A história de duas irmãs na única ilha cristã em toda a Indonésia
Em nome do Pai
No maior país muçulmano do mundo existe uma pequena ilha onde ainda há vestígios da presença portuguesa. Dos tempos coloniais ficaram palavras soltas, expressões do dia-a-dia, nomes de pessoas e a religião. Na Ilha das Flores é possível escutar ainda em português, como numa ladainha, as orações do Pai-Nosso e da Ave-Maria. Nesta ilha, quase um enclave cristão no meio do mundo islâmico, duas mulheres consagraram as suas vidas a Deus.
A Indonésia é o maior país muçulmano do mundo. No entanto, há um lugar, uma pequena ilha, onde a maioria dos seus habitantes são cristãos. Na Ilha das Flores, a memória dos tempos coloniais quando os portugueses se estabeleceram na região continua bem viva em palavras do dia-a-dia e, acima de tudo, na vida religiosa. As irmãs Maria Erna e Luísa Maria são a expressão viva de como a mesma vocação de fé pode levar-nos a trilhar caminhos tão diferentes. Maria Erna pertence à Congregação das Irmãs Filhas da Rainha do Rosário. A casa destas irmãs, em Larantuka, fica numa das extremidades da Ilha. A congregação foi fundada em 1958 e tem um carisma muito simples: trabalhar junto dos mais pobres da sociedade, sempre invocando a protecção de Nossa Senhora. A irmã Maria Erna não tem mãos a medir. São muitas as raparigas que procuram seguir o exemplo das Filhas da Rainha do Rosário entregando também as suas vidas a Deus através da missão junto dos mais humildes, dos mais pobres. “Elas querem tornar-se religiosas, em primeiro lugar para servir os mais necessitados”, explica. “Depois, querem estar perto de Jesus e querem amar os pobres, tal como Jesus fez, e é por isso que escolheram uma congregação que por si já é pobre.” Materialmente pobre, claro. As irmãs vivem da generosidade dos habitantes das Flores. A ilha, muito bonita, carregada sempre de uma vegetação densa, esconde muitas vezes casebres humildes, pessoas que precisam de ajuda. E as irmãs fazem-se todos os dias ao caminho para junto dessas famílias.
Oração e trabalho
Na outra ponta da ilha, em Ruteng, numa casa escondida na vegetação exuberante, vive a irmã Luísa Maria. O nome é demasiadamente português para um rosto tão oriental. Ela está quase sempre a sorrir. Ao contrário das Filhas da Rainha do Rosário, a congregação de Luísa Maria é contemplativa. As Servas do Espírito Santo da Adoração Perpétua passam horas do dia em oração, meditação e trabalho. “Antes de entrar no convento”, diz a irmã Luísa Maria, “senti tão imensamente o amor de Deus por mim que quis fazer o que Ele queria de mim…” Esse chamamento para uma vida religiosa levou-a até à casa onde as irmãs usam um invulgar hábito cor-de-rosa. “O que fazemos é rezar diariamente. Rezamos pelas vocações, não só para a nossa congregação mas para toda a Igreja. É realmente o Espírito Santo que nos envia vocações…” Um muro separa a casa do resto da ilha mas para as irmãs é apenas um pormenor, uma parede invisível pois elas conseguem abraçar o mundo inteiro mesmo quando estão de olhos fechados, com as mãos juntas, de joelhos, em meditação. Do lado de fora dos muros do convento, as pessoas escutam os mesmos pássaros que as irmãs e a chuva e o sol são iguais, tal como o vento. O muro é apenas um pedaço de nada que não impede que aquelas mulheres, aquelas irmãs, abracem e amem a humanidade inteira com a mesma convicção amorosa com que as Filhas da Rainha do Rosário batem à porta das casas mais humildes da Ilha das Flores levando-lhes sorrisos enamorados de Deus, pois fazem-no sempre em nome do Pai.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt