Histórias de martírio na 1ª edição, no Porto, da “Noites das Testemunhas”
“Cristo é vitorioso, sempre!”
A Igreja dos Redentoristas, na cidade do Porto, foi palco da primeira edição da “Noite das Testemunhas”, iniciativa promovida pela Fundação AIS. Foi um momento muito especial. Rezou-se pelos Cristãos perseguidos, recordaram-se histórias de mártires do nosso tempo e, principalmente, deu-se voz a D. Bashar Warda. O Arcebispo de Erbil, no Iraque, esteve não só na Invicta, mas também em Aveiro e Lisboa. Em todos os eventos, o prelado deixou sempre a mesma certeza: apesar da violência, apesar da perseguição, Cristo é sempre vitorioso.
Quatro conferências, duas Missas, três cidades. Desde sexta-feira até Domingo, o Arcebispo de Erbil, participou em diversas iniciativas promovidas pela Fundação AIS no Porto, Aveiro e Lisboa e em que se falou dos problemas e aspirações da comunidade cristã iraquiana que tem vivido tempos muito duros de perseguição, nomeadamente quando, há dez anos, as terras bíblicas da planície de Nínive foram ocupadas pelo Daesh, a organização jihadista ‘Estado Islâmico’. De todos os eventos, em que participaram várias centenas de pessoas, destaque para a primeira edição da “Noite das Testemunhas”, que a Ajuda à Igreja que Sofre promoveu na Igreja dos Redentoristas, na cidade Invicta. “Uma coisa é nós termos ouvido falar, outra coisa, bem diferente, é estar a ver, mesmo à nossa frente, as peças destruídas, como aquele cálice meio desfeito por uma bala.” Uma senhora comentava assim o que mais a tinha impressionado na Igreja dos Redentoristas. O cálice, “meio desfeito por uma bala”, encontrado numa das muitas igrejas vandalizadas na planície de Nínive, falava por si, tal como todos os outros objectos litúrgicos danificados ou destruídos pelos jihadistas no Iraque e que faziam parte da exposição da Fundação AIS que acompanhou o Arcebispo de Erbil em praticamente todos os eventos em que participou em Portugal. O cálice trespassado pela bala terrorista foi a testemunha silenciosa mais forte da violência exercida durante os anos em que as terras bíblicas foram ocupadas pelos extremistas islâmicos. D. Bashar Warda deu voz ao sofrimento que ele representa.
D. Bashar Warda
Um sofrimento e violência que começou alguns anos antes da invasão e ocupação das terras bíblicas de Nínive. Tudo começou a desmoronar-se em 2003 com a queda do regime de Saddam Hussein. Nessa altura, começaram a surgir sinais de que o país estava a cair no precipício da violência. “A princípio pensávamos que era apenas entre xiitas e sunitas, mas, em Agosto de 2004, começaram a bombardear também igrejas em Bagdade e Mossul e começaram a raptar e a matar cristãos. Em 2006 começaram a raptar e a matar padres. Em Julho de 2007 mataram o Padre Ragheed Ganni. Em 2008 foi um bispo…” O relato continua. De ano para ano foi crescendo o terror, foi aumentando o número de ataques, de incidentes, de mortos. Até que se chega a Junho de 2014, quando o Daesh, o grupo jihadista ‘Estado Islâmico’ entra em Mossul. Esse foi o princípio do fim. É uma data que ainda hoje enche de terror muitos dos que viveram esses dias em que os temíveis homens de negro irromperam triunfantes pela cidade. A Igreja dos Redentoristas no Porto estava em silêncio. Todos os olhares seguiam as palavras gesticuladas do Arcebispo de Erbil. Ele foi o protagonista da Noite dos Testemunhos, em que se escutaram também histórias, contadas pela equipa da Fundação AIS, de martírio de cristãos noutras paragens, noutros países. Recordou-se Sarah Yohanna, que morreu na Nigéria, Akash Bashir, martirizado no Paquistão, e a Irmã Maria de Coppi, assassinada a tiro em Moçambique. Todos vítimas de ataques terroristas. Escutaram-se histórias, houve momentos de silêncio, dança, música, pintura. Acenderam-se velas. A Noite das Testemunhas foi uma oração. Um dos momentos mais impressionantes foi quando D. Bashar Warda rezou o Pai Nosso em Aramaico, a língua do tempo de Jesus, como que a dizer que essa memória ainda perdura nas terras da planície de Nínive, terras que foram ocupadas e violentadas pelos jihadistas. Como que a dizer também que apesar de tudo isso, de toda essa violência, de toda essa perseguição, Cristo perdura, é sempre vitorioso!
Paulo Aido