Num bairro de lata no Paquistão, nasce uma paróquia para os mais pobres
O primeiro padre
Nos arredores da imensa cidade de Rawalpindi, no Paquistão, a vida é dura, os Invernos são penosos, as pessoas tentam sobreviver. Num desses bairros de lata, onde os pobres são vistos quase como impuros, há uma pessoa especial. É um sacerdote que está a construir uma paróquia.
Os arredores da cidade de Rawalpindi estendem-se por quilómetros de um emaranhado de ruas, casas e barracas. Por ali vivem milhares de pessoas na mais absoluta pobreza. Falta quase tudo nesses bairros que circundam a cidade que viu nascer, ao lado, a capital do Paquistão. A vida é dura, muito dura, mas é num destes bairros que um sacerdote decidiu iniciar uma paróquia… David Anosh não é um padre qualquer. Normalmente, as pessoas tentam viver noutros lugares onde possa haver mais conforto, mais dignidade. Mas ele, não. Ele escolheu viver ali, entre os mais pobres, os que não conseguem abandonar aquelas ruas que no Inverno se transformam em lodaçais, onde correm, lado a lado, as águas das chuvas e os esgotos a céu aberto. O Pe. David não se deixou intimidar por toda aquela pobreza e fez nascer um sonho: erguer uma igreja para que ela possa estar sempre de portas abertas a todos, especialmente aos mais pobres, aos indesejados, aos que não conseguem viver noutro lugar que não os bairros de lata. “Esta é uma área muito carenciada”, explica perante as câmaras de filmar. “Existe um grande esgoto que passa no meio desta colónia. Toda a água vai para lá, mas passa pelas casas e pelas ruas das pessoas…” É o Pe. David que conta tudo isto a uma equipa da Fundação AIS. Ele explica como é a vida naquele bairro, naquele lugar onde ninguém deseja ir. “Devido à falta de água limpa, há mosquitos… Muitas famílias sofrem por causa do vírus do Dengue…”
Um sonho quase impossível
O bairro de lata onde o Pe. David sonha construir uma paróquia é quase só habitado pelos enjeitados da sociedade. As palavras do Pe. David não mostram revolta, mas também não estão pacificadas. “Não há gás. Não há rede de esgotos e não há saneamento, nada, e também não há água limpa.” Falta tudo o que confere dignidade à vida das pessoas. Os que conseguem trabalhar, limpam os escritórios e as casas dos mais ricos. Muitos outros, porém, apenas revolvem o lixo à procura de comida. Muitos destes homens e mulheres são cristãos. São os escolhidos do Pe. David. Ele não tem mãos a medir. O seu sonho é tão grande quanto a pobreza do bairro. “Estou a tentar estabelecer uma paróquia. Sou o primeiro pároco deste lugar. O povo está muito feliz. Lá em cima há uma pequena escola. As pessoas pobres não podem enviar os seus filhos para as escolas de Islamabad. Não têm como pagar.” Por isso, a escola do Pe. David não cobra quase nada. O maior investimento é no futuro daquelas crianças. “Nesta escola só há cristãos. Algumas das crianças são órfãs”, continua a explicar o Pe. David à equipa da Fundação AIS que está a realizar um documentário sobre a Igreja no Paquistão. O sonho do Pe. David parece quase impossível face à pobreza dos que moram por ali e face à própria dimensão diminuta da comunidade cristã. Mas este sonho é alimentado pela fé e a Paróquia de São João Paulo II, em Rawalpindi, vai vendo, aos poucos, a sua própria igreja a ser construída. Muito lentamente, é verdade, ao sabor das esmolas e dos sacrifícios da sua população, mas avançando. “Algumas pessoas deram 100 rupias [cerca de 1,23 euros], outras 50, mas é muito difícil…” Nos arredores da cidade de Rawalpindi a vida é dura, os Invernos são penosos, as pessoas tentam sobreviver. Num destes bairros de lata, onde os pobres são vistos quase como impuros, vive um padre especial que está a construir uma comunidade, abraçando os excluídos, vivendo com eles, partilhando os seus sonhos e dificuldades. O Pe. David Anosh precisa da nossa ajuda. Sozinho vai ser difícil construir a igreja. Vamos ajudá-lo?
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt