A cruz escondida

Guerra civil no Sudão está a provocar uma enorme crise humanitária

Cenário de pesadelo

É uma das guerras esquecidas no mundo. O conflito armado no Sudão, que começou em Abril do ano passado e que é, na verdade, uma guerra entre dois generais, já causou milhares de mortos e milhões de deslocados e refugiados. A Fundação AIS acaba de lançar, em Portugal, uma campanha de sensibilização para esta crise humanitária em que se procura auxiliar a Igreja do Sudão do Sul, o país vizinho que tenta acolher, como pode, as pessoas que atravessam a fronteira em desespero fugindo da guerra e da fome…

A guerra no Sudão começou em Abril do ano passado e calcula-se que poderão já ter morrido cerca de 15 mil pessoas. Além disso, haverá também cerca de 10,7 milhões de deslocados e refugiados, o que significa uma das maiores crises humanitárias no planeta. Dramaticamente para estas populações, quase não se fala desta situação pelo que esta é, de facto, uma das guerras esquecidas no mundo. Trata-se de um conflito entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane e as forças paramilitares de Suporte Rápido (RSF), sob o comando do general Mohamed Hamdane Daglo. No entanto, contrariando o silêncio do mundo sobre esta guerra, o Papa Francisco tem procurado alertar para a situação devastadora que se vive na região. Numa das suas últimas intervenções, no Domingo, 2 de Junho, logo após a oração do Angelus, o Santo Padre fez erguer a sua voz em defesa destas populações desesperadas e em fuga. “Peço-lhes que rezem pelo Sudão, onde a guerra que dura há mais de um ano ainda não encontrou uma solução de paz. Silenciem as armas e, com o empenho das autoridades locais e da comunidade internacional, levem ajuda à população e aos muitos deslocados; que os refugiados sudaneses encontrem acolhimento e protecção nos países vizinhos”, disse o Papa. De facto, a situação humanitária em toda a região tem contornos trágicos.

Milhões passam fome

Segundo o Vatican News, citando o Comité Permanente Interagências da ONU, vive-se “um cenário de pesadelo” que vai espalhar a fome por toda a região. “Cada vez mais pessoas fugirão para os países vizinhos em busca de meios de subsistência e segurança”, pelo que “muitas crianças sofrerão com doenças e desnutrição”, escreve o portal de informação da Santa Sé, acrescentando que no Sudão “18 milhões de pessoas passam fome e 3,6 milhões de crianças sofrem de desnutrição”. Neste contexto de guerra e de fuga das populações, um dos países que mais tem acolhido refugiados é o Sudão do Sul, que é também um país muito pobre e que precisa agora de ajuda para acolher o elevado número de pessoas que cruzam a fronteira. Perante esta situação, e face aos apelos da Igreja do Sudão do Sul, a Fundação AIS decidiu lançar uma campanha de sensibilização aos seus benfeitores e amigos em Portugal para a necessidade de ajuda de emergência para todas estas vítimas da guerra. “O Sudão do Sul está a viver uma das fases mais desafiantes da sua curta história”, escreve a directora do secretariado português da AIS numa carta que, por estes dias, está a chegar a casa de milhares de benfeitores da fundação pontifícia. “A guerra no vizinho Sudão está a provocar uma crise humanitária sem precedentes, obrigando milhares de pessoas a fugir. Estas famílias, despojadas de tudo, procuram agora refúgio e esperança no Sudão do Sul, país onde falta quase tudo. E é aqui que a Igreja e a Fundação AIS entram em acção”, acrescenta Catarina Martins de Bettencourt.

Apelo do Arcebispo de Juba

Na carta que está a ser enviada para casa dos benfeitores portugueses da AIS, dá-se voz a diversos apelos da Igreja, nomeadamente do Arcebispo de Juba, a diocese da capital do Sudão do Sul, D. Stephan Ameyu, que fala em “necessidades gigantescas”. “Por favor, venham em ajuda destas pessoas deslocadas que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem bens de primeira necessidade”, diz o Arcebispo, acrescentando que todos os refugiados que cruzaram a fronteira, fugiram da guerra e estão agora mesmo sem nada. “Deixaram tudo para trás, fugindo para salvar a vida.” De facto, muitos destes refugiados estão agora em campos de acolhimento onde as necessidades são enormes. E é para minimizar o sofrimento de todas estas populações que a Fundação AIS lançou esta campanha de sensibilização para os benfeitores e amigos da instituição em Portugal. Um dos campos de refugiados está situado em Malakal e a Fundação AIS procura auxiliar a sobrevivência imediata de cerca de 500 famílias, o que significa, na prática, aproximadamente 3 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças. “Este projecto é mais do que uma resposta humanitária. Pode ser mesmo a última oportunidade para oferecer esperança, dignidade e a possibilidade de um recomeço de vida a todos estes refugiados”, pode ler-se no Boletim que está a ser enviada para casa dos benfeitores portugueses da Fundação AIS.

Paulo Aido

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