Milhões de cristãos vivem em campos de deslocados na Nigéria
“A matança continua…”
O mundo parece ignorar o que se passa na Nigéria, onde grupos armados espalham medo, destruição e morte. Só na Diocese de Makurdi há cerca de dois milhões de deslocados internos. Muitos são cristãos. A situação é terrível. A maior parte não tem sequer uma esteira para dormir. O Padre Remigius está desesperado e pede a nossa ajuda.
Sexta-feira, 20 de Maio. Uma data que muitos não vão conseguir esquecer. Nesse dia, algumas aldeias da Diocese de Makurdi foram atacadas por pastores nómadas muçulmanos, os já temíveis fulani, que se têm vindo a transformar numa ameaça para as comunidades cristãs. Aproveitando o facto de muitos estarem nos campos a trabalhar, os fulani entraram nas aldeias e deixaram um rasto de destruição e morte. Tem sido assim ao longo dos últimos anos. Mas o Padre Remigius Ihyula não se consegue habituar a isto. Por mais ataques que aconteçam, por mais pessoas em lágrimas que tenha de abraçar, por mais funerais que tenha de fazer, o Padre Remigius não se consegue habituar. “Não imaginava que iria ver o sofrimento humano desta maneira… Aldeias queimadas, pessoas a serem mortas nas suas casas, algumas não conseguiram sequer enterrar os seus mortos que foram alvejados no mato como se fossem animais selvagens…” A ameaça está presente em todos o lado. “A matança continua”, diz, falando para a Fundação AIS. Percebe-se que está exausto. O Padre Remigius Ihyula não sabe já como lidar com tantas pessoas que perderam tudo o que tinham e que agora se amontoam em campos de deslocados, como se fossem apenas um número, uma estatística. Um problema que ninguém parece querer resolver. “Só na Diocese há dois milhões de deslocados internos que tiveram de abandonar as suas casas. Nos campos – explica o sacerdote – falta-lhes o essencial para viver.” As palavras saem em protesto, mas são sinal também de impotência.
Eloquência das lágrimas
Não tem sido possível acudir a todos os que chegam desorientados aos campos de acolhimento, ainda com o olhar cheio de medo, muitas vezes sem conseguirem sequer dizer uma palavra. Bastam as lágrimas, às vezes o choro compulsivo de quem perdeu familiares e amigos, de quem perdeu o marido ou a mulher ou os filhos. Nenhuma palavra tem a eloquência das lágrimas. Na Diocese de Makurdi, nos sete campos de deslocados que acolhem as vítimas do terrorismo na Nigéria, não há apenas pessoas enlutadas. Há também miséria, sofrimento, fome. “Consegue imaginar que pessoas que eram auto-suficientes tenham agora de mendigar para comer, para se alimentar?” Só na Diocese há cerca de dois milhões de deslocados. Este número enorme mostra a dimensão desta crise humanitária que o mundo continua a querer ignorar. Há dois milhões de deslocados, mas apenas cerca de 500 mil esteiras. “Estamos a falar de 1 milhão e pouco de pessoas que dormem directamente no chão” explica o sacerdote. Na Nigéria há um número gigantesco de pessoas que precisam de ajuda. São milhões as vítimas de grupos armados, dos fulani, mas também organizações terroristas como o Boko Haram, que querem impor um califado no norte da Nigéria, obrigando os Cristãos à servidão ou forçando-os a fugir. Que pode fazer a Diocese perante tanta miséria, perante uma avalanche tão grande de pessoas que se amontoam nos campos de deslocados e não têm recursos, não têm campos para cultivar, não têm trabalho? Que pode fazer a Diocese para alimentar tantos milhares de deslocados que têm fome e frio, que têm medo? “Eles vivem num círculo de desespero. O que procuramos fazer como Diocese é dar-lhes esperança. As pessoas sem esperança não conseguem existir durante muito tempo”, diz o Padre Remigius Ihyula. Não é fácil ser-se sacerdote numa diocese assim. Para onde quer que se vá, escutam-se sempre os mesmos lamentos, as mesmas histórias de violência e dor. É preciso que o mundo acorde para o que está a acontecer, é preciso que o mundo desperte da sua sonolência e compreenda que na Nigéria há milhões de pessoas em sofrimento. E muitos destes homens, mulheres e crianças em sofrimento são cristãos. “Os deslocados internos têm muitas necessidades. Mas pedimos que, se for possível, nos ajudem, seja de que forma for. Estamos a implorar a vossa ajuda…”
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt