A cruz escondida

Bispo de Zaria denuncia situações de perseguição aos Cristãos

Uma tragédia sem fim

D. Habila Daboh, Bispo de Zaria, no norte da Nigéria, denuncia à Fundação AIS a situação de perseguição à comunidade cristã na sua diocese, não só por causa da ameaça dos jihadistas do Boko Haram, mas também pela discriminação quotidiana aos fiéis. O Bispo dá o exemplo das mulheres cristãs que não têm acesso aos hospitais e são forçadas a dar à luz no mato, e refere também a dificuldade de acesso a empregos mais qualificados ou às escolas públicas.

“A situação é de Igreja perseguida”, diz D. Habila Daboh, Bispo de Zaria, uma diocese situada entre Sokoto e Kaduna. O prelado denunciou, numa declaração à Fundação AIS em Königstein, na Alemanha, onde esteve recentemente de visita, que os Cristãos são alvo, nesta região no norte da Nigéria, de diversas formas graves perseguição, que vai desde a violência por parte do temível grupo terrorista Boko Haram, até à discriminação na vida quotidiana em áreas tão sensíveis como o acesso aos cuidados primários de saúde, à educação ou ao emprego. D. Habila dá vários exemplos de como os fiéis são relegados para um plano secundário na sociedade nigeriana na sua diocese e apenas por causa da sua fé. O exemplo mais chocante relaciona-se com o facto de as mulheres cristãs serem forçadas, muitas vezes, a dar à luz no mato por lhes estar vedado o acesso às maternidades hospitalares. “O meu povo tem fome de educação, quer aprender, quer ir à escola, mas por serem cristãos não podem ter uma educação adequada. Por serem cristãos não têm hospitais, as mulheres têm de dar à luz no mato e por isso muitas crianças morrem ou são mortas porque não há hospitais para onde ir.”, afirma o prelado. O acesso a empregos qualificados e ao ensino público é outra questão que o Bispo de Zaria enumera como exemplo da discriminação e perseguição aos cristãos na sua diocese. “Independentemente das qualificações que tenhamos, nunca teremos um certo tipo de emprego porque somos cristãos. Se o nosso nome não reflecte o Islão, é-nos negado o emprego. O mesmo se passa com o acesso às escolas. Temos escolas federais governamentais, temos escolas estatais, mas estas escolas também discriminam no sentido de que os Cristãos não têm permissão para frequentar algumas dessas escolas, simplesmente por serem cristãos”, refere D. Habila Daboh, que foi nomeado Bispo de Zaria pelo Papa Francisco em Setembro do ano passado após o falecimento, em Julho de 2022, aos 66 anos de idade, de D. George Jonathan Dodo.

“As pessoas não são livres de rezar”

Um outro aspecto destacado pelo Bispo de Zaria como sinal da perseguição aos Cristãos relaciona-se com a impossibilidade de compra de terrenos para a edificação de novas igrejas. “Podemos ter o dinheiro, mas não estamos autorizados a comprar os terrenos se quisermos construir uma igreja”, explica o prelado, enfatizando ainda o facto de a própria liberdade de culto nas igrejas estar seriamente comprometida por causa da actividade do grupo jihadista Boko Haram que tem a comunidade cristã como um dos alvos dos seus actos terroristas, e de outras organizações extremistas ou de simples bandidos armados. “É claro que temos as igrejas, os nossos locais de oração, mas devido ao medo dos ataques, quer pelo Boko Haram, quer por criminosos, ou por jihadistas islâmicos, não somos livres de rezar, e, por isso, esta é mesmo uma Igreja perseguida na minha diocese”, sintetizou D. Habila. Na passagem pela sede internacional da Fundação AIS, o Bispo de Zaria fez questão também de deixar uma palavra de “agradecimento” aos benfeitores da fundação pontifícia espalhados pelo mundo que, com a sua generosidade, têm ajudado a Igreja a estar presente nesta região norte da Nigéria onde a liberdade religiosa está seriamente comprometida. “Quero agradecer muito sinceramente aos nossos benfeitores, homens e mulheres, por todos os sacrifícios que fazem para nos ajudarem. Dão-nos o vosso dinheiro, dão-nos água, dão-nos comida, dão-nos roupa”, disse o prelado, sublinhando que se trata, mesmo, de uma ajuda preciosa. “Podem pensar que estão a dar apenas uma pequena contribuição, mas posso assegurar-vos que estão a dar uma enorme ajuda. Por isso, muito obrigado pela vossa generosidade para connosco. Que Deus continue a abençoar-vos, a fortalecer-vos e a conceder-vos os desejos dos vossos corações, e que, no fim, vos dê a vida eterna.”, disse o Bispo de Zaria, agradecendo a generosidade dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre para com a Igreja da sua diocese, muitos dos quais estão em Portugal.

Paulo Aido

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