A cruz escondida

México: violência contra sacerdotes não afasta os jovens dos seminários

Jovens sem medo

No México, um dos países mais perigosos do mundo para os padres, onde nos últimos anos se sucederam assassinatos, raptos e vários episódios de violência, os seminários continuam não só de portas abertas como a atrair vocações. É o caso do seminário Redemptoris Mater, na capital mexicana, onde oito jovens se preparam para o sacerdócio com o apoio da Fundação AIS. São jovens sem medo.

A notícia chegou rodeada de escândalo e estupefação. Um padre, Ambrosio Espinoza, com quase 80 anos, estava hospitalizado com “queimaduras de segundo grau nas mãos e nos pés”. Foi em Abril de 2019. O sacerdote tinha sido torturado em consequência de um ataque. Foi apenas mais um assalto violento no México, dos muitos que acontecem quase todos os dias e que têm colocado este país entre os mais violentos do mundo. Só nos primeiros dois meses desse ano de 2019, quando se deu a agressão ao Pe. Ambrósio, houve 5.649 homicídios. O México é também considerado como o país mais perigoso da América Latina para os sacerdotes. A notícia da agressão do Pe. Ambrosio Espinoza causou estupefação, pois ninguém imaginaria ser possível fazer mal, torturar, queimar as mãos e os pés de um homem com 78 anos. De um homem de paz. De um sacerdote. É difícil manter actualizada a estatística da violência no México contra a Igreja. Entre 1990 e 2017 foram assassinados 47 sacerdotes, um diácono, quatro religiosos, nove leigos e um jornalista católico. Durante estes 27 anos, foi também assassinado um cardeal. Foi a 24 de Março de 1993. D. Juan Jesús Posadas Ocampo estava no aeroporto de Guadalajara quando foi assassinado a tiro. Dispararam 14 vezes contra o seu corpo. A polícia veio mais tarde dizer que o arcebispo, uma das figuras mais populares da Igreja Católica de então, havia sido confundido com um traficante de drogas durante um tiroteio entre cartéis rivais.

 

Gesto de coragem

Num ambiente tão adverso, é difícil imaginar como o sacerdócio possa seduzir os jovens mexicanos. Mais do que uma escolha de vida, uma entrega aos outros, significa um gesto de coragem. Mas são inúmeros os exemplos que nos chegam da ousadia de jovens que querem entregar as suas vidas ao serviço dos outros, dos mais pobres e humildes. Na gigantesca cidade do México – a região metropolitana tem mais de 20 milhões de habitantes… –, existe um seminário, Redemptoris Mater que nasceu da vontade e do sonho de São João Paulo II. Os jovens formados nestes seminários são sacerdotes disponíveis para a missão em qualquer país. O mundo é a sua paróquia. Oito destes futuros padres são apoiados pela Fundação AIS. Uma ajuda que se tornou imprescindível por causa agora da pandemia do coronavírus. A diocese tem sido chamada a socorrer cada vez mais famílias que atravessam grandes dificuldades financeiras e os recursos para a formação dos seminaristas passaram a ser um problema também. O apoio da Fundação AIS tem permitido que o seminário se mantenha de portas abertas. Estes oito seminaristas sabem dos problemas, das dificuldades que a pandemia tem gerado e sabem também que os seus estudos têm prosseguido graças à solidariedade dos benfeitores da AIS. E agradecem. “Durante esta crise causada pela Covid-19, não deixámos de rezar por toda a humanidade, e especialmente pela AIS e pelos nossos benfeitores. São tempos difíceis, mas as dificuldades permitem-nos partilhar a Cruz de Cristo. Que Nossa Senhora de Guadalupe, a Estrela da Evangelização, recompense os benfeitores da AIS pela sua generosidade!” São oito jovens que sonham ser sacerdotes e estão disponíveis para partilhar as suas vidas com os mais necessitados. São oito jovens sem medo que nunca mais irão esquecer a solidariedade dos benfeitores da Fundação AIS…

Paulo Aido

 

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