Índia. Campanha da Quaresma da Fundação AIS. Apoiar os “dalits”
A coragem de Bita
Ali, no norte da Índia, onde Bita vive com o seu marido, os Cristãos são uma minoria, confundem-se com os mais pobres da sociedade e são perseguidos. Há um crescente sentimento de intolerância. Bita sabe bem o que é a hostilidade dos outros. Apesar disso, nunca renunciou à sua fé em Jesus. Que é, diz, o seu maior tesouro.
Na Índia, os Cristãos são, na sua maioria, ‘dalits’ ou intocáveis, os que não têm quaisquer direitos no sistema de castas em que o país está hierarquizado, e confundem-se com os mais pobres dos pobres. Bita era apenas uma mulher ‘dalit’ que vivia numa casa extremamente rude, no norte do país, com o marido e um filho ainda criança. Trabalhava nos campos mas mal conseguia sobreviver. Tinha uma vida amaldiçoada como todos os insignificantes que carregam consigo o fardo dos excluídos, dos ignorados, dos que são como que invisíveis aos olhos da sociedade indiana. Um dia, no entanto, ocorreu algo de estranho e invulgar ali, naquela aldeia. Bita conta a sua história. “Um dia, enquanto trabalhava nos campos, um catequista aproximou-se de mim e deu-me uma Bíblia.” Duas coisas improváveis aconteceram nesse dia. A ousadia do catequista e a coragem de Bita. A Índia é um país maioritariamente hindu. Nos últimos anos, a perseguição às minorias religiosas, aos cristãos, aumentou muito, principalmente desde a subida ao poder em 2014 do partido nacionalista hindu liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi. Desde então, têm-se registado cada vez mais ataques contra comunidades cristãs e há cada vez mais pessoas acusadas de tentativas forçadas de conversão. O catequista arriscou muito. Podia ter sido denunciado pelo seu gesto. Bita aceitou o livro e levou-o para casa. Abriu a Bíblia ao acaso e nunca mais parou. “Senti-me confortada ao ler a palavra do Senhor”, explica ela à Fundação AIS.
O medo do marido
Ver a mulher cada vez mais animada com a leitura da Bíblia perturbou o marido. Ficou com receio. O pior medo é o que nos paralisa por dentro. O marido de Bita não tinha nada contra a Bíblia nem contra os Cristãos. Tinha, sim, muito medo das outras pessoas da aldeia. Na Índia, todos conhecem histórias de pessoas agredidas e até mortas por causa da religião. A leitura da Bíblia deu uma coragem a Bita que ela não imaginaria possível. “O Evangelho dizia que Jesus morreu por nós na cruz. Senti-me também preparada para isso. Ofereço a Deus o meu sacrifício e as minhas dificuldades. Mesmo que os outros me ridicularizem…” Aos poucos, foi aproximando-se mais e mais da Igreja. E tudo foi mudando. Até a sua casa. Num barrote de madeira pendurou um retrato de Jesus e uma cruz. É o seu altar. Aos poucos, a história de Bita que se converteu ao Cristianismo correu de boca em boca, de casa em casa, de aldeia em aldeia. A conversão daquela ‘dalit’ não deixou ninguém indiferente. “As pessoas diziam para eu deixar a Igreja. Mas eu não deixarei a minha fé”, explica-nos Bita. Mas agora, a cada dia que passa, ela sente que há um ambiente cada vez mais hostil. Os vizinhos olham-na como se fosse uma estranha. “A minha fé tornou-se muito forte. Mesmo se quiserem matar-me, não abandonarei Jesus.” Bita é um exemplo. A Igreja, ao olhar para cada ‘dalit’ como pessoa, está a fazer uma verdadeira revolução. Todos são iguais perante Deus. Não há castas no amor. Bita descobriu-o lendo as suas passagens favoritas na Bíblia que o catequista lhe ofereceu. Mas a sua vida continua muito difícil. “Sou pobre, e às vezes peço comida e roupa para os meus filhos. Estou sozinha e rejeitada neste mundo. Mas, no meu íntimo, sei que o Senhor está comigo.” Bita sente-se só e rejeitada na sua aldeia. Apesar disso, a sua fé em Jesus cresce de dia para dia. Ela pede-nos ajuda nesta Quaresma.
Paulo Aido | www.fundacao-ai.pt
Campanha da Quaresma da Fundação AIS
Os Cristãos na Índia: pobres, discriminados, proscritos. |