A publicação da exortação apostólica «Igreja na Europa» («Ecclesia in Europa») constituiu mais uma oportunidade para que João Paulo II apelasse à inclusão do cristianismo no texto do Tratado Constitucional da UE João Paulo II não admite que a Europa possa crescer sem a mensagem e a energia do Cristianismo e defende que “as raízes cristãs são para a Europa a principal garantia de seu futuro”. O Papa defendeu estas posições na apresentação da exortação apostólica Ecclesia in Europa, que tem como base as reflexões entregues a João Paulo II no final da II assembleia especial do sínodo do bispos para a Europa, datada de Outubro de 1999. “A Boa Nova foi e continua a ser fonte de vida para a Europa; se é verdade que o cristianismo não é redutível a nenhuma cultura particular, mas dialoga com cada uma para as orientar a exprimir o melhor de si em todos os ramos do saber e do agir humano, as raízes cristãs são para a Europa a principal garantia do seu futuro”, vincou o Papa na homilia das primeiras Vésperas da Solenidade de São Pedro e São Paulo, a 28 de Junho. O documento agora publicado, de 135 páginas e traduzido em sete idiomas, recolhe as 40 propostas que apresentaram os 179 bispos que participaram na assembleia sinodal. O lema da exortação é o mesmo que o do sínodo: «Jesus Cristo vivo na sua Igreja, fonte de esperança para Europa». A União Europeia, segundo o Papa, «não terá solidez se ficar reduzida somente à dimensão geográfica e económica, pois deve consistir antes de tudo numa concórdia sobre os valores, que se expresse no direito e na vida» (n. 110). Por isso, João Paulo II pede que na futura Constituição Europeia figure a referência ao património religioso e particularmente cristão e que se respeitem os direitos que são próprios das Igrejas e comunidades religiosas. “Poderia uma árvore sem raízes viver e desenvolver-se? Europa, não esqueças a tua história”, advertiu na apresentação do texto. A exortação apostólica faz, em primeiro lugar, um apelo aos católicos europeus para viver a fundo o Evangelho, pois constata na Igreja na Europa “sintomas preocupantes de mundanização.” Ao modelo cultural que está a levar ao ofuscamento da esperança o Papa contrapõe um modelo de um continente consciente da própria herança espiritual, portador de um modelo de globalização da e na solidariedade, de paz. “Ecclesia in Europa” convida também a “proclamar o mistério de Cristo”, constatando que na Europa está a crescer o número de não baptizados e que existem muitos baptizados afastados da fé que necessitam de uma nova evangelização. As indicações que o Papa dá à Igreja na Europa partem da afirmação que no actual contexto de pluralismo ético e religioso “há necessidade de comportamentos exemplares e coerentes”. Na Igreja inteira enviada em missão os padres permanecerão celibatários e a dignidade da mulher deverá ser promovida, pode ainda concluir-se a partir da leitura do texto. O documento constata a sede de Deus que continuam a manifestar os europeus, e adverte perante o perigo de perder o sentido da celebração dos Sacramentos, em particular o da Reconciliação e da Eucaristia. Como campo de acção concreta, a exortação propõe o serviço da caridade para estender a «cultura da solidariedade», dando nova esperança aos pobres. Neste sentido, o Papa oferece três grandes linhas de acção: a defesa e promoção da família, da vida , e dos direitos dos imigrantes.