A cruz escondida

Ameaça jihadista leva Irmãs Beneditinas a mudar convento para a cidade

Foto: Fundação AIS

O importante é a oração

A crescente ameaça jihadista cada vez mais activa na região do Benim, em África, levou, por prudência, as Irmãs Beneditinas a transferirem o convento em que se encontravam, na Diocese de Natitingou, para Parakou. Foi uma mudança imensa, da quietude de uma zona rural para o meio de uma cidade movimentada. Mas, para estas religiosas contemplativas, cuja missão é apoiada pela Fundação AIS, o essencial – a oração – não se alterou.

O mosteiro de “Nossa Senhora da Escuta” foi fundado em 2005, há quase duas décadas, na Diocese de Natitingou, no norte do Benim. Cinco religiosas vieram da abadia de Jouques, perto de Aix-en-Provence, no sudeste de França, respondendo ao desafio do então Bispo de Natitingou, D. Pascal N’Houé. Ele queria lançar uma semente de vida contemplativa nesta região de África. E foi assim, em Outubro desse ano, que chegaram as primeiras Irmãs Beneditinas. Primeiro, ficaram alojadas numa paróquia, depois começaram as obras num terreno oferecido à diocese, e, em Fevereiro de 2007 as irmãs já estavam em casa. Só que, ao fim de quase duas décadas, as irmãs foram forçadas, por prudência, a deixar a diocese devido à ameaça crescente de grupos terroristas ligados à Al-Qaeda e ao auto-proclamado Estado Islâmico. A região norte do Benim está como que encurralada entre o Burquina Fasso, o Níger e a Nigéria, países onde estes grupos fundamentalistas têm actuado com relativa facilidade. O mais recente Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo descreve diversos incidentes violentos ocorridos na região e perspectiva até o aumento das actividades das organizações radicais jihadistas. O documento fala no “alastramento da violência islamista”, com o aumento de “pregadores errantes, recrutamento entre jovens […],circulação de combatentes sahelianos [oriundos da região do Sahel] e do comércio com extremistas violentos”. Todas estas ameaças levaram as irmãs, em Fevereiro de 2022, a empacotarem as suas coisas levando-as para um novo convento no coração da cidade de Parakou.

Um coração orante no meio da cidade

Para a Irmã Elisabeth Marie Samati, madre superiora das Beneditinas, a mudança acabou por ser benéfica. Para quem vê em tudo sinais de Deus, a presença das Beneditinas no meio da cidade sublinha ainda mais a urgência da oração. “Aqui, no coração desta dinâmica cidade africana, onde se misturam diversas realidades sociais e religiosas, apercebemo-nos do desafio para a nossa missão de oração de intercessão. Assim, Deus mostra-nos ainda mais claramente do que dantes a necessidade urgente de rezar pelo mundo inteiro, mas especialmente e de modo particular pelo país que nos acolheu, pela nossa diocese e Igreja local, e sobretudo pelos seus padres e seminaristas”, explica a madre superiora. Perto da nova casa das irmãs está o seminário menor interdiocesano de Nossa Senhora de Fátima e o centro pastoral da Diocese, tudo sinais também da presença cristã nesta cidade africana. Agora, de facto, há mais pessoas a darem-se conta de que ali há um convento de mulheres consagradas, religiosas que vivem para a oração e que fazem disso o centro das suas vidas. E isso está a dar frutos. “Pelo facto de estarmos na cidade tornamo-nos mais visíveis e isso permite mais facilmente aos fiéis católicos descobrirem a nossa liturgia. Sabemos como o homem de hoje, cristão ou não, aspira de tempos a tempos por uma pausa, mesmo no decorrer de um dia muito agitado, para encontrar o Senhor no meio da sua tribulação e Lhe confiar as suas alegrias e dores”, diz a madre superiora. E há histórias concretas de pessoas que ousam cruzar o portão de entrada do convento para pedirem, de alguma forma, ajuda às irmãs. “Na semana passada – diz a Irmã Anne Elisabeth –, “um jovem veio aqui com a sua noiva para reflectirem sobre a sua vida futura a dois aqui, num lugar onde o tempo parece ter parado.”

A ajuda da Fundação AIS

Na nova morada, e aos poucos, as Irmãs Beneditinas vão lançando iniciativas que visam abrir a sua casa à comunidade, nomeadamente dias de retiro, que permitem a jovens raparigas locais ficarem a conhecer melhor o que significa a vida religiosa. E também aqui, nestas pequenas coisas, a madre superiora vê sinais de Deus. Recentemente, uma jovem passou por mero acaso em frente ao portão do convento, empurrando um carrinho cheio de ervas. Passou em frente ao portão, olhou, ficou curiosa e espreitou. Agora, conta-nos a irmã, também ela quer ser uma religiosa beneditina. São acasos “através dos quais o Senhor nos mostra que Ele próprio está a trabalhar”, afirma a irmã. No convento em Natitingou, as Beneditinas tinham um pomar, uma horta e criavam até gado e abelhas em colmeias. Fabricavam hóstias de forma artesanal e possuíam ainda uma casa de hóspedes, o que ajudava na subsistência da comunidade e no trabalho de apostolado. Agora, com a nova casa, no meio da cidade de Parakou, tiverem de começar do zero, pelo que a Fundação AIS pretende ajudá-las nesta fase, graças à generosidade dos seus benfeitores e amigos em todo o mundo, com um apoio básico financeiro de 20 mil euros. É uma ajuda para que o pulmão de oração continue activo e a inspirar cada vez mais pessoas no Benim.

Paulo Aido

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