Naomi, Charles e Christopher: três histórias com refugiados na Nigéria
Nas mãos de Deus
O Natal é sempre mais triste quando se está longe de casa. Naomi e Charles viviam na Nigéria, em aldeias distantes um do outro, quando foram atacados pelo Boko Haram. Ambos estão agora em Pulka, um campo de refugiados onde vamos encontrar também o padre Christopher. Ele tenta ser, para todos, rosto de esperança…
Vivem no campo de refugiados de Pulka, na Nigéria, perto da fronteira com os Camarões. Naomi ainda hoje acorda de noite com pesadelos desde que foi forçada a fugir quando a sua aldeia foi atacada pelos terroristas do Boko Haram. O mesmo se passa com Charles, que passou noites ao relento com a mulher e os filhos com medo de serem assassinados, como aconteceu com muitos dos que viviam com eles. Naomi e Charles são apenas dois dos milhares de refugiados que o padre Christopher procura amparar todos os dias, oferecendo-lhes um ombro amigo, escutando as suas lágrimas. Ele conhece bem a tragédia que se abateu sobre Naomi e Charles. Ambos continuam a viver ainda autênticos pesadelos. Sonham com os terroristas que estão sempre a regressar, aos gritos e aos tiros, que estão sempre por perto. “Eu não quero que haja mais noite. As minhas noites estão cheias de medo, ansiedade, pesadelos”, diz Naomi. Ela vê-se a ser raptada, a ser violentada. “Fico assustada quando cai a noite.” Passa-se o mesmo com Charles. Tem 33 anos, é casado e quatro filhos. “Revivo o tempo em que vivíamos escondidos. Como os terroristas costumavam atacar à noite, saíamos de casa assim que a noite começasse a cair e escondíamo-nos no mato. Ainda sonho que estou escondido…” confessa à reportagem da Fundação AIS.
Mais precioso
Naomi, Charles e o padre Christopher estão em Alpha, um dos vinte campos que acolhem refugiados nigerianos no estado de Borno. A maioria dos que estão por ali são muçulmanos. A comunidade cristã é minoritária no norte da Nigéria, região que o Boko Haram quer transformar num “califado”. Todos os que não aceitam as imposições dos terroristas são perseguidos. Os cristãos pertencem ao grupo dos “infiéis”. São olhados com desdém, nem os padres escapam a esse ódio. O papel desempenhado pelo padre Christopher no campo de Pulka é essencial. Ele faz de confidente, amigo e até de enfermeiro quando isso é necessário. “O Padre Christopher é uma fonte de inspiração para nós”, reconhece Naomi. “Dá-nos coragem. É um verdadeiro pai para todos nós.” Também Charles sente-se agradecido. Agradecido ao padre Christopher e a todos os que, em todo o mundo, ajudam a Igreja da Nigéria a ser a mão amiga que se estende aos refugiados, a todos os que estão em sofrimento. Faltam poucos dias para o Natal. Naomi, se pudesse, pediria como prenda apenas comida para o dia-a-dia, tendas e roupa. Para Charles, a fé é o que tem de mais precioso. É na fé e no mais íntimo de si que descobre a força necessária para resistir, para dar uma vida nova à sua família. “As nossas vidas estão nas mãos de Deus. Estou cheio de esperança. Jesus Cristo é a minha salvação e é por isso que celebro o Natal.”
Paulo Aido