A cruz escondida

Portugueses ajudam milhares de crianças do Líbano no regresso às aulas

Quanto vale um sorriso?

O regresso às aulas é sempre um tempo de pesadelo para as famílias do Líbano, cada vez mais empobrecidas. A Igreja procura assegurar que nenhuma criança fique de fora, mas a situação agrava-se de dia para dia. A Fundação AIS lançou, aqui em Portugal, e pelo terceiro ano consecutivo, uma campanha solidária para que nenhum aluno deixe de ter o seu cabaz escolar, onde além dos lápis e cadernos e esferográficas é oferecido também um exemplar da Bíblia…

“Juntos podemos fazer a diferença”, diz Catarina Bettencourt, directora da Fundação AIS em Portugal, acreditando no impacto que vai ter a carta enviada por estes dias para casa de milhares de benfeitores da instituição no nosso país. Uma carta em que se recorda como o Líbano está profundamente doente, com o agravamento da crise económica que afecta as famílias e que está a ter um impacto demolidor também num número cada vez maior de crianças. A somar a tudo isto, há a ameaça crescente de guerra na região, com o conflito da Faixa de Gaza a ultrapassar fronteiras e a chegar também ao Líbano. Calcula-se que cerca de 80% da população deste país vive já abaixo do limiar de pobreza, o que tem empurrado cada vez mais famílias para a emigração, muitas vezes arriscando viagens extremamente perigosas a bordo, por exemplo, de barcos sem quaisquer condições. Para os que ficam, o futuro é uma incógnita dolorosa, uma armadilha a que ninguém escapa. Nem as crianças. O arranque, agora, de mais um ano escolar vem escancarar esta crise aos olhos de todos. No centro deste furação marcado pela miséria estão alguns rostos da Igreja, padres e religiosas que todos os dias procuram minimizar o sofrimento destas famílias. É o caso da Irmã Madeleine Bassil.

Histórias de partir o coração

Há mais de 30 anos que esta dominicana dirige uma escola em Ghosta, uma pequena localidade perto de Beirute. Através dela, a Igreja oferece educação e esperança a centenas de crianças que, de outra forma, teriam um futuro hipotecado, mergulhado na escuridão da pobreza e da falta de oportunidades. Mas a crise económica que assola o Líbano e a actual ameaça de guerra, colocam em risco o trabalho incansável desta religiosa. E ela pede-nos ajuda. “Imagine crianças de 13 anos, do 8º ano, que têm de trabalhar para ganhar alguns cêntimos para sustentar as suas famílias. Temos aqui órfãos e crianças de famílias mesmo carenciadas. Os pais dão o que podem, mas muitos não podem pagar nada de nada. O que é que eu hei-de dizer quando um pai chega aqui e diz: ‘Irmã, isto é tudo o que tenho. Tenho de alimentar os meus filhos.’ É de partir o coração”, afirma a Irmã Madeleine numa mensagem enviada para a Fundação AIS. Em resposta ao apelo desta religiosa, como de todos os outros responsáveis por colégios católicos no Líbano, a Fundação AIS lançou, uma vez mais, uma campanha de solidariedade aqui em Portugal. A ideia é procurar que o arranque do ano escolar possa acontecer sem muitos sobressaltos, assegurando a cada criança pelo menos um cabaz escolar com o material necessário para as aulas: cadernos, esferográficas, lápis, borracha, tesoura, afia, régua, esquadro, plasticina e um tubo de cola. Além disso, cada criança vai também receber um exemplar da Bíblia.

“É preciso dar esperança”

Este é o terceiro ano consecutivo em que a Fundação AIS pede aos seus benfeitores e amigos em Portugal o apoio para esta campanha tão específica e tão importante. “Acredito que os nossos queridos benfeitores vão dar, uma vez mais, uma resposta positiva”, diz Catarina Bettencourt, a responsável pelo secretariado nacional da fundação pontifícia. “O Líbano é um país crucial para a permanência da comunidade cristã no Médio Oriente. Uma permanência que está agora talvez mais ameaçada do que nunca. Por isso, é tão importante manifestarmos a nossa solidariedade para com as famílias que insistem em ficar no país, apesar de toda a pobreza e apesar até do risco de uma guerra poder vir a deflagrar na região”, acrescenta a responsável. “Num país onde falta tudo, desde a electricidade ao combustível, passando pelos medicamentos, e onde até já começa a faltar o próprio pão na mesa, tem de haver ainda espaço para a esperança. É preciso dar esperança às crianças, é preciso ajudá-las a construir o futuro e isso começa nos bancos da escola. Por isso, esta campanha da Fundação AIS é tão importante. Todos somos chamados a ajudar as famílias cristãs do Líbano. Juntos podemos fazer a diferença”, afirma ainda Catarina Bettencourt. A campanha “1 cabaz escolar = 1 sorriso”, permite entregar um cabaz escolar a cada uma das 26.884 crianças que frequentam 87 escolas cristãs do Líbano. Como se explica na página da Fundação AIS na Internet – https://fundacao-ais.pt/libano-cabazes-escolares/ – com apenas 33 euros é possível oferecer três cabazes escolares, o que significa três crianças a sorrir. Sorrisos que dependem agora de nós, pois este projecto é financiado exclusivamente pelos benfeitores e amigos da Fundação AIS em Portugal…

Paulo Aido

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