A cruz escondida

Cursos para casais da Fundação AIS são semente de esperança na Índia

História de Amor

Tinha 30 anos e três filhas quando compreendeu que era preciosa aos olhos de Deus. Com o marido, não. A sua vida era quase miserável. Pertencia aos ‘dalits’, os intocáveis, aqueles que a sociedade indiana ignora, que desconsidera em absoluto. O marido desprezava-a também por ser cristã. E quis afastá-la de Deus. Rasgou-lhe a Bíblia, proibiu-a de ir à Missa, agrediu-a. Mas aconteceu o improvável…

Ela tinha trinta anos mas parecia mais velha. Apenas o seu sorriso mantinha a graça da juventude. Tudo nela parecia gasto pela violência dos dias sem descanso, das lágrimas constantes, da desesperança. A história de Swetha já correu mundo quando a Fundação AIS, na Quaresma de 2019, falou dela como símbolo da tragédia que é nascer na Índia fora do sistema de castas. Swetha nasceu ‘dalit’. E como quase todos os ‘dalits’ nunca conheceu outra vida que não fosse a da pobreza, humilhação e violência. Swetha casou-se, teve três filhas e descobriu Deus. Ir à igreja, rezar e sentir-se abraçada passou a perfumar os seus dias, a alimentar as horas da sua vida. Até que o marido começou a desconfiar das idas à igreja, da Bíblia que lia a um canto, como se fosse um tesouro. O marido bateu-lhe e proibiu Swetha de ir à igreja. Mas ela encheu-se de coragem e foi falar com o pároco. E o padre conseguiu convencer o marido de Swetha a ir à igreja. E foi aí que aconteceu o improvável. Swetha e o marido conseguiram conversar como nunca tinham feito em toda a vida. Eles descobriram que ali, na Igreja, todos são iguais perante Deus e isso salvou-os. De facto, na Índia, a comunidade cristã confunde-se normalmente com os mais pobres, os analfabetos, os que pertencem às castas mais baixas, que a sociedade ignora mas que a Igreja tem procurado acolher de braços abertos.

 

Longo caminho

Mas é longo e árduo o caminho que ainda precisa de ser percorrido para a promoção social dos Cristãos que pertencem às minorias étnicas ou que fazem parte desse gigantesco grupo de seres desprezados na Índia, conhecidos como ‘dalits’ ou intocáveis. É longo e penoso esse caminho, mas tem de ser percorrido. Um pouco por toda a Índia a Igreja tem vindo a percorrer este caminho, semeando esperança. Devolvendo sorrisos. É o caso, por exemplo, da Diocese de Daltonganj. Situada no estado de Jharkhand, no leste da Índia, é um dos estados mais pobres do país. Quase metade da população vive abaixo do limiar de pobreza e muitos não sabem ler nem escrever. A Igreja tem procurado apoiá-los não só ao nível material mas também dando-lhes formação, criando o sentido de comunidade. Integrando. Uma das formas de fazer esse caminho é através de cursos de formação para casais, cursos são, muitas vezes, os únicos que dezenas e dezenas de cristãos frequentam em toda a vida. São quase retiros espirituais que ajudam a fortalecer a fé ao nível da família. Estes cursos para casais, como aquele em que participou Swetha e o marido, são uma extraordinária manifestação de vitalidade. Um pouco por toda a Índia, a Fundação AIS apoia as chamadas “Pequenas Comunidades Cristãs”. Em torno da Igreja, do pároco, dos catequistas ou das irmãs, juntam-se pequenos grupos para momentos de oração, mas também para a partilha de problemas, anseios e desafios. De curso em curso, de encontro em encontro, milhares de “dalits”, de invisíveis, descobriram que tinham voz, que não são inferiores a ninguém. Descobriram que são também filhos de Deus. Tal como Swetha e o marido. “O meu marido não sabia o que significava ser marido e eu não sabia o que significava ser esposa. Não sabíamos o que era o amor. Estas aulas transformaram o meu marido e salvaram o nosso casamento.”

Paulo Aido

 

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Agência ECCLESIA

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