Terroristas no Burquina Fasso são uma ameaça real para as populações
Semente de cristãos
Nos últimos anos, a violência dos grupos terroristas em África, nomeadamente no Burquina Fasso, tem crescido de forma alarmante. O Padre Pierre Rouamba, prior-geral dos Irmãos Missionários do Campo, está muito preocupado com esta situação e denuncia casos de ataques brutais a pessoas que recusam a conversão forçada ao Islão, sendo mesmo degoladas ou raptadas e escravizadas. Mas, apesar de todas as ameaças e de todo o medo, a fé das populações continua a crescer…
Não é preciso recuar muito no tempo. Na Páscoa do ano passado, o Pe. Pierre Rouamba esteve em Kompienga. É uma localidade que retrata em si a tragédia em que o Burquina Fasso está mergulhado. Rodeada por grupos terroristas, Kompienga está praticamente isolada do resto do mundo. À sua volta foram plantadas minas terrestres e os terroristas têm até postos de controlo. “Só podemos entrar de helicóptero”, explicou o sacerdote à Fundação AIS. Não há outra forma de entrar ou sair da povoação e de escapar à vigilância dos bárbaros que, de dedo no gatilho, querem impor a submissão de todos a um Islão radical. Foi o que aconteceu no final de Maio, vai fazer agora um ano. “Por volta do Pentecostes, os terroristas começaram a atacar a população local. Muitas pessoas foram mortas ou gravemente feridas e tiveram de ser transportadas por via aérea. Os terroristas também se apoderaram de gado e estão a fazer tudo o que podem para levar a população a converter-se ou a sair dali. Se as pessoas se recusam a converter-se ao Islão são obrigadas a partir, mas como as estradas estão bloqueadas, são deixadas a vaguear pela floresta sem bens, e muitas morrem por falta de comida e de cuidados”, descreveu o missionário. É difícil a vida dos Cristãos num ambiente assim. É rara a semana em que não ocorre uma tragédia, um ataque, uma morte.
Abandonados à sua sorte
As palavras do Pe. Pierre são um grito de socorro, mas também de revolta. O mundo não olha para o Burquina Fasso, não olha para tantos países de África onde as populações simplesmente estão a ser abandonadas à sua sorte. Para a Igreja, esta situação é também um desafio. Não se trata apenas de ajudar as populações vítimas da violência terrorista num país que sofreu recentemente dois golpes de Estado. É preciso ir mais longe. Mesmo quando esquecer é impossível, é preciso curar as feridas e alcançar o perdão. “Como é que o perdão pode ser alcançado? Porque o esquecimento é impossível. Esta é uma das razões pelas quais gostaríamos de criar unidades de apoio para oferecer apoio espiritual e psicológico. Muitas pessoas vêm ter connosco simplesmente para serem ouvidas.” Ouvir, estar presente, saber secar as lágrimas. Às vezes, não é preciso dizer muito. Bastam estes pequenos gestos, os abraços apertados, o silêncio comovido. A Igreja do Burquina Fasso vive disto, destes encontros com verdadeiros náufragos, com vítimas do terror mais puro. Esta é uma Igreja que acolhe e acompanha as vítimas da violência. “Muitas pessoas viram os seus entes queridos serem degolados, decapitados, violados ou reduzidos à escravatura sexual. Crianças nasceram por causa dessas violações… Teremos de curar todas estas feridas, sejam elas físicas ou psicológicas”, diz o Pe. Pierre.
Fazer frente aos terroristas
Não se pense que a própria Igreja escapa aos homens de negro, aos terroristas da Al Qaeda e do Daesh, o Estado Islâmico. É a fé testada nos limites do sofrimento. “É precisamente porque estes Cristãos são perseguidos, que aprofundam a sua ligação a Cristo. O sangue dos mártires é semente de cristãos, de uma forma particular aqui no Burquina Fasso. Em Kompienga, sob o fogo dos terroristas, os pedidos de baptismo multiplicam-se e as aulas de catequese prosseguem”, acrescenta ainda o responsável pelos Missionários do Campo. Esta congregação desempenha um papel essencial em vários países, nomeadamente em África, onde o terrorismo jihadista quer impor a sua vontade pela força das armas. Um trabalho essencial que conta também com a generosidade dos benfeitores da Fundação AIS. “Através da nossa parceria com a Fundação AIS, estamos a vivenciar uma verdadeira solidariedade, especialmente através de um recente projecto de apoio alimentar a refugiados e pessoas deslocadas que implementámos numa das paróquias que nos foram confiadas, em Pama, na Diocese de Fada N’Gourma”, explica o Pe. Pierre Rouamba.
Paulo Aido