A cruz escondida

Paquistão: Uma menina cristã de 11 anos quer voltar a frequentar a escola

O dia mais triste

Tem apenas 11 anos. Dolly Bhatti é uma menina cristã paquistanesa. Frequentava o quinto ano numa escola pública quando o pai perdeu o emprego por ter adoecido e deixou de conseguir pagar as propinas. Resultado: proibiram a menina de frequentar a escola. “Foi o momento mais triste da minha vida.” Dolly não voltou à escola e agora até tem medo de andar nas ruas. Ela tem medo e pede-nos ajuda…

A vida de Dolly Sarwar Bhatti mudou quando o pai adoeceu. Andava cansado, sem forças, abatido. O médico diagnosticou-lhe hepatite. Como se não bastasse a doença, o patrão despediu-o, sem olhar para as suas lágrimas, sem reparar nas suas mãos vazias. A vida de Dolly Bhatti mudou radicalmente quando, aos 11 anos, frequentava a quinta classe. Na escola ninguém atendeu às súplicas dos seus pais, incapazes de poderem pagar as propinas para ela frequentar as aulas. E também ninguém reparou na sua tristeza. Ninguém quis saber. Como se a pobreza tivesse de ser castigada. “Esse foi o dia mais triste da minha vida”, conta-nos Dolly. “Foi o dia mais triste da minha vida porque adoro ir para a escola e gosto de estudar.” Desde esse dia que Dolly, assim como os seus dois irmãos mais novos, passam os dias em casa. Não vão mais à escola e têm medo de andar nas ruas. A vida de Dolly Sarwar Bhatti não mudou apenas quando o pai adoeceu. Tudo em seu redor começou a desmoronar-se. A violência que se tem abatido sobre a comunidade cristã não deixa ninguém sossegado. Muito menos ali, na grande cidade de Karachi, onde nasceu. “A cidade não é segura”, diz Dolly, explicando que “a maioria dos habitantes está ligada a grupos de terroristas e ao tráfico de drogas”.

Barril de pólvora

Se o Paquistão não é um país seguro para os cristãos, o bairro onde Dolly vive é quase um barril de pólvora. A ameaça é permanente. E ela sabe disso, apesar de ter apenas 11 anos. “Nestes dias, os cristãos não estão em segurança no Paquistão, sobretudo as meninas, as raparigas, por serem vítimas de violações e assassinatos.” Dolly tem tanto medo que deixou de sair de casa sozinha nem brinca mais na rua com as suas amigas. O pai de Dolly, doente e incapaz por isso de dar o sustento à família, mostrou como é tão frágil, tão periclitante a vida dos cristãos no Paquistão. São uma minoria e ninguém olha por eles. Desde há algum tempo que a Igreja onde Dolly costuma assistir à missa tem dois jovens à porta para revistarem todas as pessoas. É preciso evitar os atentados bombistas. É preciso evitar mais martírios. Dolly gostava de ser hospedeira de bordo. Mas ela olha para o seu futuro como um sonho impossível. “Se as crianças cristãs paquistanesas não estudarem, não poderem ter uma boa educação, nunca serão capazes de conseguir empregos respeitáveis e serão obrigados a fazer trabalhos humildes como varrer as ruas ou limpar sarjetas.” Como o seu pai… Dolly tem apenas 11 anos, tem medo e pede-nos ajuda. Não pede nada de concreto, como o pagamento das propinas da escola, ou comida lá para casa. Não. Ela pede-nos apenas ajuda, com as nossas orações, para transformarmos o mundo. É que o mundo que Dolly conhece é profundamente injusto. Como é que uma criança de 11 anos, que tem medo de sair sozinha de casa e de brincar com as suas amigas na rua, pode mudar o mundo que a aprisiona, que a diminui e maltrata todos os dias? Rezando. “As minhas orações favoritas são o Pai Nosso e a Ave Maria. Estas orações sempre me deram força. Se algum dia tivesse a oportunidade de falar com os líderes das nações, só lhes pediria que promovessem a paz no mundo. Nenhuma pessoa no mundo deveria ser assassinada à bomba ou por causa de acusações de blasfémia…” Dolly Sarwar Bhatti pede-nos ajuda. Será que esta menina não poderá um dia ver cumprido o sonho de ser hospedeira de bordo? Por que não?

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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