A cruz escondida

Na Diocese de Jos, na Nigéria, os padres arriscam a vida todos os dias

O dilema do Padre Andrew

A Igreja na Nigéria enfrenta diversas ameaças: o terrorismo, a radicalização de pastores nómadas muçulmanos, que atacam as comunidades cristãs, e os raptos. A cada dia que passa aumenta o risco de padres, irmãs e até bispos serem raptados. O rapto de pessoas tornou-se num negócio. Um negócio perigoso em que a vida das pessoas depende do pagamento do resgate. Os sacerdotes sabem que estão na mira destes malfeitores. É o caso do Padre Andrew Danjuma…

Quando o Padre Andrew olha para a sua agenda e vê que tem alguma missa para celebrar numa das aldeias mais distantes na Diocese de Jos, a primeira coisa que faz é pegar no telefone para perguntar a algum catequista que esteja nessa região se está tudo bem. Ele quer saber se houve alguma movimentação estranha nos últimos dias, se houve algum ataque, se alguém foi raptado. O rapto de pessoas tornou-se num negócio na Nigéria e a Igreja Católica está na mira dos grupos armados, dos gangues que lucram com o pagamento dos resgates. É um negócio lucrativo sem grande risco. As famílias dos raptados ficam com as suas vidas nas mãos. Nos últimos tempos, a Igreja tem estado na mira destes malfeitores. Há um sobressalto permanente. O simples facto de um sacerdote estar na rua, num sítio qualquer, torna-o num provável alvo. E todos os padres sentem de alguma forma essa ameaça. A Diocese de Jos, situada no estado de Plateau, na região central da Nigéria, não é excepção. Esta diocese, que tem como padroeira Nossa Senhora de Fátima, ocupa uma área enorme, quase três vezes o tamanho do Algarve. São praticamente 15 mil quilómetros quadrados divididos por 32 paróquias. É uma região imensa servida por péssimas estradas que transformam qualquer viagem num suplício. E numa armadilha também. O Padre Andrew que o diga. Um destes dias, não ganhou para o susto. “Um homem de motocicleta olhou para mim com desconfiança. Eu estava, claro, de batina. Fiquei logo alarmado. Peguei na minha mala de Celebração. Tive de começar a correr. Acabei por chegar à estrada principal onde arranjei um carro e parti…” As palavras do padre Andrew revelam o medo que se instalou em praticamente todas as pessoas da Igreja. Não há ninguém que possa dizer que não estará em risco. Padres, irmãs, seminaristas, catequistas, até os bispos são um alvo apetecível dos gangues armados que proliferam na Nigéria e que fazem da insegurança o seu modo de vida. Todos são um alvo. Todos.

Ser recebido em festa

O Padre Andrew já se habituou a este estado de coisas. É uma inquietação permanente. Mas sabe que não pode ceder ao medo. Só nesta diocese há quase dois milhões de católicos. E em todos os sítios, mesmo nos lugares mais minúsculos, mesmo nas aldeias mais distantes, o padre é sempre recebido num clima de festa. O risco existe em todas as viagens, mas os sorrisos com que o Padre Andrew é acolhido, não têm preço. “Dá-me muita alegria quando vou a uma igreja de aldeia, depois de todos os contratempos para lá chegar, e as pessoas estão lá sentadas à espera. É muito estimulante. É impressionante como as pessoas têm fome e anseiam pela Boa Nova”, diz o Padre Andrew, aproveitando a presença da Fundação AIS para fazer um pedido. Tal como as populações estão à mercê dos malfeitores que atacam sem dia nem hora marcada, também os padres ou as irmãs não têm como se defender. É um dilema terrível. Servem o povo de Deus e para isso arriscam a vida quase todos os dias. E é por causa disto que o Padre Andrew pede ajuda à Fundação AIS. “Aqui usamos motocicletas para desempenhar as nossas funções e responsabilidades sacerdotais, mas não é de todo seguro”, explica. “No entanto, um automóvel oferece alguma forma de protecção. Peço, por isso, automóveis para transporte, para que possamos levar o Evangelho de Cristo, que fomos mandatados a levar para toda a nossa diocese e até mais além.” É este o desafio. É isto que nos pede. Automóveis que levem em segurança os padres a todas as aldeias. É apenas isto… Para quem arrisca a vida todos os dias, não é pedir muito, pois não?

Paulo Aido  | www.fundacao-ais.pt

 

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