Campanha de Natal da Fundação AIS pela paz na Síria
Uma vela pelo filho de Lina
Oito anos de guerra, mais de 500 mil mortos. A Síria transformou-se num campo de batalha onde ninguém foi poupado. Nem as crianças. A pensar nelas e na urgência de uma verdadeira paz, a Fundação AIS lançou neste Natal uma campanha muito especial. Tão especial que começou em pleno Vaticano com o Papa Francisco a acender uma vela. Uma vela especial, claro…
Foi em Damasco, na Praça de Bab Touma, que Lina Hazim encontrou o seu filho deitado numa poça de sangue, depois de a cidade ter sido bombardeada. Desde então, Lina não consegue mais esquecer a imagem do seu filho moribundo, no chão já tingido do vermelho do seu próprio sangue. “Encontrei o meu filho no chão, havia sangue no rosto e no corpo. Levei-o ao hospital, mas ele morreu antes de lá chegarmos…” Lina Hazim seguiu seguramente com emoção o momento em que o Santo Padre acendeu, no primeiro Domingo do Advento, a vela da Fundação AIS, lembrando que nunca devemos desistir do sonho da paz e que este é precisamente um tempo de esperança. Lina sabe, depois de chorar a morte do seu filho, que só a fé consegue alimentar o sentido do verdadeiro perdão de que falou o Papa Francisco quando acendeu a vela da campanha da AIS. “Preciso de fé para aguentar” – diz-nos Lina. A norte de Damasco, fica a aldeia de Maaloula. É uma aldeia cristã que foi ocupada pelos jihadistas logo nos primeiros dias de Setembro de 2013. Nesta aldeia ainda se fala aramaico, a língua de Jesus. Talvez por isso, a ocupação de Maaloula tenha sido tão importante para os jihadistas. Mais do que a aldeia, mais do que a pequena povoação, procuraram conquistar um símbolo cristão, uma presença viva da memória de Jesus que tem passado de geração em geração. Safir Sark lembra-se bem quando os jihadistas entraram na aldeia aos gritos, de madrugada.
O ataque a Maaloula
“Estávamos a dormir, quando eles chegaram. Começaram a gritar: Allah-u-Akbhar, Deus é grande! Atacaram os guardas e entraram no centro de Maaloula. Eu estava muito assustada porque estava grávida do meu primeiro filho. Tinha mais medo por ele do que por mim.” Mas o pior ainda estava para vir. Safir ficou com o coração nas mãos, dias mais tarde, quando o seu telefone tocou e do outro lado da linha uma voz masculina disse que o seu marido tinha sido raptado por um grupo jihadista. “Pedi para falar com ele mas não deixaram.” O marido de Safir Sark foi raptado por ser cristão e por apoiar o Governo sírio. E foi torturado por isso. “Penduraram-no no tecto pelas mãos e começaram a bater-lhe.” Quando foi libertado, a família fugiu logo de Maaloula. Ninguém estava ali em segurança. Quando acendeu a vela da Fundação AIS, o Papa Francisco estava também a pensar em Safir Sark, em Lina Hazim e em todas as mães sírias que nunca deixaram de chorar a violência que se abateu sobre as suas famílias durante estes intermináveis oito anos de guerra. Acender uma vela pela paz na Síria é um gesto simbólico. Para Lina Hazim e Safir Sark é mais do que isso. É a certeza de que não estão sozinhas, de que não foram abandonadas. Como disse o Santo Padre, ao acender a vela da Fundação AIS “vamos rezar e ajudar os Cristãos a permanecer na Síria e no Médio Oriente como testemunhas de misericórdia, perdão e reconciliação”. Vamos também nós acender uma vela e rezar pelo filho de Lina Hazim e por todas as crianças que morreram nestes oito anos de guerra.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt