Padre Miguel Neto, Diocese do Algarve
A mensagem do Papa Francisco para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações”, ressoa como um apelo urgente em tempos marcados pela desinformação e polarização. O Santo Padre convida-nos a refletir sobre o papel crucial da comunicação e a responsabilidade que temos, individual e coletivamente, em promover a esperança num mundo frequentemente dominado pelo medo, pela raiva e pela manipulação.
Francisco diagnostica, com precisão, os males que afligem a comunicação contemporânea: a disseminação de notícias falsas, o discurso de ódio, a simplificação da realidade e a “dispersão programada da atenção”, pelas plataformas digitais. Ele aponta para a lógica perversa da competição e da busca incessante por um “inimigo” a ser atacado, obscurecendo rostos e dignidades, minando a capacidade de diálogo e a construção do bem comum.
Diante desse cenário desalentador, o Papa apresenta-nos a esperança, não como um otimismo ingénuo, mas como uma virtude “performativa”, capaz de transformar vidas: uma esperança enraizada na fé cristã, no rosto do Senhor ressuscitado e que se manifesta na partilha da beleza do amor e numa nova maneira de viver. Tal esperança, contudo, exige coragem e a ousadia de abandonar as ilusões e as mentiras que oferecem falsa segurança.
O apelo à “mansidão” na comunicação é central na mensagem de Francisco. Ele convida-nos a sermos “companheiros de viagem”, a exemplo de Jesus com os discípulos de Emaús, dialogando com empatia e a reacendendendo a esperança nos corações. Sonha com uma comunicação que aposte na beleza, que gere empenho e interesse pelo outro, que nos ajude a reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar da nossa Casa Comum.
A mensagem papal não se limita a um diagnóstico e a uma exortação. Oferecem, também, pistas concretas para a construção de uma comunicação mais humana e esperançosa: cuidar da vida interior, falar ao coração, semear esperança, mesmo em terrenos áridos, curar as feridas da humanidade, dar espaço à confiança e ser testemunha de uma cultura do cuidado.
O convite à esperança é, por fim, um projeto comunitário. O Jubileu, com sua mensagem de misericórdia e perdão, recorda-nos da importância de caminhar juntos, de atravessar a Porta Santa em comunhão com nossos irmãos e irmãs. Somos chamados a ser “peregrinos da esperança”, a buscar e a compartilhar as histórias de bem que se escondem por trás das notícias, a encontrar as centelhas de esperança que iluminam o caminho e nos ajudam a tecer a comunhão num mundo fragmentado.
A mensagem do Papa Francisco é um convite à reflexão e à ação. Um chamamento para que cada um de nós, comunicadores formais ou informais, assuma a responsabilidade de construir um futuro mais justo, fraterno e esperançoso. Um futuro onde a comunicação seja instrumento de diálogo, de encontro e de construção de um mundo melhor para todos. Porque, não esqueçamos, todos somos comunicadores e todos temos uma preconceção errada, de que sabemos tudo sobre como comunicar.