Desconhece-se onde está a Irmã Gloria, raptada em 2017 no Mali
A vida pelos outros
Fez dia 7 de Fevereiro exatamente 1095 dias desde que a Irmã Gloria Narvaez Argoti foi raptada por jihadistas na missão franciscana onde vivia, em Karangasso, no Mali. Não se sabe onde está, não se sabe como está. Mas no Mali todos recordam esta irmã como uma verdadeira heroína. No dia do ataque, ela ofereceu-se aos terroristas para ser levada por eles em vez de outra irmã mais nova.
Desde setembro de 2018 que não há qualquer notícia sobre a Irmã Gloria Cecilia Narvaez Argoti, uma colombiana, de 57 anos de idade, que pertence à Congregação das Franciscanas de Maria Imaculada. Nessa altura, foi divulgado um vídeo com a irmã e onde aparece também uma outra refém, a médica francesa Sophie Petronin. A irmã Gloria aparece a solicitar a ajuda do Santo Padre para a sua libertação, agradecendo-lhe por “se ocupar” do seu caso e pedindo-lhe também para não se esquecer da situação da “senhora Sophie Petronin, porque ela está muito doente”.
O vídeo termina com a religiosa a dizer que “faz todos os dias” a mala e prepara as suas coisas, pois “aguarda todos os dias” também pela sua libertação. Desde então, já passaram cerca de 20 meses. Vinte meses de silêncio. Anteriormente tinham sido divulgados dois outros vídeos, em Julho de 2017 e em Janeiro de 2018. Ambos foram entendidos também como “prova de vida” que os terroristas estariam a produzir para o exterior, alimentando a expectativa de que as autoridades teriam estabelecido linhas de contacto para eventuais negociações com vista à libertação da irmã e dos outros reféns. Negociações que envolveriam pelo menos quatro países: Colômbia, França, Espanha e Vaticano. O primeiro vídeo – divulgado pelo auto-proclamado “Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos”, uma organização terrorista ligada à Al Qaeda – é disso exemplo, pois são filmados, além da irmã, outros cinco reféns estrangeiros, entre os quais Beatrice Stockly, uma missionária suíça e a francesa Sophie Petronin.
O ataque
O ataque dos jihadistas de 7 de fevereiro de 2017 à casa das irmãs franciscanas em Karangasso revelou toda a coragem da Irmã Gloria. Os pormenores do que aconteceu nesse dia seriam conhecidos mais tarde. Mal entraram na casa, os terroristas apontaram uma arma à irmã mais nova da comunidade, dizendo que a iam levar. Foi então que a Irmã Gloria, apercebendo-se que se tratava de um rapto e não de um assalto, pediu para a levarem em vez da outra religiosa. Esse gesto altruísta revelou muito da sua personalidade. Para as populações locais, o rapto revelou-se estranho e até inexplicável. Como é possível fazer-se mal a um punhado de mulheres consagradas a Deus e ao próximo, e que estavam ali apenas a ajudar em áreas bem necessárias, como o apoio na saúde, na alimentação e na alfabetização?
De facto, há mais de uma década que as Irmãs Franciscanas de Maria Imaculada desenvolviam a sua missão no Mali, procurando ajudar as populações mais carenciadas. O rapto da irmã colombiana é apenas um exemplo da violência extrema que tem estado a atingir as comunidades cristãs, não só no Mali mas também nos países da região, com destaque para o Níger e o Burkina Faso.
Há mais de mil dias que a Irmã Gloria Cecilia Narvaez Argoti foi raptada por jihadistas na missão franciscana onde vivia e trabalhava em Karangasso. Ela é símbolo da Igreja perseguida neste país e, simultaneamente, em todo o continente africano que tem estado a viver tempos de violência incomuns contra a comunidade cristã.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt