 para 14.121, ou seja, para um quarto do que eram), tendo surgido alguns casamentos por outros ritos (109, em 2011). O número de divórcios anual explodiu: de 749 em 1960 para 27.556 em 2010. Só nos últimos 30 anos, perdemos mais de 55.000 nascimentos por ano: em 1981, houve 152.071 nascimentos ; em 2011, apenas 96.856, o mais baixo número de que há memória nas últimas décadas. O índice de fertilidade tombou para 1,31, bem abaixo do número que assegura a mera substituição natural das gerações (2,1). O número de lares monoparentais aumentou exponencialmente, assim como o número de filhos nascidos fora do casamento. Os filhos únicos aumentaram e caiu o número de irmãos. O envelhecimento da sociedade é cada vez mais notório, pelas boas e pelas más razões: por um lado, porque vivemos mais anos; por outro lado, porque há cada vez menos crianças e jovens. Assiste-se ao agravamento significativo dos indicadores sociais de dependência, pondo em crise todos os sistemas sociais. Fecham escolas, faltam lares de terceira idade.
As Nações Unidas apresentaram, há um ano, a previsão de que, até ao fim deste século, Portugal perderá 4 milhões de habitantes, o que significa o equivalente a vermos desaparecer uma cidade como o Porto a cada cinco anos. E a média etária do país sobe continuamente. Somos cada vez menos, cada vez mais velhos, cada vez mais sós.
Como quadro de fundo, temos a crise financeira, que gerou a crise económica e uma crise social. E, por debaixo de tudo, temos aquela outra crise social revelada pelos indicadores da família e da população, que é por si só capaz de induzir a completa rutura financeira dos sistemas sociais, em virtude da insuficiência de ativos face ao número de dependentes. São cada vez mais aqueles que repetem, como ciência certa, que creem que já não irão ter pensão de reforma, apesar de descontarem para ela. O endividamento acumulado pesa brutalmente sobre o presente e o futuro próximo. Os impostos asfixiam. Reduzem-se salários e pensões. A recessão anda aí. O desemprego galopa. Apesar de a inflação ser baixa, a pressão do aumento dos preços sente-se muito. A incerteza é imensa. Os tempos não vão famosos, nem sorridentes.
No sábado passado, fui a um casamento. Católico. Os noivos irradiavam felicidade. Dava gosto vê-los. Na cerimónia, cá fora, durante a boda e a festa. Estiveram horas seguidas a sorrir. Não se viu sombra de apreensão. Não eram ricos, antes gente comum. E, além deles, havia outros casais novos seus amigos. Alguns bebés, em idade de serem amamentados, atrelados necessários das suas jovens mães. Também nesses amigos, se respirava alegria e confiança: a que partilhavam com os noivos e a que viviam eles próprios. Era felicidade em estado puro. E foi, sem ninguém ter o dizer, um cristalino espetáculo de Esperança. Ali, terra a terra.
Foi um oásis no meio da crise. Um oásis precioso. Um elixir revigorante.
A família também é isso: esse oásis e esse elixir. A família baseada no casamento, construída no amor do homem e da mulher, ordenada aos filhos e à reprodução das gerações, é uma fonte de justificação da vida e dos seus trabalhos, um espaço de identidade, um lugar de paz, um abraço de pertença, a contínua renovação de missão, traço direto e escola permanente de solidariedade, um lugar de começo e um lugar de destino.
As famílias sofrem, como todos, os tempos duros e difíceis. Mas atravessam-nos melhor. E podem sair do lado de lá mais fortes.
Por outro lado, também estes tempos duros e difíceis, se olharem como eu olhei para casamentos como o do meu sábado passado, produzirão tempos de renascimento, tempos de renascimento da família e da esperança. Só assim, aliás, conseguiremos apagar do nosso horizonte coletivo os piores de todos os indicadores: os indicadores da solidão, do envelhecimento, da decadência.
A família é vigor. A família é esperança. A família é vida. A família é confiança. A família é união. Como sairemos nós da crise sem vigor, sem esperança, sem vida, sem confiança, sem união? E como viveríamos nós sem ser em crise, destruindo o vigor, a esperança, a vida, a confiança, a união?
Seguirei, por isso, com muita atenção e curiosidade, as palavras que o Santo Padre Bento XVI tiver a deixar-nos no próximo VII Encontro Mundial das Famílias, em Milão, no final deste mês, sob o lema “A família: o trabalho e a festa”. Aí juntaremos a inspiração do verbo e a inspiração do exemplo. Com a palavra do Papa, a vibração de milhões de famílias, reunidas no local e pela televisão, será um poderoso alimento de ânimo na travessia tão dura que estamos a fazer.
Se a família fosse só esperança, já seria muito. Mas a família é mais do que esperança no futuro – é a confiança de construir o futuro. É essa a sua força. É essa a nossa força.
José Ribeiro e Castro
Deputado