A cruz escondida

Ajudar a Igreja na Ucrânia, um compromisso para esta Quaresma

Carregar a Cruz em Vorzel

O seminário de Vorzel foi atacado e ocupado pelos soldados russos. Durante cerca de 20 dias, em Março de 2022, destruíram, vandalizaram e roubaram o que puderam. Nem uma imagem de Nossa Senhora de Fátima escapou. Até os ténis do reitor foram roubados. Mas, mal deixaram o edifício, começou a limpeza, a reconstrução. E as aulas recomeçaram. Tudo, com o apoio da Fundação AIS…

“Os Russos forçaram os portões e entraram.” O Pe. Ruslan Mykhalkiv, reitor do Seminário do Sagrado Coração, em Vorzel, relata o que aconteceu a 10 Março de 2022. Apenas 14 dias depois de ter começado a invasão da Ucrânia, tropas russas entraram no seminário católico situado nesta pequena cidade rural a cerca de 30 km a leste de Kyiv, a capital ucraniana. O edifício foi ocupado durante 20 dias. Logo que o local ficou livre, com a saída dos soldados, foi possível perceber a dimensão dos estragos. O Pe. Ruslan foi uma das primeiras pessoas a regressar ao edifício. Ficou chocado com o que viu. “Roubaram tudo o que puderam.” Levaram quase tudo. Desde utensílios de cozinha, máquinas de lavar roupa, computadores e aparelhos de ar condicionado, tudo. Até os ténis do reitor foram roubados… Os quartos dos seminários foram saqueados e desapareceram artigos litúrgicos, incluindo um cálice doado por São João Paulo II quando o Papa polaco visitou a Ucrânia em 2001. Nada escapou à voragem dos soldados russos.

Memória do ataque

O Pe. Lucas Perozzi, um sacerdote brasileiro em Kyiv, descrevia também por esses dias à Fundação AIS em Lisboa, a dimensão da destruição em que se encontrava o seminário. “Foi tudo destruído, as janelas, os vidros… o portão ficou abalroado, como se lhe tivesse passado um tanque por cima, os carros que estavam lá também foram destruídos… eles roubaram tudo o que podiam roubar, até coisas que não têm valor nenhum, levaram tudo o que havia, tudo o que havia…” Mas o pior foi o que fizeram a uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Uma imagem que estava no refeitório do seminário e que acabou partida em pedaços. Mal se soube deste ataque, de toda a vandalização que o seminário sofreu, a Fundação AIS decidiu que iria assumir os custos da reabilitação do edifício, como também da compra de móveis e dos equipamentos que foram roubados. Mas, antes disso, era preciso regressar, arregaçar as mangas, limpar o espaço, voltar às aulas. Foi o que fizeram todos. O seminarista Jaroslav Chmarski recorda-se bem desses dias. “Esse Inverno foi muito duro”, diz. E não se refere apenas ao estado do tempo em si, ao frio intenso, mas também à violência da guerra. Mesmo sem soldados russos por ali, os bombardeamentos continuaram assustadores. Quase todos os dias, havia alarmes a tocar… “As sirenes soavam frequentemente quando bombardeavam a central eléctrica. Não havia gás nem electricidade. Ficávamos às escuras muitas vezes e rezávamos, como os primeiros cristãos, à luz das velas…”

Uma cicatriz que perdura

A invasão da Ucrânia veio mudar tudo. Aproximou as pessoas, deu um novo significado à própria vida. Há um antes e um depois de a guerra ter começado. Também no seminário isso se nota. O lugar foi ocupado, vandalizado, destruído e isso é hoje visto também como uma cicatriz que perdura, uma ferida que não se apaga e que não permite esquecer a violência que se abateu sobre a Ucrânia. “Tal como toda a Ucrânia, sentimos esta guerra, diz-nos Dymitr Yefymov. Este seminarista fala dos dias que passa a rezar preparando-se para o sacerdócio, preparando-se para auxiliar os outros, principalmente os que mais sofrem, os que a guerra deixou em lágrimas, de mãos vazias, dependentes de socorro. “É por isso que rezamos constantemente. Estamos sempre a recordar…. Nestas dificuldades, sinto que sou chamado a isto, e sinto que quero carregar esta cruz e ajudar os outros”, diz ainda o jovem seminarista.

O mais importante é a oração

Para a Fundação AIS, Dymitr ou Jaroslay não são apenas dois seminaristas. São dois jovens que vão ser o futuro da Igreja e que estão já hoje no centro das preocupações de todos os benfeitores e amigos da instituição. O seminário de Vorzel é apoiado directamente pela fundação pontifícia. O Pe. Ruslan Mykhalkiv, o reitor deste Seminário do Sagrado Coração, sabe que pode contar com essa ajuda. E isso é muito reconfortante nos tempos que correm, em que o país continua em guerra, em que enfrenta mais um Inverno rigoroso sob a ameaça das bombas, dos mísseis, em que não se sabe, ninguém sabe quando o pesadelo vai terminar… “O seminário é o lugar da Igreja jovem, é o futuro da Igreja”, diz-nos. “Acima de tudo, o mais importante é a vossa memória e oração. A oração ajuda a ter um espírito saudável e a não ceder ao ódio e ao desespero. É para isso que serve o seminário, para aprender que o bem é melhor e mais forte do que o mal…”

Paulo Aido

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Agência ECCLESIA

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