À espera de férias

Ajuda a imigrantes no Centro Jesuíta aos Refugiados. Com o aproximar das férias, constata-se que elas podem ser uma “grande dor de cabeça” para muitos imigrantes: os que trabalham sem descanso e não têm onde deixar os filhos. Agência Ecclesia – O que significa “férias” para os imigrantes? Rosário Farmhouse – Significa um sonho, que poucos podem realizar. São poucos os imigrantes que conheço que vão ter realmente férias, que descansam. Primeiro, porque alguns começaram a trabalhar há pouco tempo e não têm direito a férias. Depois, porque muitos optam por trabalhar também no período de férias, recebem mais e vão ao encontro da necessidade dos patrões neste período. Férias, para os imigrantes, significa também uma grande dor de cabeça porque não sabem o que fazer com os filhos: estão quase 3 meses sem aulas e não têm onde deixar os filhos. Aqui no serviço estamos a tentar desenvolver projectos nesse sentido mas neste ano ainda não conseguimos. Conheço muitos pais e mães que têm de deixar os filhos em casa, porque vão trabalhar e não têm os “abençoados” avós, tios ou primos, nem possibilidade de pagar ATL, por exemplo. Isto passa-se com crianças dos 5 aos 15 anos! AE – Não significa praia… RF – Não. Nalguns fins-de-semana, talvez: vão para as praias junto a Lisboa AE – A descoberta do mar é, no entanto fascinante… RF – Sim, muitos vieram de regiões sem acesso ao mar. Por isso o mar é um fascínio, assim como este sol bastante quente. É uma alegria para muitos, mas nem todos têm acesso a ela. AE – Acontecem deslocações nesses imigrantes durante períodos de férias? RF – São poucos os imigrantes que fazem férias fora de Portugal sem ser o país de origem. São também poucos os que fazem férias fora do local onde residem todo o ano. Está a acontecer é, entre os que já cá estão há mais tempo e já compraram carro, irem ao seu País origem de carro: dormem no carro e vão conhecendo outras terras. Fazem como os nossos emigrantes, apesar de se deslocarem para mais longe. AE – Para os portugueses, fazer férias noutros países e culturas pode significar uma aproximação ao que significa “mobilidade humana”? RF – Acho que sim. Nas férias temos, pelo menos, tendência para sermos mais tolerantes: não estamos tão pressionados pelo stress diário, estamos mais habituados (porque Portugal é um país de turistas) a ver caras novas e pessoas que falem línguas diferentes, o que nos dá uma maior capacidade de acolhimento. Nas férias não somos tão preconceituosos ou rigorosos como no resto do ano. Penso que o Euro 2004, neste caso, contribuiu bastante positivamente para a aceitação do estrangeiro.

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Agência ECCLESIA

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