2022: Ano negro para os Cristãos e para a liberdade religiosa no mundo
Balanço assustador
A Nigéria, em África, a China, na Ásia, e a Nicarágua, na América Latina, são países em destaque quando se olha para o ano que agora terminou e se procura perceber como foi a violência contra a Igreja em todo o mundo. O balanço é terrível. E a contabilidade faz-se de muitas formas.
Bianka Zaia, uma mulher cristã assíria de 38 anos de idade, foi detida pela polícia em Novembro e estará na prisão de Evin, nas imediações de Teerão, a capital iraniana. Ela foi detida “por ter participado em protestos de rua”, na sequência da morte de Masha Amini, em Setembro, pela chamada ‘polícia da moralidade’ do regime, por não estar a usar de forma correcta o véu islâmico. A sua situação, diz a AsiaNews, “fez soar o alarme”, pois ela está detida numa ala destinada a presos políticos, onde há o “uso generalizado de tortura psicológica e física, incluindo agressões sexuais”. Bianka Zaia foi presa na noite de 26 de Novembro quando “agentes à paisana invadiram a sua casa” e apreenderam diversos objectos, como o computador pessoal e telemóveis, “além de uma Bíblia e imagens religiosas”. O caso desta mulher iraniana é apenas um exemplo da repressão que se abateu sobre a comunidade cristã ao longo do ano passado. Uma repressão e violência que se traduziu em números trágicos. Nos 12 meses de 2022, houve o assassinato, pelo menos, de 17 sacerdotes e irmãs. De acordo com dados recolhidos pela Fundação AIS Internacional, só na Nigéria foram mortos sete sacerdotes. Quatro, no desempenho das suas missões na Igreja, e mais três após terem sido vítimas também de rapto. Em outros dois países houve também mortes violentas a registar. No México, três padres foram vítimas dos cartéis da droga que têm o país sequestrado pela crueldade e medo, enquanto na parte oriental da República Democrática do Congo dois sacerdotes foram baleados mortalmente também durante o ano que passou.
Mortos, presos, raptados…
O continente africano tem sido palco de muita desta violência contra a Igreja. Sinal disso, foi em África que perderam a vida quatro das cinco religiosas assassinadas em 2022 no desempenho das suas missões. A única excepção foi para o Haiti, onde a Irmã Luisa Dell’Orto foi morta a tiro em Junho. Todos os outros casos ocorreram em países africanos. As Irmãs Mary Daniel Abut e Regina Roba estavam no Sul do Sudão, em Agosto, quando foram mortas; a Irmã Maria de Coppi, foi assassinada na missão de Chipene, em Moçambique, em Setembro; e a Irmã Marie-Sylvie foi morta em Outubro, na República Democrática do Congo. Sinal também da violência contra a Igreja é o número elevado de raptos de sacerdotes e irmãs. Durante 2022, houve um total de 42 padres raptados em diferentes países, dos quais 36 acabaram por ser libertados. No Mali, continua desconhecido o paradeiro do missionário alemão Hans-Joachim Lohre, parceiro do projectos da Fundação AIS e que foi raptado em Novembro. Também continuam desconhecidos os paradeiros dos padres Joel Yougbaré, do Burquina Fasso, e John Shekwolo, da Nigéria, ambos raptados em 2019. Mas a Nigéria foi o país onde houve mais raptos. Foram 28 ao longo de 2022. Mas houve também raptos nos Camarões, Burquina Fasso, Etiópia, Haiti e Filipinas. Além de assassinatos e raptos há ainda a considerar as detenções. Na Ucrânia, por exemplo, dois sacerdotes da Igreja Greco-Católica Ucraniana que se encontravam a trabalhar em regiões ocupadas pela Rússia permanecem detidos e a Fundação AIS acompanha estes casos com preocupação. Ambos enfrentam acusações de terrorismo e há, por isso, o receio de que possam estar a ser torturados. Outro país no centro das preocupações é a Nicarágua. Onze membros do clero foram detidos ao longo dos últimos meses. Entre eles há, pelo menos, dois seminaristas, um diácono, um bispo e sete sacerdotes. D. Rolando Álvarez, Bispo de Matagalpa, que está em prisão domiciliária desde 19 de Agosto, começou a ser julgado a 10 de Janeiro, enfrentando a acusação de “atentado à integridade nacional”. Um julgamento que tem de ser acompanhado com atenção, pois este bispo representa, de alguma forma, todo o sofrimento da comunidade cristã na Nicarágua.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt