A cruz escondida

CHADE: Padre denuncia risco crescente de islamização do país

Filho da guerra

Os cristãos são olhados cada vez mais como cidadãos de segunda no Chade. Isso vê-se nos negócios, no trabalho, na administração pública, nos casamentos e até forma desenfreada como se têm vindo a construir mesquitas por todo o lado. Até na estatística, o governo quer fazer crer que o país é muçulmano. Caminha-se para uma situação perigosa. O Padre Léandre lança palavras de alerta…

São inúmeros os sinais de tentativa de islamização do Chade, apesar de a comunidade cristã ultrapassar os 35 por cento. Isso vê-se nas mesquitas que foram sendo construídas em todo o lado mas sobretudo na forma subalterna como os cristãos são tratados pelo poder e são vistos pela sociedade. O Padre Léandre Mbaydeyo sabe bem do que fala quando refere estas ameaças. Os seus pais tiveram de fugir por causa da guerra. Um espectro que o acompanhou desde sempre. A viver actualmente em Paris, na Paróquia de Saint Ambrose, graças a uma bolsa de formação patrocinada pela Fundação AIS, o coração do Padre Léandre Mbaydeyo nunca deixou, porém, a sua terra, o seu país. Segundo este sacerdote, oriundo da Diocese de N’Djaména, há uma ameaça insidiosa sobre os cristãos do Chade. Uma ameaça que pode perverter o futuro da própria comunidade. “Os jovens muçulmanos foram encorajados a casar com mulheres cristãs para convertê-las e terem filhos muçulmanos…” Léandre sublinha que as tentativas de islamização do Chade foram particularmente visíveis antes da morte de Muammar al-Gaddafi, em 2011, quando a Líbia patrocinava a construção de mesquitas. “Construíram-se mesquitas em quase todos os lugares, até mesmo nas cidades cristãs do sul”, faz notar o padre numa entrevista a Thomas Oswald, da Fundação AIS. A queda do regime líbio significou um certo desagravamento desta realidade, mas não a sua extinção. As mesquitas ficaram e são hoje um símbolo de um poder que o próprio Estado quer ver materializado na sociedade.

 

Ameaça regional

As fronteiras do Chade mostram uma realidade regional onde o jihadismo militante é já uma ameaça às populações cristãs e aos muçulmanos moderados. Além da Líbia, que já financiou as mesquitas, o Chade tem como vizinhos o Egipto, o Sudão, a República Centro-Africana, o Níger, a Nigéria e os Camarões. Ninguém pode garantir que essas fronteiras porosas não sejam galgadas pelos homens de negro que fizeram da comunidade cristã um dos alvos a abater. “Todos estes países estão a atravessar tempos turbulentos…”, lembra o sacerdote. Mas se essa ameaça ainda parece algo difusa, o que se passa já no dia-a-dia revela-se algo de bem real. E intimida. “No mundo do trabalho, em particular, é mais fácil promover contratos comerciais quando se é muçulmano”, diz Léandre. “Por outro lado, é muito difícil para um muçulmano converter-se ao cristianismo, e aqueles que dão esse passo muitas vezes acabam por ser rejeitados pelas suas famílias.” A própria administração pública do Chade tende “a minimizar a importância” dos cristãos. “Na estatística oficial, o número de cristãos chadianos apresentados pelo governo baseia-se no censo de 1983. Eles querem que as pessoas acreditem que o Chade é um país muçulmano!”. O Padre Léandre Mbaydeyo costuma dizer que nasceu na guerra. Essa é uma memória que está escondida no seu ADN e que o leva sempre aos tempos em que os seus pais foram forçados a fugir da violência, dos combates fratricidas. Um medo que renasce agora face à ameaça terrorista galopante em quase todo o continente africano. “Eu próprio nasci longe da cidade natal dos meus pais, que tiveram que fugir por causa da guerra.” O futuro é incerto, ameaçador. A Igreja Católica é ainda jovem neste país e revela, apesar de tudo, ser muito dinâmica, com muitos baptismos, por exemplo. Mas quando olha para o futuro, o Padre Léandre percebe que é preciso cerrar fileiras. Nada que o atemorize. Afinal, diz este jovem sacerdote, “sou um filho da guerra…”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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